Em meio à Cúpula da Amazônia, realizada entre os dias 8 e 9 de agosto, o ator norte-americano Mark Ruffalo publicou uma mensagem em seu X (antigo Twitter) em português, dizendo que a política do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva “parte o coração” do ator. A razão para isso, segundo Ruffalo, deve-se à “emergência para proteger a Amazônia”, denunciada por Lula como um “neocolonialismo verde”.
Disse o ator em sua postagem:
“O senhor é um dos meus heróis, @LulaOficial, mas me parte o coração ver que a Declaração de Belém da #CúpuladaAmazônia não tem metas concretas para proteger a floresta.
A emergência para proteger a Amazônia é uma emergência climática – e nós não temos tempo a perder. Talvez o senhor pense que é impossível se comprometer dessa forma. Mas, nas palavras de um outro grande herói, Nelson Mandela: ‘Tudo parece impossível até que seja feito’.
Este é o momento de ser o próximo Nelson Mandela. SE o senhor puder.
Milhões de anos de uma evolução preciosa nos levaram até esse momento sem precedentes, quando semanas antes da Assembleia Geral, o senhor pode mudar o nosso destino.
Seja corajoso. Nós estamos com você – e estamos de olho. Vamos fazer isso.”
O “coração partido” deve-se à posição adotada por Lula, de denunciar o que chamou de “neocolonialismo verde”. Há tempos manifestando disposição para enfrentar a chantagem de cunho ambientalista, inclusive defendendo a exploração de petróleo na Margem Equatorial, medida bombardeada pelo imperialismo e seus serviçais no País. No caso específico do imbróglio envolvendo a Petrobrás e os “verdes” do governo (Marina Silva e o Ibama), Lula já deixou claro que apoia a exploração do petróleo pela ex-estatal, tendo dito recentemente que o povo do Amapá (sob cujo litoral o campo a ser pesquisado localiza-se) “pode sonhar” com as riquezas oriundas do petróleo.
“Não podemos aceitar um neocolonialismo verde que, sob o pretexto de proteger o meio ambiente, impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias e desconsidera nossos marcos normativos e políticas domésticas”, disse Lula no discurso de encerramento do evento. Há tempos a questão ecológica evidenciou-se como um pretexto para a intervenção imperialista nos países atrasados.
Quando direitistas escatológicos da estirpe de Bolsonaro denunciam o fenômeno, é fácil para o imperialismo neutralizar a crítica, uma vez que lideranças da extrema-direita tendem a ser histriônicos, do tipo que é facilmente ridicularizado. Com alguém como Lula, contudo, a situação é completamente diferente.
Líder operário surgido da mobilização da classe trabalhadora, Lula tem uma autoridade real sobre os trabalhadores e setores mais esquerdistas da classe média, mesmo nos países desenvolvidos. Por isso, quando o presidente expressa exatamente o tipo de política que o imperialismo não deseja ver prosperar no subcontinente, a fala precisa ser combatida.
Sobre o astro de “Hulk” e filmes do gênero, pouco se sabe além de suas posições relativamente típicas de esquerdistas próximos ao Partido Democrata nos EUA. Pesa a seu favor um apoio a Bernie Sanders nas eleições americanas de 2016 e declarações de simpatia ao britânico Jeremy Corbyn, parlamentar britânico da ala esquerda do Partido Trabalhista. Fora seu trabalho com produções da Disney (importante máquina de propaganda imperialista desde, pelo menos, a Segunda Grande Guerra), o ator não está, por exemplo, ligado a nenhuma organização, ao contrário de outro ambientalista famoso, o também ator Leonardo DiCaprio que com sua Rewild e diversas outras ONGs voltadas ao tema, claramente tem um alinhamento político muito articulado com o imperialismo no caso deste.
Ainda assim, a publicação de Ruffalo foi rápida e amplamente repercutida na imprensa burguesa, evidenciando o desejo do imperialismo por alguém que expressasse a crítica a Lula dita pelo ator. A esquerda não deve se impressionar com a reação do intérprete de Hulk, mas com o fato dos monopólios de comunicação golpistas do País apoiarem-na. Acima de tudo, deve atentar-se para o importante alerta dado por Lula sobre o “neocolonialismo verde”, que embora não esteja conceitualmente preciso, tem o sentido correto.