O ex-presidente Donald Trump, que no interior do Partido Republicano parece não ter adversários à indicação para concorrer ao cargo de presidente dos Estados Unidos nas eleições de 2024, novamente terá que comparecer a um tribunal, desta vez na cidade de Nova York. Trump prestará depoimento relativo a uma acusação de estupro, tendo como denunciante a escritora e jornalista Jean Carroll. A jornalista sustenta que Trump a agrediu sexualmente nos anos 90.
No início do mês, Trump já havia comparecido a um outro tribunal para prestar depoimento sob a acusação de manter registros comerciais falsos com a intenção de esconder o pagamento de US$ 130 mil (R$660 mil) à atriz de filmes pornô Storny Daniels, com o objetivo de ocultar um suposto caso que ambos tiveram em 2006. De acordo com a acusação, os pagamentos teriam ocorrido em 2016, pouco antes das eleições em que o ex-presidente norte-americano foi eleito.
Os dois comparecimentos à justiça em menos de 30 dias tiveram efeito imediato, fazendo com que a popularidade do ex-presidente subisse vertiginosamente, colocando-o como o mais credenciado para enfrentar o candidato a reeleição dos democratas, o atual presidente Joe Biden, cuja administração é cada vez mais repudiada por um número expressivo de norte-americanos.
O fato é que os processos ostentam características nitidamente persecutórias, que já estão rendendo dividendos eleitorais importantes para Trump nas próximas eleições.
Situação semelhante (guardadas as proporções) ocorre aqui no Brasil em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro, candidato representante da extrema-direita, derrotado nas eleições de 2022.
Bolsonaro deverá enfrentar processos na justiça que podem resultar em sua inelegibilidade para cargos eletivos. O ex-presidente é acusado de ilegalidades durante a campanha das eleições de 2022, por realizar uma reunião com embaixadores de diversos países e apresentar, sem provas, supostas “falhas” no sistema eleitoral do país.
Os processos contra Bolsonaro, no entanto, muito longe de se converterem em uma neutralização política do representante da extrema-direita, caso o ex-presidente venha a ser condenado, poderá (e é bem provável que tenha) resultar em um efeito contrário, ou seja, pode turbinar sua popularidade e até mesmo de outros nomes que se apresentem como sucessores do candidato direitista.
Nunca é demais lembrar que nas eleições o país se dividiu. Lula saiu vitorioso com somente pouco mais de 2 milhões de votos a mais do que os mais de 58 milhões de votos dados a Bolsonaro. Em bom português, isso significa que a direita e a extrema-direita estão muito vivas.
Nas próximas eleições, uma campanha marcada por apelos emocionais contra a perseguição, contra uma injustiça cometida contra um candidato que teve 58 milhões de votos pode muito bem conquistar corações e mentes.
Portanto, muito antes de sair por aí comemorando uma possível condenação de Bolsonaro, tornando-o inelegível, a esquerda nacional e as forças populares devem se articular para levar adiante uma luta não por ganhar no “tapetão” – a exemplo do que ocorre com Donald Trump nos EUA – mas usar a arma mais poderosa que a esquerda sempre teve, que é a mobilização popular, o enfrentamento nas ruas com a extrema-direita e a direita liberal. Esse é o embate decisivo e não nos tribunais, no parlamento e demais instituições.