Por que o PSOL e Boulos não dão peso para a luta em defesa da Palestina? Essa é a pergunta que André Barbieri, articulista do portal Esquerda Diário, editado pelo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), apresenta no título de seu artigo publicado no dia 6 de novembro. A resposta é tão óbvia que o que chama a atenção, na verdade, é o fato de o MRT ter dedicado um artigo inteiro, com mais de duas mil palavras, sobre o assunto.
Boulos e PSOL não “dão peso” – melhor dizendo, ignoram – a luta em defesa da Palestina porque este não é o seu programa. Simples assim. O PSOL, como federação de correntes políticas da pequena burguesia, e Guilherme Boulos, como representante desse partido, são figuras cujo programa não é a defesa da luta dos oprimidos, mas sim a defesa dos interesses do grande capital.
O MRT não consegue reduzir a questão a isso. Diz o autor: “para um partido que diz ter dezenas de milhares de filiados, além de 13 deputados federais, 22 deputados estaduais e vereadores em diversas cidades, levar algumas dezenas de militantes nos atos e alguma figura vez ou outra é um atestado de desimportância ao tema”. Esse tipo de crítica só faria sentido se o PSOL fosse um partido que costumasse levar milhares de pessoas às ruas em todos os momentos em que houvesse uma luta política importante.
Quantos milhares de militantes o PSOL levou às ruas durante a campanha pela liberdade de Lula? Quantos milhares de militantes o PSOL levou às ruas durante a pandemia de coronavírus? O “programa” do PSOL, no final das contas, é apenas uma agitação em baixa intensidade daquilo que a Rede Globo – e, portanto, o imperialismo – defende.
O PSOL é o partido que defendeu as “10 medidas contra a corrupção”, do ex-procurador Deltan Dallagnol. É o mesmo partido que apoiou a Operação Lava Jato! É o partido que, até hoje, se une ao MBL para “combater a corrupção”, como ficou claro no caso da PEC da Anistia.
Não causa surpresa alguma, portanto, a falta de “peso” do PSOL diante da questão palestina. O que justifica a ilusão do MRT de que o PSOL seria um partido “revolucionário”, que, neste momento, estaria adotando uma posição “equivocada”, é o fato de que, em 2016, no auge da campanha lavajatista que acabamos de descrever, o MRT lançou vários candidatos pelo PSOL, um ano após ter pedido ingresso no partido!
“Em 5 cidades, o MRT apresentou candidaturas pelo PSOL: Carolina Cacau no Rio de Janeiro (1842 votos), Diana Assunção em São Paulo (3590 votos, a 11ª mais votada do PSOL na cidade), Maíra Machado (1496 votos, a mais votada do PSOL no ABC e a 41ª vereadora mais votada da cidade de Santo André), Flávia Valle em Contagem (693 votos, a mais votada do PSOL na cidade e proporcionalmente a quinta mais votada da esquerda na região metropolitana de Belo Horizonte) e Danilo Magrão em Campinas (1009 votos, o 4º mais votado do PSOL na cidade). No Rio de Janeiro, durante o segundo turno, atuamos na campanha de Marcelo Freixo com um perfil anticapitalista, em combate frontal com o candidato Marcelo Crivella chegando a mais de 200.000 acessos no Esquerda Diário somente nesta cidade”.
A “crítica” do PSOL, portanto, aparece aqui como uma tentativa de defender o partido. Uma tentativa de dizer que Boulos e o PSOL sempre estiveram do lado certo, mas, circunstancialmente, neste caso, estariam errados. Assim como o PSOL tem uma cumplicidade com o Estado de Israel por não denunciar os seus crimes, o MRT tem cumplicidade com o PSOL por ser parte do mesmo fenômeno.
A grande crítica que o MRT apresenta ao PSOL e a Boulos é o fato de que o primeiro estaria dentro do governo Lula e o segundo estaria se preparando para as eleições municipais. O primeiro é uma óbvia tentativa de culpar o governo pelos erros do PSOL; o segundo, uma crítica bastante superficial do problema.
O problema central do PSOL é que se trata de um partido umbilicalmente ligado ao imperialismo. Um partido completamente tomado pelas ONGs, que, por sua vez, recebem financiamento direto da CIA e de especuladores como George Soros. Boulos não é diferente: ele próprio é apadrinhado por um “amigo pessoal” que dirige um instituto composto por figuras centrais no golpe de 2016, o IREE.
O MRT, com medo de que a crítica acabe recaindo sobre si, é incapaz de denunciar que Boulos e o PSOL são parte de uma esquerda filoimperialista, que está a todos os momentos defendendo os interesses dos inimigos do povo.