Os feitos de Pelé ultrapassam o mundo do futebol, havendo diversas curiosidades sobre o mesmo, inclusive histórias de sua atuação influenciando guerras. Uma dessas histórias é a passagem de Pelé por Beirute em 1975, durante um período de guerra civil, que trazemos aqui mais como curiosidade, visto que no futebol, pela imensurável contribuição do Pelé, é desnecessário exaltá-lo.
‘As aventuras do Rei Pelé em Beirute’
Após a Queda do Império Otomano o Líbano ficou em situação conflituosa, que apenas agravou-se com o passar das décadas e as movimentações dos povos regionais. Vários fatores, entre estes, principalmente o afluxo de refugiados mulçumanos palestinos, abriu uma oportunidade para a escalada da intervenção imperialista na região.
Na primavera de 1975, estava a ponto de eclodir uma guerra civil no Líbano, que realmente eclodiu, com primeiro confronto em 13 de abril. Justamente nesse período, numa visita de uma semana pelo New York Cosmos, time que defendia a época, Pelé teria jogado no time libanês Nejmeh, como goleiro.
Para o historiador Murilo Meihy a partida: “serviu como trégua aos grupos armados que disputavam o poder”. Já segundo reportagem da TV Globo: “Judeus, cristãos e muçulmanos esqueceram as diferenças para aplaudir e comemorar a entrada de Pelé em campo com a camisa da estrela vermelha de Beirute”. Completa “Seguidores de Maomé e de Jesus juntos em um só coro gritavam para Pelé: Deus da bola.”.
O incontestável, é que o L’Orient-Le Jour atesta o público de 35 mil pessoas na audiência da partida. E no ano de 1975, foram os dois primeiros conflitos com vítimas em 13 de abril, totalizando 34 (trinta) vítimas, neste ano só voltou a acontecer conflitos com mortos em 6 de dezembro. Este íltimo iniciado com o assassinato de 4 (quatro) membros das Falanges, descadeando a reação do Sábado Negro, tendo entre 200 a 600 baixas civis e milicianos.
Acordo diplomático entre o Congo e a República Democrática do Congo
Entre janeiro e fevereiro de 1967, o Santo realizou uma excursão pelo continente africano. Durante essa excursão a agremiação alvinegra travou amistoso no país do Congo e na República Democrática do Congo.
Os dois Estados passavam por uma crise diplomática, uma divisão fruto da intervenção imperialista da Bélgica e da França. O fato é que para realizar os amistosos, o Santos teve que negociar o trânsito entre as nações e acabou por estabelece um acordo pontual entre elas.
Cessar-fogo na Nigéria
A história de como uma partida amistosa na Nigéria em 4 de fevereiro de 1969, teria ocasionado um cessar-fogo na guerra de secessão local, tornou-se um mito. É cantada até hoje pela torcida do Santos.
É um fato que a Nigéria encontrava-se em conflito, a República de Biafra controlou uma região no sudeste do país, entre 30 de maio de 1967 a 15 de janeiro de 1970. Tanto que o amistoso realizado pelo time alvinegro não encontrava-se nos planos iniciais da delegação santista.
Nas palavras do jogador Toninho: “As luzes da cidade não eram acesas à noite. Tinha só a iluminação do hotel e a das casas. Lembro que eu perguntei ao gerente o porquê daquilo, e ele disse que era para evitar o bombardeio dos inimigos”.
Para o historiador Gabriel Pierin: “O período que o Santos jogou lá foi durante o período em que durou a guerra naquele lugar. Não se pode diminuir o episódio em função disso, afinal havia uma guerra.”
Já José Paulo Florenzano, é contrário a essa visão: “Se você perguntar, do ponto de vista do governo nigeriano, qual o interesse que ele teria de levar o Santos para uma cidade que ele não controla, na qual seria necessário negociar um cessar-fogo? Que tipo de mensagem isso passaria para a sociedade nigeriana e para o mundo? Seria um contrassenso, um absurdo em termos de propaganda de guerra”. O mesmo continua “Provável primeira notícia sobre essa história veio depois do tricampeonato da seleção brasileira, em 1970, quando o Santos estava excursionando pelos EUA. Um intérprete da delegação santista teria dito a um repórter americano que o Pelé havia sido responsável por parar a Guerra de Biafra. O próprio Armando Nogueira, apesar de reconhecer a força do craque e da equipe alvinegra, na ocasião dá a informação como folclore, exagero”.
Em resumo, sempre há uma questão de classes na interpretação do mundo. Mesmo que houvesse uma confusão quanto aos termos técnicos na fala do intérprete, ou um exagero na empolgação da torcida, tentar desmerecer a contribuição do Pelé é absurda, e acaba por servir aos interesses políticos do imperialismo.