Nessa segunda-feira (17), o jornal O Globo publicou um editorial intitulado ‘Neutralidade’ de Lula revela apoio tácito à Rússia atacando a posição do Brasil em relação à guerra na Ucrânia, aproveitando a ocasião da visita de Sergei Lavrov, ministro de Relações Exteriores russo, ao Brasil para fazê-lo.
“Os últimos movimentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à guerra na Ucrânia demonstram não a neutralidade que ele e o Itamaraty afirmam manter em relação ao conflito, mas uma posição tacitamente favorável aos interesses da Rússia. Ao assumi-la, Lula comete erros de ordem factual, moral e diplomática”, afirma o artigo do jornal golpista.
Com “últimos movimentos” – e o Globo explica posteriormente -, o editorial quer dizer as declarações que Lula deu na China, quando participou da posse de Dilma no Banco dos BRICS, e em Abu Dhabi, onde afirmou que “a decisão da guerra foi tomada por dois países”, algo que já disse no passado.
Seguindo usa orientação pró-imperialista, o jornal tenta desmentir a alegação de Lula. Porém, não consegue, limitando-se a reproduzir as denúncias farsescas de que Putin seria um criminal de guerra sem explicar porque ele seria o grande responsável pelo conflito no leste europeu.
O destaque do artigo, todavia, está no final. Após continuar declarando seu amor aos Estados Unidos, caracterizando Biden como “líder de uma democracia agredida por extremistas”, o Globo “alerta” Lula com um tom que mais aparenta ser uma ameaça, uma mensagem encaminhada dos patrões do Norte do jornal. Confira:
“A tradição de não alinhamento poderia ser seguida de modo mais produtivo em questões onde a voz do Brasil importa, como mudanças climáticas ou transição na Venezuela. Em vez disso, dentre quase 130 “neutros” no conflito ucraniano, o Brasil é o único que se meteu a criar um “clube da paz” e flerta abertamente com a Rússia. O perigo de provocar os americanos e europeus é evidente: Lula arrisca levar um tombo [grifo do DCO].”
Apesar de não ser uma declaração explícita de golpe, o que o Globo está fazendo é enviando “tiros de aviso” que revelam, antes de qualquer coisa, uma política cada vez mais agressiva por parte do imperialismo contra Lula. Nesse sentido, trata-se de uma série de aproximações sucessivas, especificamente dos Estados Unidos que, nos últimos dias, emitiram uma série de declarações criticando o posicionamento do governo brasileiro em relação a assuntos internacionais.
Finalmente, o editorial do Globo está certo em um raciocínio: apesar de, há algumas semanas, ter se reunido virtualmente com Zelensky, é extremamente razoável e cada vez mais inevitável afirmar que Lula está dando clara preferência aos russos.
Vejamos: o Brasil, em votações importantes em instâncias da Organização das Nações Unidas (ONU), ficou ao lado da Rússia e da China, como foi quando aprovou a abertura de uma investigação à sabotagem do Nord Stream e quando rejeitou as acusações de que o governo sírio estaria utilizando armas químicas contra seus próprios cidadãos.
Antes disso, o governo brasileiro não só negou o envio de armamentos e munições para a Ucrânia – medida pela qual foi sancionado pela Alemanha -, como também permitiu que navio iraniano atracasse em um porto nacional. Mesmo recebendo ameaças veladas por parte dos Estados Unidos que, depois, criticaram o posicionamento de Lula.
Ou seja, o imperialismo já estava de olho no Brasil quanto ao seu posicionamento. Agora que Lula está cada vez mais ousado, crescem as críticas contra o País. Algo que está provocando uma crise geral. Afinal, Lula já é, no que diz respeito à sua política internacional, um Hugo Chávez. Decerto que não é tão “barulhento” quanto Chávez, mas, na prática, faz o que o ex-presidente venezuelano faria.
Com isso, a situação se polariza cada vez mais, pois, de um lado, temos as maiores potências do mundo e, do outro, os principais países atrasados, tanto econômica quanto politicamente – o Brasil, a Rússia e a China, as maiores economias dentre os países oprimidos pelo imperialismo. Países que, principalmente unidos, podem causar grande instabilidade na ordem mundial e aprofundar a situação de hecatombe na qual se encontra o regime imperialista.
Apesar de que, agora, não existe uma ameaça imediata, fato é que um golpe contra Lula é simplesmente inevitável. O governo, eleito pelo povo contra a direita golpista que queria emplacar mais quatro anos de Bolsonaro, já deixou claro que quer atender os interesses dos trabalhadores brasileiros. Entretanto, diferente do que ocorre internacionalmente, Lula é tão sabotado pelas forças imperialistas e burguesas dentro do território nacional que não consegue levar adiante uma política mais progressista como faz em relação a assuntos internacionais.
Nesse sentido, é preciso mobilizar a tropa desde já. A medida que Lula tende à esquerda, a direita, aliada ao imperialismo, tentará derrubá-lo cada vez mais. Tanto de maneira institucional, paralisando o Executivo por meio de outros poderes, órgãos e empresas, quanto de maneira abertamente golpista. Aqui, não está distante a possibilidade de um golpe militar.
E a única forma de impedir que a esquerda seja, mais uma vez, derrubada do poder por um golpe, é por meio da mobilização popular. A classe operária é a única força capaz de enfrentar, política e fisicamente, as investidas da burguesia. E, quanto antes o governo entender isso, melhor para os povos oprimidos não só no Brasil, mas em todo o mundo.