Artigo “O levante de Wagner: um ponto de virada no curso da guerra”, publicada no sítio da Revista Movimento não poderia estar mais longe da realidade ao tentar descrever o que realmente aconteceu no ‘motim’ liderado por Yevgeni Prigozhin. Os autores da matéria demonstram estar muito bem alinhados com aquilo que pinta a grande imprensa imperialista: uma Rússia enfraquecida e mergulhada em uma grande crise.
Na verdade, diferentemente da Revista Movimento, a grande imprensa caiu logo na real e até se sentiu frustrada com a velocidade com o qual o imbróglio foi resolvido, esperavam uma ‘marcha sobre Moscou’, semanas de batalhas, muito derramamento de sangue, a queda de Putin e não foi assim que as coisas se deram.
Se, como diz o título da matéria, tivesse havido um “ponto de virada no curso da guerra”, a Ucrânia teria se aproveitado da situação na sua tão propagandeada “contraofensiva”, em vez disso, o Ministério da Defesa da Rússia diz ter matado 26 mil militares ucranianos.
Para esse grupo do PSOL, o MES (Movimento Esquerda Socialista), os problemas de Vladimir Putin apenas começaram.
Segundo diz o texto “Esses eventos deram início a uma nova dinâmica na guerra: uma dinâmica composta pela exaustão material das forças invasoras, uma crise na frente interna russa e um sinal visível para todos de que o regime de Putin não é onipotente”.
O trecho acima poderia ter sido retirado de qualquer outro órgão da imprensa capitalista e pró-OTAN, mas isso não deve causar espanto a ninguém, pois a própria fundadora do MES, Luciana Genro, foi defensora da Operação Lava Jato.
O grupo Wagner
A matéria diz, como é de fato, que o grupo Wagner é uma empresa militar privada. No entanto, existem empresas assim agindo no mundo todo, inclusive do lado da Ucrânia. O tom cômico é que os autores da matéria fazem questão de chamar Prigozhin de “um criminoso que se tornou oligarca e amigo íntimo de Putin”, e ainda: “um ator desonesto especializado em provocações, assassinatos e todo tipo de coisas obscuras”. Talvez, para o MES, os outros grupos, os do lado da OTAN, sejam compostos e dirigidos por pessoas do bem que fazem tudo às claras.
O fato é que Moscou colocou Prigozhin contra a parede, precisava acertar a relação com o Grupo Wagner porque existem implicações legais para o caso de combatentes serem capturados. Putin estabeleceu um perímetro de 200 km da capital para que a tropa se detivesse, ou atacaria; e todos sabem que Prigozhin seria esmagado. Porém, isso seria um desgaste político enorme, uma vez que a tomada de Bakmhut transformou esses soldados como heróis para parte da população.
Em pouco tempo a situação foi contornada; e não, importa o que digam, Prigozhim teve que entregar as armas, conforme noticiamos (leia). Apesar disso, o artigo cita que “Putin foi incrivelmente enfraquecido. Desde os primeiros dias de seu governo, havia uma determinação e uma brutalidade muito fortes no estilo político de Putin. [Com a rebelião do grupo Wagner, ele se expôs como um rei sem roupas. Mesmo que tudo isso não passe de uma ilusão externa e tudo permaneça internamente sob seu controle, essa ilusão foi percebida por todos os observadores, o que não pode deixar de representar um golpe em seu poder”.
Esquerda filoimperialista
O MES é mais um grupo que se junta a tudo aquilo que divulga a imprensa imperialista. Para qualquer evento vê uma crise terminal no regime russo.
A crise com o grupo Wagner, ainda que tenha sido um momento delicado, foi administrada pelo governo Putin, boa parte dos combatentes estão fazendo acordos diretamente com o exército. Prigozhin, que vinha se tornando um problema, pois criticava figuras do Ministério da Defesa, foi posto de lado.
O final do artigo faz um chamamento estranho à esquerda “Teremos que ver o que os trabalhadores e a juventude, especialmente das nações oprimidas dentro da federação russa, farão, e se existe a possibilidade de mobilizações, como na Geórgia, para que o arranhão do regime se transforme em gangrena. A chave para tudo isso será o desenvolvimento da contraofensiva ucraniana em andamento”.
Se depender da contraofensiva do regime nazista de Zelensky, o MES precisa perder as esperanças, pois as tropas e os blindados estão sendo dizimados. O sistema Patriot, os blindados Leopard (alemão) e Bradley (americano), que juraram dar um novo rumo para o conflito, estão dando uma bela fogueira.
O que nos chama a atenção nessa matéria, além do erro grosseiro de avaliação do MES, é sua retórica completamente alinhada com o imperialismo, por isso escrevem que “a participação ativa em iniciativas de solidariedade, como a Rede Global de Solidariedade com a Ucrânia e os vários comboios de ajuda aos trabalhadores, bem como o apoio aos socialistas na Ucrânia, na Rússia e no Leste Europeu são estratégicos”.
A esquerda revolucionária
Neste momento, em que o Brasil também sofre uma grande pressão do imperialismo, é importante desmascarar esses que se pintam de esquerda, mas que estão do lado dos nossos inimigos, aqueles que estão mandando “comboios” de armas para a Ucrânia, incluindo munição com urânio empobrecido e bombas de fragmentação.
Essa esquerda que já apoiou a Lava Jato, e que agora se alinha abertamente ao imperialismo, seguramente apoiará um golpe no Brasil, e isso já se desenha no horizonte, pois os imperialistas estão descontentes com a ação do governo Lula, que quer os combates se encerrem e se negocie a paz, o que contraria os interesses do grande capital.
A classe trabalhadora, na sua luta contra a burguesia, precisa saber detectar as forças reacionárias, pois elas estão também infiltradas dentro da esquerda e precisam ser combatidas.