Rafael Correa, ex-presidente do Equador (2007-2017), esteve em São Paulo na semana passada e participou de um evento no Armazém do Campo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na noite da última quinta-feira (30).
O líder da esquerda equatoriana concedeu uma rápida entrevista à reportagem do Diário Causa Operária, devido ao forte esquema de segurança organizado, ao que tudo indica, pelo PSOL (com articulação do seu próprio presidente, Juliano Medeiros). Embora Correa tenha se mostrado extremamente solícito, não foi permitido a nenhum jornalista entrevistá-lo e nosso repórter teve de arrancar os depoimentos na marra (inclusive, sendo imobilizado para encerrar as perguntas).
Correa denunciou a destruição promovida sem seu país por Lenín Moreno (que o traiu após sucedê-lo) e Guillermo Lasso (atual presidente que sofre o início de um processo de impeachment), bem como a perseguição contra Julian Assange, fundador da Wikileaks, que recebeu asilo político na embaixada do Equador em Londres durante a presidência de Correa, mas foi entregue ao imperialismo por Moreno. “Como se pode punir um jornalista por dizer a verdade e denunciar um crime de guerra?”
Exilado na Bélgica após o golpe sofrido por parte de Moreno, Correa ainda não pode regressar ao Equador, sob risco de ser preso. Contudo, embora ainda não tenha anunciado sua candidatura para as eleições (que só ocorrerão em 2025, caso Lasso não saia antes), demonstrou na entrevista uma clara intenção de voltar a ocupar o cargo.
Diário Causa Opérária: O senhor acha que Guillermo Lasso tem de deixar a presidência?
Rafael Correa: Mas claro que sim! Eu acho que ele já está fora. Esse homem foi uma fraude democrática. Tentaram nos convencer que democracia é colocar qualquer farsante por quatro anos. A democracia é um mandato que o soberano, aquele que manda, o povo, elege nas urnas o mandatário que deve cumprir seu dever, não para fazer qualquer coisa. E se ele não cumpre esse dever, nós temos mecanismos constitucionais para solucionar esse problema. Aqui, quem rompeu com a democracia foi Lasso, ao trair o povo, ao enganá-lo e ao demonstrar uma imensa inaptidão que terminou de destruir o país, após essa destruição ter sido iniciada por Moreno, através dos mais graves casos de corrupção. E no Equador nós temos mecanismos constitucionais para solucionar esse problema. E o problema não é o julgamento político, mas sim Lasso.
DCO: Se voltar ao poder, o que o senhor faria de diferente?
Rafael Correa: O que fizemos entre 2007 e 2017, quando convertemos, entre muitas outras coisas, o Equador no segundo país mais seguro da região. Isso foi resultado, obviamente, de uma política de segurança institucional, com uma polícia moderna subordinada ao comando civil. Mas, sobretudo, essa segurança foi fruto do desenvolvimento humano, que o neoliberalismo destruiu. Hoje somos um dos países mais violentos da América Latina e, seguindo essa tendência, enquanto às mortes violentas, terminaremos 2023 como um dos 15 países mais violentos do mundo. Então, o que fazer? As políticas tão exitosas que foram praticadas de 2007 a 2017 (e não só no Equador, muitas dessas políticas também foram implementadas aqui no Brasil, onde saíram 32 milhões de brasileiros da pobreza sob o governo do Partido dos Trabalhadores): se Deus quiser essas políticas voltarão.
DCO: O senhor integraria o Equador ao BRICS?
Rafael Correa: Bom, o Equador não tem tamanho para fazer parte do BRICS. Essas são as grandes economias emergentes. O que é claro é que é preciso resgatar a integração regional, a Unasul e a Celac.
DCO: Acredita que está mais radical depois do exílio?
Rafael Correa: Sim, claro. O problema da vida é que quanto mais experiência você tem, mais próximo da morte você está. Mas sempre se ganha experiência.