Após dois meses desde a ofensiva palestina liderada pelo partido Movimento Resistência Islâmica (Hamas), a defesa dos grupos armados de luta pela libertação da Palestina continua sendo acusada pela direita como uma expressão de “antissemitismo”. Uma série de ataques ao Partido da Causa Operária (PCO), o principal apoiador do Hamas e demais grupos guerrilheiros palestinos no País, procuram reforçar esse estereótipo, como uma forma de intimidar a grande parcela da população e sobretudo da classe trabalhadora, que tende a apoiar a mobilização palestina, mas fica acuada diante da campanha histérica e bolsonarista promovida pelos sionistas.
O objetivo não é outro, mas silenciar a solidariedade natural da esquerda e do proletariado com o povo palestino, para, assim, atacar mais duramente o povo árabe e manter o Oriente Médio sob controle. Desta forma, o alarmismo e as diversas denúncias de “crescimento do antissemitismo” nada mais são do que a tentativa torpe dos sionistas, promotores do martírio do povo árabe, para manter o infanticídio em escala industrial e a chacina dos palestinos.
Ameaças de morte e de prisão contra militantes do PCO cumprem também o papel de colocar na defensiva setores que, em outras circunstâncias, estariam também apoiando a campanha do Hamas, o que implica quase a totalidade da esquerda brasileira. Tradicionalmente simpáticos ao heroísmo de quem luta contra o imperialismo, pelo menos, desde a Revolução Cubana, a esquerda brasileira evidencia uma grande dificuldade em apoiar os movimentos guerrilheiros palestinos, o que não é outra coisa além do resultado da grande pressão exercida pelo imperialismo contra os partidos que até pouco tempo atrás, enalteciam a luta dos negros pelo fim da escravidão no País, a Revolta da Chibata liderada por João Cândido, as guerrilhas que agiram contra a Ditadura Militar brasileira (1964-1985), entre outras demonstrações de heroísmo que pululam na rica história do Brasil.
Mesmo pessoas que não concordam com todas as posições do PCO, como Michel Gherman, professor do curso de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do Instituto Brasil-Israel, destaca que “a discordância com o sionismo não é necessariamente sinônimo de antissemitismo, mas que os dois discursos constantemente coincidem. Se por um lado há uma corrente de questionamentos em função dos abusos de direitos humanos cometidos por Israel, e que defende soluções moderadas para o conflito local, há também quem defenda o extermínio ou o desamparo à população judaica na região”, conforme reportagem do portal Congresso em Foco sobre materiais de agitação política distribuídos pelos militantes do partido trotskista (“Estudantes judeus relatam receber propaganda antissemita na PUC de SP”, Lucas Neiva, 28/10/2023).
Ao sítio, Gherman diz: “Se a resposta for o extermínio ou a exclusão dos direitos desses judeus, estamos falando de antissemitismo claro. O problema é que, no momento em que vivemos agora, juntamente a esta charge [“um judeu entrando na casa de um suposto palestino com uma cópia da Torá em uma mão e uma espingarda nas costas, apontando para o livro e dizendo ‘diz aqui no meu livro sagrado que esta casa é minha’”, esclarece a matéria em parágrafo anterior], estamos imaginando que a resposta [ao conflito] é menos importante, o mais importante é a promoção do ódio, e nesse caso com um alvo específico, que é o judeu”, conclui o acadêmico ao sítio burguês, fazendo uma interpretação livre e ultra-extensiva do conteúdo da charge do artista Jota Camelo, assim como do material.
É curioso que Gherman reconheça a diferença entre antissionismo e antissemitismo, mas insista em dar o golpe tradicional dos sionistas, de escudarem-se das denúncias e críticas à barbárie cometida por Israel contra o povo palestino como um ato “antissemita”. Ao “imaginar” e acusar o material do PCO de “promoção do ódio”, ainda que o material atacado – como destaca Congresso em Foco -, não faça “uso do termo ‘judeu’”, mas “fala constantemente sobre a hostilização ao sionismo (o que foi reconhecido pelo professor de história como algo diferente de antissionismo)”, tanto o acadêmico, quanto o sítio contribuem para intimidar setores da esquerda ideológica e politicamente mais frágeis diante da pressão sionista, o que não acontece com o partido trotskista.
Não se trata de algo localizado, perpetrado pelo professor da UFRJ, mas do próprio método sionista para manter em marcha a limpeza étnica que empreendem contra os árabes de conjunto, na Palestina e em todo Oriente Médio. Trata-se de uma chantagem com a qual a esquerda não pode vacilar ou postar-se na defensiva. É preciso enfrentá-la e horar, mesmo que minimamente, a valentina dos árabes que lutam pela libertação da Palestina e contra a opressão global do imperialismo, a máfia que organiza o Estado de Israel.
Os setores da esquerda que caem nessa fraude, não contribuem para o avanço da luta pelo fim da opressão dos palestinos, pelo contrário, terminam por apoiar o fortalecimento do martírio sofrido pela Palestina. Tampouco contribuem, cedendo à chantagem sionista, para o fim da opressão sofrida pelos trabalhadores brasileiros pela ditadura global dos monopólios imperialistas. É preciso uma guinada radical nessa política.