A política brasileira virou um verdadeiro circo. Há poucos dias, víamos a palhaçada que foi a tentativa de enquadrar a lenda do rock Roger Waters como um nazista por fazer uma crítica performática ao nazismo em seus shows e por criticar o que há mais próximo do nazismo nos dias de hoje, que é o Estado de Israel. Agora, o apresentador Monark teve suas redes sociais bloqueadas por questionar a atuação da Justiça Eleitoral.
Ambos os casos apresentam alguns elementos em comum. O primeiro é o clima histérico, apelando para os instintos mais baixos e irracionais da sociedade, como forma de passar por cima de qualquer discussão racional. Da noite para o dia, um crítico histórico do nazismo passou a ser nazista e ninguém foi atrás de saber por quê. De uma hora para a outra, um rapaz que não tem apreço algum pelo fascismo passou a ser considerado como uma pessoa que estaria fomentando golpes de Estado.
A histeria, ao mesmo tempo que elimina qualquer discussão sobre o mérito das acusações, também ignora por completo as consequências das medidas judiciais que estão sendo tomadas. Fosse Roger Waters simpatizante do nazismo ou quisesse Monark um golpe de Estado, ainda assim, nenhuma sanção aos seus direitos democráticos deveria ser tolerada. Afinal, o “nazista” é um ser humano como qualquer outro.
O segundo elemento importante é o apelo de tipo identitário feito à esquerda pequeno-burguesa. O grande argumento para censurar Roger Waters seria a defesa das “minorias”- uma defesa que não passa de pura política repressiva travestida de demagogia com setores oprimidos. A verdadeira defesa dos oprimidos é a defesa que faz Waters: o fim do Estado de Israel e do regime de Kiev. O mesmo vale para Monark. O rapaz vem sendo perseguido há mais de um ano por defender o direito de qualquer pessoa fundar um partido, mesmo que essa pessoa seja contrária aos interesses dos oprimidos. A base para a perseguição, portanto, é a mesma: a esquerda pequeno-burguesa acha que Monark não deveria ter direitos porque não concorda com o que ele diz.
O terceiro elemento, por fim, é o envolvimento do Judiciário nesses casos. O Judiciário é o poder mais antidemocrático que existe, uma vez que não é controlado minimamente pela população. O povo não elege os juízes, nem têm como controlar a sua atuação.
A atuação criminosa do Judiciário, bem como o apoio da esquerda pequeno-burguesa a essa atuação são resultado direto do golpe de 2016, quando o regime foi alterado conscientemente, por parte do imperialismo, para impor uma ditadura contra a população.
Um argumento ridículo que vem sendo levantado pelos defensores da censura a Monark é o de que combater o “discurso antidemocrático” seria defender a “democracia”. O que acontece, no entanto, é que o que está sendo defendido não é a “democracia”, mas o Estado. Monark está sendo punido pelo “crime” de contestar o Estado – o que é, em si, a definição de uma ditadura. Se o Estado não pode ser contestado por seus cidadãos, é um Estado montado para agir contra eles.
Contestar a atuação do Estado não tem nada de antidemocrático. Quer achar o Estado maravilhoso, tem todo o direito de dizê-lo. Quem achar o contrário, também o tem. Falar não mata, nem agride ninguém. A censura, por sua vez, tem um resultado bastante concreto: garantir que os poderosos controlem completamente o regime e imponham os seus interesses ao conjunto da população.