Na última quarta-feira (18), a Microsoft e o Google anunciaram um grande volume de demissões. A primeira afastou 5% de seu efetivo – 11.000 trabalhadores – enquanto a segunda, 12.000, aproximadamente 6% de seu quadro mundial. As gigantes da tecnologia não atuaram isoladamente. A Amazon, responsável pela maior plataforma de comércio digital do mundo e por seus serviços de computação em nuvem, demitiu 18.000 funcionários. Se isso representa apenas cerca de 1% de seu efetivo total, que inclui trabalhadores horistas que atuam em seus enormes centros de distribuição, é mais de 6% dos trabalhadores de colarinho branco, os afetados por essa onda de demissões. Finalmente, a menos conhecida (mas não menos monopolista) Salesforce demitiu 7% de seus empregados, 8.000 pessoas.
Mas se as gigantes estão buscando enxugar seu quadro global de funcionários, as pequenas as seguem. O quadro econômico é crítico e, especialmente com aumento significativo nos juros tanto nos EUA como na Europa, os especuladores migram para aplicações mais seguras enquanto os acionistas pressionam para que essas empresas mantenham sua lucratividade das últimas décadas. No ano passado já havíamos dedicado uma coluna ao tema, na ocasião em que a Meta, empresa que controla o Facebook, o Whatsapp e o Instagram, havia cortado 25% de seu quadro de funcionários. Na época, mencionamos Microsoft e Amazon, que agora reincidiram nas demissões em massa.
Este mês de janeiro, porém, destacou-se do ano passado, até mesmo do terrível mês de novembro, numa demonstração de que talvez ainda não tenhamos atingido o pico das demissões. A estimativa é de que mais de 1.600 funcionários por dia tenham sido demitidos neste mês, em escala global. Os dados podem ser conferidos na plataforma Layofftracker.com, para a qual programadores enviam reportagens ou outras informações que confirmem as demissões.
A queda na taxa de crescimento das empresas de tecnologia não se relaciona apenas com os juros. A inflação, a qual a alta nos juros visa combater, devorou o poder de compra dos consumidores que, não importando quantos comerciais vejam nas redes sociais e plataformas digitais, não têm mais condições de comprar tudo o que desejam. Ademais, apostas especulativas como avanços em inteligência artificial – que até o momento é essencialmente utilizada para propaganda e censura – ou o advento do metaverso (rede social imersiva acessada por óculos de realidade virtual) passaram longe de atingir as expectativas de seus financiadores.
Surpreende o fato de pouco se comentar na imprensa sobre a decadência vertiginosa do setor mais lucrativo da economia capitalista contemporânea. É um claro sinal de recessão econômica à vista, algo que já podia ser detectado pela estagnação econômica acompanhada de inflação.
Surpreende também, especialmente a mim como um integrante da categoria, a falta de reação dos programadores e outros trabalhadores da área de tecnologia. Fomos muito beneficiados pelo crescimento especulativo das empresas a que servimos, atuando num mercado de trabalho onde havia, praticamente, o pleno emprego. Era possível negociar bons salários pela escassez de mão-de-obra, que agora, com essas centenas de milhares de demissões, deve se transformar num excesso.
A falta de organização vai custar caro à nossa categoria nessa fase de proletarização, mas isso é um tema que retomaremos na próxima semana.