O propósito das empresas, nas campanhas salariais dos trabalhadores, ao assinar acordos bienais, é a tentativa de imposição que não leva em consideração as necessidades dos trabalhadores. Negociar anualmente já foi uma derrota imposta pelos patrões aos trabalhadores, que devem lutar para negociar sempre que houver necessidade. A ampliação desse período para dois anos é a tentativa de impor uma derrota sem precedentes aos trabalhadores, que devem ter a clareza de que uma vez mudada a regra torna-se muito difícil reverter esta realidade.
Os acordos bienais, além de representarem um atentado contra as condições de vida dos trabalhadores e contra seu direito individual e coletivo de reivindicar melhorias, também atentam contra a própria razão de existência dos sindicatos, a quem – inclusive na perspectiva estreita do ponto de vista legal – “cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria” (Art. 7º da Constituição Federal) e devem ter como principal função lutar pelas reivindicações dos trabalhadores, quando for necessário: todo dia, toda semana, todo mês, todo ano, etc.
Nesse sentido, um dos grandes problemas a serem enfrentados no interior do movimento dos trabalhadores é o problema das suas direções políticas. As condições de vida dos trabalhadores decaem, suas conquistas são arrancadas pelos patrões e seus representantes nas instituições do Estado, não porque o movimento em si seja fraco ou porque não esteja suficientemente organizado – embora haja, logicamente, muito para se fazer no que diz respeito à organização – mas acima de tudo pela orientação confusa das direções deste movimento poderoso e das grandes organizações sindicais.
Esta orientação deformada, por outro lado, não é mero produto da inexperiência ou da ignorância. O movimento em geral sindical está condicionado por interesses alheios aos seus objetivos de classe. A política de direções como o PT, o PCdoB, PSOL e o PSTU não são meros produtos da falta de experiência, mas dos interesses sociais que estes partidos defendem, em particular da sua vinculação com setores da burguesia.
Os últimos acordos salariais bienais das diversas categorias mostram com particular clareza que todos estes setores de esquerda formam um verdadeiro sistema de contenção, de muitos braços, que atuam contra a independência dos sindicatos em relação aos patrões e contra o seu pleno desenvolvimento.
Poderíamos citar diversos exemplos onde as direções sindicais passaram a defender o acordo bienal que somente trouxe mais ataques aos direitos e conquistas dos trabalhadores, como, por exemplo, os trabalhadores dos Correios em que o acordo bienal foi uma ferramenta no sentido de acelerar a pavimentação na tentativa da privatização da empresa, ou mesmo dos trabalhadores em processamento de dados (Serpro, Dataprev, bancários, dentre outros), os acordos bienais foram utilizados para arrochar os salários e demitir trabalhadores.
Os acordos bienais vêm justamente para, depois de fechadas as negociações, os patrões imporem – sem luta – um violento retrocesso aos trabalhadores, não apenas com o arrocho salarial, mas também com demissões em massa, aumento das terceirizações, privatizações, sobrecarga de trabalho, etc.
Uma das questões fundamentais para os trabalhadores é justamente combater essa política de capitulação das atuais direções das organizações dos trabalhadores, através de mobilização nas ruas, com a perspectiva de uma direção classista e de luta que represente de fato os interesses da categoria. Unir todos aqueles dispostos a agrupar um ativismo, contra os patrões e seus asseclas, que, de fato, organizem uma mobilização que represente os interesses e a vontade das bases das categorias.