Com alarde e destaque na imprensa, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, anunciou na última sexta-feira (29) a realização uma operação conjunta das forças repressivas do Estado com as do governo federal, a pretexto de combater uma facção criminosa que atua no Complexo da Maré.
O anúncio foi feito após o governador ter se reunido com o secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, que – também na semana passada – saiu em defesa das criminosas “operações” da Polícia baiana nas quais morreram mais de 70 pessoas, apenas no último mês de julho.
Os detalhes dessa tenebrosa parceria ainda não tinham sido divulgados quando fechamos esta edição do Diário, mas a expectativa era de que as operações na Maré deveriam contar além com a participação de homens da Força Nacional de Segurança e da Polícia Rodoviária Federal, além da Polícia Militar e Civil.
Maré, uma comunidade operaria sob ameaça
O Complexo da Maré é um conglomerado de pequenos bairros, favelas e pequenos bairros que abriga cerca de 150 mil pessoas, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Está situado entre duas grandes vias (Avenida Brasil e Linha Azul) e possui em seu interior uma vasta rede de estabelecimentos comerciais e conjuntos habitacionais. É, portanto, um tradicional bairro operário, que por centenas e milhares de vezes foi alvo de “operações” policiais que resultaram na morte de civis, incluindo mulheres e crianças.
Não é a primeira vez que esse tipo de ação conjunta tem como alvo a comunidade. Em 2014, por exemplo, o governo do Rio pediu ajuda ao Exército para ocupar as 16 favelas, o que acabou servindo de largada para a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que, após anos de violentos ataques contra a população pobre e trabalhadora, nas favelas e bairros operários, acabaram sendo fechadas.
O pretexto, desta vez, foi a divulgação feita pela imprensa de uma suposta investigação da Polícia Civil que captou, com o auxílio de drones, imagens de supostos criminosos armados realizando treinamentos em um centro de lazer no complexo de favelas.
Segundo declarações do governador na imprensa, “não haverá uma ocupação, serão incursões e asfixia a essas atividades criminosas”. Ele acrescentou ainda que “será uma operação baseada no que a inteligência disser que tem que ser feito, com os equipamentos necessários e com a integração necessária. Sobretudo com muito uso de tecnologia. E estamos criando um comitê permanente integrado, para que as inteligências [estaduais e federais] possam trocar informações”.
O declarado objetivo desta operação seria “prender líderes da facção criminosa”. No entanto, o aviso pela imprensa e todo o estardalhaço feito antes pelo governo, além de oferecer a oportunidade para que tais “líderes” se escondam ou se retirem, temporariamente, da comunidade, mostra que está sendo montado um certo contra a população da Maré, que não tem e nunca teve razões para confiar na polícia que vive em guerra contra o povo pobre e trabalhador, de maioria negra, na cidade e em todo o País.
Cobertura
Conforme o secretário do MJ, Ricardo Capelli, a ação do governo federal visa apoiar o governo do Rio no que for necessário. Como que ignorando que o reacionário governo bolsonarista de Castro é um ferrenho defensor da política de repressão e massacre do povo trabalhador e cotidianamente ensossa as ações de massacres e chacinas levadas adiante pelas polícias cariocas, o representante do ministro Flávio Dino faz propaganda da ação, alegando que se trata de combater o “crime organizado”. Segundo ele, “isso ainda vai ser definido num planejamento, mas a Força Nacional vai cumprir papel de retaguarda, de apoio”. O que significa que as tropas federais vão agir para dar cobertura para ação da polícia que mais tem tradição em matar pobre e preto no país; sendo somente superada no ano passado pelas tropas da Bahia.
O próprio ministro da Justiça Flávio Dino(PSB) endossou a operação que teria mais de 1.100 mandados de prisão para serem cumpridos, reafirmando o caráter reacionário da sua gestão à frente do Ministério que – como toda a ação do Judiciário – se apoia na tese de intensificar a repressão contra os “bagres” da população pobre, enquanto os “peixes graúdos” seguem ilesos.
É claro que o governador quer o apoio das tropas federais para dar legitimidade à permanente guerra contra o povo que seu governo leva adiante contra os trabalhadores no Rio. e ainda tem a possibilidade de dividir a responsabilidade por eventuais massacres com o próprio governo Lula.
As entidades dos trabalhadores do Rio de Janeiro, o movimento popular, etc., precisam denunciar desde já esta operação. Cobrar do governo Lula que retire seu apoio à ação criminosa do governo Cláudio Castro que não pode resultar em nada de positivo para a imensa comunidade operária da Maré.