A guerra na Ucrânia já dura quase um ano, a esmagadora maioria da esquerda internacional já compreende que ela, é na realidade, uma guerra da OTAN contra a Rússia. Os setores mais conscientes compreendem que nessa guerra é necessário apoiar a Rússia contra o imperialismo. Outros, que de início condenavam a Rússia, já não o fazem mais tão abertamente pois essa posição é muito reacionária. Contudo, uma organização não tem a vergonha de seguir com a mesma política de atacar o governo Putin e fazendo frente com o imperialismo dos EUA: o PSTU. Sua política segue sendo a mesma desde o início da guerra em 2022, a de apoio incondicional a Ucrânia contra o governo nacionalista da Rússia, que apenas se defende.
O último caso foi o texto publicado em seu sítio intitulado: “Sobre as consignas “Não à guerra” e “Nenhum tanque para a Ucrânia””, traduzido da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI). O artigo começa expressando a sua tese central: “A diferença entre as nações opressoras e oprimidas é a primeira linha divisória levantada por Lênin para estabelecer a política dos revolucionários” Aqui já se encontra o seu grande erro que se desenvolve na absurda frente com a OTAN contra a Rússia. Lênin não dividia as nações entre opressoras e oprimidas, mas sim entre nações imperialistas e nações atrasadas.
O imperialismo, de fato, é o opressor, mas é preciso ter os conceitos bem definidos. Podemos pegar o caso da Arábia Saudita, que é um pais atrasado, oprimido pelo imperialismo, que, ao mesmo tempo. oprime o Iêmen; outro país atrasado. A divisão do PSTU indicaria que é preciso declarar apoio ao Iêmen –, que seria uma política correta –, contudo, o motivo não é que os sauditas o oprime, e sim porque se trata um pais oprimido pelo imperialismo. Os sauditas, em sua guerra contra o Iêmen, são apoiados pelos EUA. Vejamos outro caso: o Iraque e o Kuwait. Em determinado momento, Saddam Hussein invadiu o Kuwait, para conquistar o país. Essa era uma política contra o imperialismo, que havia divido o antigo Iraque em dois retirando um importante acesso ao mar. Nesse caso a “nação agressora” travava uma luta contra o imperialismo e, portanto, deveria ser apoiada. Esse caso é muito semelhante à questão da Rússia.
O imperialismo desmembrou toda a antiga URSS na década de 1990 e foi tomando controle dos menores países para atacar a Rússia. Quanto tentaram a mesma manobra, em 2014, promovendo um golpe de Estado na Ucrânia e buscavam integrar o país à OTAN. Os russos já estavam fortes o suficiente para não aceitarem essa provocação, e aí se iniciou o atual conflito.
Esse fato e muito importante pois demonstra o início real do conflito, que dura 8 anos já no Donbass, não começou em 2022 com a ação militar especial russa. A Ucrânia não é o único caso, houve investidas do imperialismo em todo o entorno da Rússia, desde a Bielorrússia, passando pela Geórgia, até o Cazaquistão. O PSTU, portanto, ignora que o imperialismo está por trás desses confrontos nas fronteiras da Rússia e considera que a Ucrânia luta uma guerra de libertação nacional, algo absurdo. Qual guerra de libertação nacional, algo revolucionário, seria apoiada pelos EUA?
O texto critica a posição da esquerda europeia que quer impedir o envio de armas para a Ucrânia: “não nos causa surpresa que o partido reformista alemão Die Linke, desenvolva uma campanha na Alemanha com as consignas “Não à guerra” e “não ao envio de tanques para a Ucrânia”. Nesta campanha desponta “Unidas Podemos” no Estado Espanhol. Destas organizações não se poderia esperar nada diferente. Em se tratando de organizações reformistas nos países imperialistas, são a perna esquerda de seu próprio imperialismo.” O primeiro erro do PSTU é considerar que essa é a política da esquerda imperialista, na verdade há uma gigantesca pressão da classe operária europeia, o que levou, após meses de guerra, essa esquerda a apoiar essa política. O fenômeno é tão forte que a extrema-direita, que atualmente tem uma base na classe operária, também se vê obrigada a atacar a OTAN, tamanho é seu repúdio à guerra contra a Rússia.
Outro ponto que o PSTU ignora é a política de Lênin em relação à Primeira Guerra Mundial. Lênin deixou muito claro que a classe operária deveria lutar pela derrota de seus países na guerra pois isso seria uma derrota do imperialismo. Essa é a política que os trabalhadores tomam na Europa, uma sabotagem da OTAN para que ela seja derrotada pela Rússia. Eles podem falar de “nem Rússia, nem OTAN”, mas, na prática, se colocam contra a OTAN de fato e contra a Rússia apenas em palavras. A política dessa esquerda reformista, pressionada pela mobilização das bases, se aproxima portanto da política de Lênin. Aqui, vale explicar que a Rússia atual está em uma situação diferente da de 1917. Quando Lênin pediu a derrota da Rússia na guerra, o país estava a serviço dos interesses do imperialismo inglês e francês. Hoje, o imperialismo todo está unificado para atacar a Rússia, que apenas se defende. Isso significa que a vitória da Rússia é uma derrota do imperialismo.
O texto segue afirmando que: “Diante de tais “fundamentos”, o grupo alemão da FT exige que os sindicatos convoquem uma greve geral, não para demandar mais apoio à quase desarmada Ucrânia, a nação agredida, mas pelo “fim da guerra e de todas as ações hostis, como vendas de armas e sanções” Não é difícil imaginar Putin aplaudindo uma proposta deste tipo no Kremlin.” A LIT-QI mostra como os erros teóricos levam partidos a adotar política ultra reacionárias. O grupo FT pede uma Greve Geral em defesa da derrota da OTAN, em uma conjuntura de mobilização que isso seja possível, algo muito positivo. Mas, porque o PSTU considera Putin o opressor e não o oprimido, ele se coloca contra essa greve. Putin é um líder nacionalista de uma nação atacada pelo imperialismo, e nessa luta o seu aliado é a classe operária de todos os países, e da Alemanha, principalmente.
Aqui, vale relembrar do caso da Primeira Guerra Mundial. Após a Revolução Russa, Lênin foi obrigado a assinar um acordo de derrota onde os alemães saqueavam um gigantesco território russo. Contudo, com a Revolução Alemã de 1918 esse acordo foi jogado na lata de lixo, os operários alemães não queriam oprimir a Rússia, ao contrário da burguesia que domina o país. Atualmente, isso também está claro, é interesse do imperialismo atacar a Rússia. A classe operária se interessa na integração das nações para poder ter acesso aos recursos baratos da Rússia e assim ter uma qualidade de vida melhor. Esse é o natural, os povos tendem a se integrar, quem impõe a guerra é o imperialismo.
O grande erro do PSTU segue sendo sua incompreensão total do que seja o imperialismo e esse texto é uma grande prova disso. O caso atual da Rússia é muito claro, o imperialismo se unificou em bloco para atacar os russos e os morenistas não percebem isso. Só enxergam as tropas russas entrando na Ucrânia sem entender que isso é uma guerra da OTAN contra a Rússia. Se a OTAN estivesse levando a melhor, isso seria o primeiro passo para a derrubada do governo Putin e uma nova fase ultra neoliberal na Rússia como nos tempos de Iéltsin. Enquanto o PSTU não compreender a luta dos povos oprimidos contra o imperialismo, sempre se colocará ao lado do imperialismo, como um de seus tarifeiros de segunda classe, contra a classe operária.