O achincalhe do Brasil é a nova pauta dos identitários que foram acolhidos nas páginas dos jornais da burguesia. Prova contundente disso é um artigo de Tom Farias publicado na Folha de São Paulo há alguns dias.
Relendo a história do país pela ótica das novíssimas teorias raciais, o intelectual conclui que, para derrubar os privilégios de casta que se mantêm desde o descobrimento do país até os dias de hoje, “vai ser preciso voltar às praias nacionais nos abris de 1500 e pedir desculpas aos povos originários, pela invasão, e, sobretudo, pelas primeiras ofensas praticadas nestas terras”. Subtraindo-se o absurdo de propor uma volta no tempo para pedir desculpas pela história, já que, até onde se sabe, isso ainda não é possível na vida real, cabe perguntar a quem aproveita esse tipo de afirmação.
No decorrer do texto, refere-se ao Brasil como “eterna província”, “país doente” e “país selvagem” e, para falar do povo, usa expressões como “atraso mental da nação”, “humanidade sob suspeita”, “nenhuma sã ideia de lei e ordem, de paz e solidariedade”, “compadrio como marca nacional”. Segundo ele, somos um “país doente”, que deveria penitenciar-se de seus “atrozes pecados”.
Sobre a nossa origem, é taxativo ao relembrar o velho clichê: “Deixaram por aqui degredados. Deixaram por aqui doenças. Deixaram por aqui o sentido de discórdia, como augúrio de má sorte para a nova nação”. Segundo ele, a famosa frase de Pero Vaz de Caminha, “nessa terra, em se plantando tudo dá”, seria um atestado de que “o país nasceu pelo olhar da cobiça”.
Em suma, na visão dele, somos todos uns desgraçados, torpes, corruptos, doentes, “pecadores”, que devemos pedir perdão por existir. O articulista clama por lei e ordem e por aplicação de penas aos acusados de racismo e injúria racial, que diz não terem sido suficientemente punidos nos últimos 30 anos, segundo dados de um levantamento divulgado pela GloboNews.
O escritor faz uma análise moralista e religiosa da história do Brasil e, do alto de sua posição de herdeiro de uma grande dívida, propõe um ato de contrição coletivo, em que os brancos peçam perdão aos negros de hoje pela escravidão do passado e aos índios de hoje pela “invasão de suas terras” em 1500, ou seja, pelo descobrimento do Brasil.
A quem interessa que o povo brasileiro tenha vergonha de sua história e se sinta nascido como pecador, fruto de uma sucessão de ações destrutivas? Interessa a quem gostaria de ver fraca e desmantelada esta grande nação para mais facilmente abocanhar as nossas riquezas.
Talvez o intelectual identitário ache que o imperialismo tem o “direito” de se apossar das riquezas do Brasil, já que o povo daqui é a escória do planeta, não tem valor algum e, além de todas as suas decrepitudes, nasceu “fadado à má sorte”.
É para combater essa visão entreguista e ingênua dos fatos, disfarçada de crítica, que devemos estudar a nossa história do ponto de vista marxista.
Artigo publicado, originalmente, em 14 de abril de 2022