Uma das grandes derrotadas sofridas pelo sionismo mundial desde que recrudesceu a agressão aos palestinos, particularmente na faixa de Gaza, desde a Operação Dilúvio de Al-Aqsa está no terreno da propaganda. Levada adiante por um lobby multimilionário, e com o apoio irrestrito do imperialismo mundial, a Hasbará não foi capaz de conter a difusão por meio das redes sociais do caráter genocida não só do alto escalão do governo fascista liderado por Netanyahu, mas também do exército “israelense” de conjunto, e de uma parte significativa de sua população “civil”, na medida, é claro, em que é possível usar tal terminologia para os “colonos” sionistas.
Se meses atrás a comparação entre Israel e a Alemanha nazista pareceria exagerada, senão completamente absurda, para a maioria das pessoas, hoje não é mais o caso. A questão é entender o porquê deste fato, ou como o artigo de opinião de Yoav Litvin, saído dia 22 no jornal Common Dream, intitulado “O que motiva os atos genocidas de Israel em Gaza?”
A primeira questão que o autor traz é a intensa campanha de mentiras grotescas, muitas delas confissões de atrocidades cometidas pelos próprios sionistas no passado, lançada assim que os “israelenses” iniciaram o massacre em escala industrial na faixa de Gaza. Sejam os “bebês decapitados” ou os “estupros em massa”, trata-se de um típico exemplo de tentativa de desumanização do seu inimigo militar com o intuito de legitimar qualquer tipo de ação, no caso o bombardeio indiscriminado de civis, as centenas de massacres cometidos pelas tropas israelenses no chão, e etc.
O autor discute os pilares da propaganda sionista. O primeiro é o problema do “antissemitismo”. Ainda que hoje este fenômeno esteja reservado ao passado (é ridículo falar de antissemitismo como um grande problema nos dias de hoje como buscam fazer os sionistas na tentativa de contrabandear a tese de que antissionismo seria antissemitismo), o histórico de perseguição dos judeus na Europa datava da Idade Média, pogroms ocorrendo, no caso do leste europeu, até meados da Primeira Guerra Mundial.
“O sionismo, um movimento colonial europeu, reconheceu o potencial desta dinâmica. Ele fundiu o desejo dos judeus por segurança e autodefesa com ideologias supremacistas, messiânicas e fascistas. Esta síntese deu luz a uma nova identidade judaica que iguala a segurança judaica com a construção de país exclusivo de judeus na Palestina por meio do deslocamento forçado da população indígena da região.”
Apoiando-se na tragédia do Holocausto, perpetrada pelo nazismo alemão (com a colaboração dos Estados Unidos no primeiro momento), a propaganda sionista procura estabelecer uma espécie de dívida histórica da humanidade com os judeus, que justificaria qualquer tipo de ação por parte dos “israelenses”, que estariam eternamente “em perigo”. Para tanto, é preciso a todo custo confundir o judaísmo, que é uma religião como qualquer outra, com o sionismo, uma doutrina política específica, que, se tomarmos a opinião de setores dos judeus ortodoxos, como o Neturei Karta, nada tem a ver com a religião judaica.
“Além de justificar o roubo violento de terras, igualar sionismo a judaísmo serve para deslegitimizar a resistência palestina igualando qualquer crítica ao sionismo ou às políticas ‘israelenses’ em relação aos palestinos a ataques contra os judeus.”
Litvin caracteriza corretamente o sionismo como uma doutrina colonial europeia. Não é a toa a desumanização dos palestinos para os judeus sionistas, nem a extrema violência com que sempre trataram a população nativa. É o modus operandi típico do colonialismo europeu, particularmente na fase do capital imperialista. O particular da doutrina sionista está no aspecto demográfico: é preciso que a população judaica supere a população de palestinos não judeus, algo que não ainda não foi atingido até o momento. A consequência natural é, por exemplo, o assentamento de colonos judeus, um nome fantasia para milícias fascistas sionistas, na Cisjordânia.
Ainda na linha religiosa, um outro aspecto da propaganda sionista seria o de que os judeus seriam os verdadeiras habitantes da Palestina, pouco importa que os judeus ashkenazi, por exemplo, sejam europeus puro sangue (não é a toa a proibição dos testes de ascendência em “Israel”). A questão toma um ar ainda mais ridículo pois Jerusalém, por exemplo, é uma cidade sagrada também para os cristão e muçulmanos, infinitamente mais numerosos que os judeus no mundo.
Outro aspecto crucial da propaganda “israelense” para o resto do mundo se apoia no fato de que “Israel” seria a única “democracia” do Oriente Médio; desse ponto vista os sionistas “de esquerda” ou “liberais” servem para mascarar os crimes do fascismo israelense, na verdade, correto é dizer que também são fascistas. “Nazismo de esquerda” é ridículo, da mesma maneira que o é “sionismo de esquerda”. Além do mais, não pode existir democracia, em sentido algum da palavra, num “país” em que uma parcela da população é composta de cidadãos de segunda linha (na verdade, seria correto dizer que nem mesmo para os judeus “Israel” é um país “democrático”).
A única saída para a crise palestina é a destruição do regime supremacista sionista. Ou como colocou Litvin:
“Uma vez que a estrutura opressora, o sionismo, for desmontada, este poderá ser efetivamente desmantelado, pavimentando o caminho para um processo de rehumanização e reconciliação por meio do uso da empatia. Liberação, reconciliação, e um fim a violência genocida de ‘Israel’ somente poderá ser alcançada dentro uma plataforma firmemente antissionista se alinhando com valores antirracista, anticoloniais da esquerda.”