No dia 15 de agosto de 2021, em meio à preparação para os atos pelo Fora Bolsonaro que aconteciam naquele ano, fui agraciado com uma surpresa incrível: o Talibã havia derrotado o exército norte-americano. Eu, nascido na década de 1990, nunca havia visto nada parecido. Sabia que era algo grandioso, mas não tinha a ideia do tamanho, vi companheiros mais velhos chorarem de alegria, falarem que era o dia mais feliz de suas vidas. Hoje, passados 2 anos, é algo mais fácil de compreender. Não é todo dia que se vê uma revolução.
O Afeganistão foi invadido pelos Estados Unidos no final de 2001, com o pretexto do atentado do 11 de setembro. Sendo assim, o povo afegão lutou por quase 20 anos por sua libertação nacional. A opressão no país foi brutal, a maior bomba não nuclear foi usada apenas uma vez na história, no Afeganistão. Lá também se criou o sistema terrorista de drones, em que qualquer aglomeração era bombardeada pela força aérea norte-americana. Dado que o Talibã sabia disso e se escondia em cavernas, o mais comum era aniversários e casamentos serem bombardeados. Foi, junto da invasão do Iraque, o maior crime do imperialismo no século.
Contudo, o povo afegão não aceitou essa realidade. Pegou em armas e lutou até o fim, até a vitória. O Talibã foi quem liderou essa luta e assim ganhou o apoio da esmagadora maioria da população. Só com o amplo apoio das massas foi possível derrotar as forças de ocupação imperialistas. Aqui ficou provado na prática algo que se sabe na teoria: toda guerra de libertação nacional é um movimento revolucionário. Não há como um país atrasado e oprimido derrotar um império no quesito militar, a vitória deve ser política e, para isso, é preciso uma ampla mobilização das massas.
O que o Talibã fez não se difere em quase nada do que fizeram os chineses em 1949, ou os vietnamitas em 1973. Nesses dois casos, não há dúvida alguma sobre o caráter revolucionário desses movimentos. Porém, no Afeganistão, devido ao identitarismo e à ausência de uma ideologia comunista no Talibã, a esquerda pequeno-burguesa, pressionada pela direita, conseguiu ocultar essa realidade. Mas revoluções não são fenômenos pequenos, pelo contrário, como disse o próprio Marx, são as locomotivas da história.
A revolução afegã foi um ponto de virada no século XXI. O imperialismo demonstrou toda a sua fraqueza ao ser derrotado pelo povo afegão. Ao mesmo tempo, todos os povos do mundo, viram, na prática, que é possível derrotar os opressores. Se um dos países mais pobres do mundo derrota o imperialismo dos EUA, o que então pode fazer a Rússia, a China, ou o Brasil? Na África Ocidental, a mensagem foi muito bem entendida: Burquina Fasso e Níger se levantam contra o imperialismo francês. Para a Rússia também foi muito rápido, 6 meses após a vitória do Afeganistão, Putin decidiu que era possível derrotar a OTAN na Ucrânia.
Esse é o poder de uma revolução. O Afeganistão é um prenúncio do que será o século XXI, um prenúncio de uma era de revoluções. O Talibã foi a vanguarda de todos os povos do mundo na luta por sua libertação. Por isso os companheiros mais velhos choraram naquele fatídico dia em que um povo novamente derrotou os EUA. Em 1973, o Vietnã deu o sinal. Em 1974, a Revolução aconteceu em Portugal, em 1979, no Irã, na Nicarágua, em 1980, na Polônia. E no mundo inteiro o movimento operário se levantou. Desse baque o imperialismo saiu moribundo, nada indica que ele sobreviverá ao que lhe espera.