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Clube da Paz 

 A incompreensão da esquerda sobre Lula e a Ucrânia

A esquerda ao errar a análise da guerra da Ucrânia também erra tanto qual é a posição de Lula como qual deveria ser a posição do presidente

A guerra da Ucrânia é um dos acontecimentos mais importantes da política internacional atualmente. Está no centro da política dos principais países imperialistas por meio da participação da OTAN na guerra. O presidente Lula, por sua vez, se coloca como um dos protagonistas da guerra, não do lado imperialista, onde seria apenas um capacho, nem do lado russo formalmente, mas propondo a criação de um bloco independente que costure a paz. A sua política, no entanto, é muito mal compreendida pela esquerda pequeno-burguesa que, além disso, possui uma política própria que está à direita do presidente Lula. É o caso do artigo do Esquerda Online: “Quem quer a paz na Guerra da Ucrânia?” de Gabriel Santos.

O primeiro parágrafo indica o tom abstrato de toda a tese do autor: “A Guerra na Ucrânia completou um ano. Nos grandes conflitos, depois de um tempo, ninguém se lembra mais pelo que está lutando ou como eles iniciaram. Algo tão destruidor como uma guerra perde suas primeiras justificativas, e passa a ganhar outras novas.” O confronto é muito simples de se compreender, é a luta da Rússia, um país oprimido, contra o imperialismo/OTAN que usa a e a Ucrânia contra os russos. A diferença é que os russos intervieram militarmente antes que o imperialismo tomasse a iniciativa militar. Mas na questão política, o avanço, já vinha acontecendo há décadas; a gota d’água foi a questão ucraniana e os russos fizeram certo em tomar a iniciativa e não se deixarem ser invadidos pelo sul, erro que cometeram na Segunda Guerra Mundial.

O autor, poucos parágrafos depois, afirma: “A Guerra da Ucrânia, nunca foi somente um conflito entre o Estado Ucraniano e o Estado Russo. Ela é uma guerra por procuração. Foi planejada e instigada pelos Estados Unidos através da expansão militar da OTAN. A Ucrânia é o campo de batalha”. Contudo, também defende que os russos são os agressores: “A ação militar russa, ao mesmo tempo que foi defensiva, pois buscava a defesa do país contra a expansão da OTAN, e a defesa de cidadãos de origem russos que estavam sendo massacrados pelo governo nacionalista ucraniano, foi também uma ação expansionista da Rússia, já que o direito da Ucrânia existir como um Estado Nação independente é algo que o governo russo desconhece.”

Essa tese é uma farsa, a Rússia age de forma completamente defensiva. Vladimir Putin em momento nenhum demonstrou interesse em anexar a Ucrânia. Ele não tentou invadir o país por completo, algo que seria possível; apenas está tentando ganhar o controle das regiões de maioria russa. Além de desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia. Sua política é defensiva no sentido de que quer exista um Estado neutro entre a Rússia e a OTAN para que ela não esteja constantemente ameaçada de uma invasão militar. O “expansionismo” russo é uma propaganda do imperialismo. Os países imperialistas desestabilizam as pequenas nações no entorno da Rússia e quando os russos intervêm defensivamente acusam Putin de ser expansionista, é puro cinismo.

Após atacar o governo Vladimir Putin com a propaganda do imperialismo, o autor ataca o governo Lula: “Primeiro, é preciso apontar que o Itamaraty é uma das instituições mais conservadoras de nosso País, perdendo apenas para as Forças Armadas. Entre seu núcleo predomina uma visão de mundo pró-Ocidente, atlantista e subordinada aos Estados Unidos.” É uma tese bem extravagante, até porque, ao contrário das Forças Armadas, o Itamaraty está sujeito a muitas mudanças conforme as mudanças de governo. E, para além do exército, existem todas as polícias, o judiciário, o sistema carcerário, o próprio senado e câmara de deputados, todos ultrarreacionários. O Itamaraty sob o governo Lula, em relação ao governo Bolsonaro, deu uma guinada de 180°.

Santos afirma que a política de Lula sobre a guerra foi um erro: “Assim podemos perceber que a quebra da unidade entre o BRICS foi um cálculo errado, e que deveria ser por meio dele que a própria proposta de paz deveria ser construída. No teatro das relações internacionais, um país periférico e dependente, como o Brasil, tem credibilidade para ser proponente em um grupo de negociadores justamente a neutralidade.” O que ele não percebeu é que não houve nenhuma quebra de unidade dos BRICS, Lula apenas está fazendo um jogo de cena. Não se indispôs com os russos, como afirmou o próprio chanceler Lavrov, que virá ao Brasil em abril. Ele mandou o chanceler brasileiro para a índia e o próprio Lula irá para a China no final do mês. A tese do Brasil desalinhado com os BRICS é uma farsa, uma campanha golpista contra Lula.

O que esse setor da esquerda não compreendeu é como a posição do Brasil na questão da diplomacia é forte. O presidente já é uma referência por seus mandatos anteriores; ele, no vocabulário do imperialismo, foi eleito democraticamente, o Brasil é o mais “democrático” dos BRICS; ao contrário da China o Brasil aparece totalmente independente, a votação da ONU, em defesa da lei internacional, é uma política que fortalece essa posição; Lula já aparece na Europa e nos EUA como um líder internacional do movimento pela paz, que ganha cada vez mais força na classe operária dos países imperialistas. O presidente Lula claramente está tentando ter um papel importante nessa discussão e isso joga a favor dos russos pois a via que quer discutir a paz é um de seus aliados. Essa não é a posição correta, que é se colocar frontalmente contra a OTAN, mas não é também uma adesão a OTAN, e por isso Lula é criticado pelo imperialismo.

Além de errar ao analisar a política de Lula, o artigo apresenta uma política capituladora: “Um verdadeiro acordo de paz deveria tratar: 1) Retirada das tropas russas da Ucrânia 2) A OTAN assumiria o compromisso de não buscar a admissão da Ucrânia e não se expandir rumo à fronteira russa. 3) Uma reforma constitucional na Ucrânia refletindo a diversidade do país, deixando de ser uma República Unitária, se tornando uma República Federativa. 4) Essa reforma constitucional deve restabelecer o caráter multiétnico do país, a língua russa ser uma das línguas nacionais, com liberdade de ensino e comunicação para o russo e outras línguas. 5) Além disso, se deve dar às províncias ucranianas autonomia, para terem seus parlamentos locais, suas constituições e eleger seus governadores. Coisa feita até hoje pelo governo central. 6) A Rússia abandonaria o reconhecimento das repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk (regiões de maioria russa), e por sua vez a incorporação da Crimeia pela Rússia, feita por referendo popular em 2014, com mais de 93% dos votos, seria reconhecido por Kiev e pela comunidade internacional. 7) Suspensão das sanções contra a Rússia e liberação das reservas internacionais russas que foram congeladas. 8) Por fim, é importante que o Ocidente e o governo ucraniano se comprometam na desnazificação da Ucrânia.”

O maior problema é a ingerência sobre o governo ucraniano, o modelo de governo seria definido por um acordo internacional e não pela própria população. A política correta é fora o imperialismo da Ucrânia, abaixo o regime golpista instaurado pelos EUA em 2014. A reintegração das repúblicas de Luganks e Donetsk a Ucrânia também é absurdo, ambas lutam há 8 anos por sua libertação, que conquistaram agora com apoio dos russos. Seria um enorme retrocesso se elas se reacoplassem a Ucrânia. Essas propostas mostram o mal que é considerar a tese de que o governo russo é expansionista.

No fim, o artigo conclui afirmando que o Brasil deveria ter uma posição de destaque no cenário internacional. O grande erro do autor é o mesmo de setores nacionalistas que acreditam que Lula não está sendo pró BRICS. A verdade é que o presidente manobra no jogo internacional se aproveitando da posição do Brasil e tentando se esquivar das sanções do imperialismo. Mas no quesito internacional, o presidente se mostra cada vez mais independente do imperialismo e a tendência é que essa independência só aumente.

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