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A fúria do norte

A história do Hesbolá, o Partido de Deus, o terror de Israel

Taxados de terroristas pelo imperialismo, o partido libanês foi a única força armada que já derrotou o exército de “Israel” duas vezes e está na coalizão que governo o Líbano

Quando o confronto entre a Palestina e “Israel” pegou fogo novamente após o dia 7 de outubro todo o mundo começou a acompanhar muito de perto os passos do Hesbolá, o Partido de Deus, que tem uma das poderosas forças armadas na região. Contudo, muito pouco se sabe sobre esse partido no Brasil. Taxado de organização terrorista pela direita, o Hesbolá na realidade tem a terceira maior bancada no parlamento do Líbano e está atuando com o bloco que governa o país. Por isso é importante fazer uma rápida recapitulação do que é a organização para combater a campanha de calúnias do imperialismo.

O Líbano é um pequeno país árabe que fica ao norte de “Israel”. No Brasil é muito conhecido por sua grande comunidade de imigrantes, mas pouco se sabe sobre a política no país. Por estar logo ao norte do Estado sionista quando este foi criado, sobre a limpeza étnica de palestinos, uma gigantesca massa de refugiados palestinos acabou se deslocando para o Líbano. Essa enorme população palestina ao longo de décadas criou organizações de luta e portanto entrava em confronto com o Estado de “Israel”. O surgimento do Hesbolá portanto está ligado a própria luta do povo palestino por sua libertação. 

O que aconteceu é que em 1978, uma escalada do confronto entre a Organização pela Libertação da Palestina, OLP, e o Estado de “Israel”, levou à invasão do Líbano pelo exército sionista. Essa guerra duraria 22 anos. “Israel” ocupou o sul do Líbano já neste ano, mas em 1982 é que a guerra tomou grandes proporções. Foi justamente nesse ano que o Partido de Deus, o Hesbolá foi fundado, ou seja, é uma organização de libertação nacional criada para lutar contra a ocupação sionista. Ela se baseia na população xiita do sul do Líbano, algo relevante pois em 1979 a Revolução do Irã foi uma inspiração para todos os xiitas. As bandeiras das Guardas Revolucionárias do Irã são muito semelhantes à bandeira do Hesbolá, por exemplo. 

A guerra no Líbano foi uma das mais brutais do Oriente Médio. “Israel” se aproveitou que o Líbano possui uma grande população de cristãos, e os armou para atacar os palestinos e os muçulmanos. Foi nessa conjuntura que aconteceu o massacre de Sabra e Chatila, uma das maiores monstruosidades da história moderna. Há estimativas que em 2 dias 3500 palestinos vivendo em campos de refugiados foram mortos nesse massacre, e os assassinatos foram feitos da forma sanguinária. Nessas condições a luta pela libertação nacional na Líbano ganhou cada vez mais força e quem a liderava foi justamente o Hesbolá.

Aqui não vale entrar nos detalhes da guerra, o importante é que uma organização popular, liderada por clérigos xiitas, após 18 anos conseguiu de fato conquistar a libertação do seu país. E isso é muito importante, o Hesbolá é a única organização que derrotou o exército de “Israel”, uma vez em 2000, quando expulsou os sionistas de seu país, e outra em 2006 quando eles tentaram invadir novamente e foram rapidamente derrotados. Esse é o motivo do Hesbolá ser o terror de “Israel”. Aqueles que os derrotaram em 2000 e em 2006 podem ser quem os derrotará em 2023, mas agora em uma conjuntura catastrófica. 

Conquistando a vitória militar e a libertação nacional em 2000 o Hesbolá não teve tanto sucesso na atuação política. O imperialismo montou um sistema político no Líbano, em que o governo é totalmente dividido com bases religiosas, por meio das eleições nem há como tomar o poder de fato. Mesmo assim, o partido cresceu e elegeu muitos parlamentares nos anos após a vitória militar. Nas próprias eleições do ano 2000, o Hesbolá empatou com a maior bancada no parlamento, 10 cadeiras de 128, em 2006 conquistaram 14 e nas eleições seguintes ficaram nesse média. Aqui fica claro como o sistema político libanês é anti democrático, o partido que liberta o país de uma invasão estrangeira não consegue nem uma minoria expressiva das cadeiras do parlamento. 

O Hesbolá no entanto seguiu sendo a organização política mais importante do Líbano, se não pelo parlamento, pela sua força militar. Ele na prática é mais poderoso que o exército do país, tem uma aliança muito estreita com o Irã, que está mais forte do que nunca. É o Hesbolá que de fato contem qualquer agressão de “Israel” ao Líbano. E se ele tem dificuldade de atuar no sistema político do país, no terreno militar pelo contrário, ele é tão forte que atuou tanto na Síria quanto no Iraque, lutando principalmente contra o Estado Islâmico. Aqui fica claro como a campanha da burguesia é absurda, o Hesbolá combate o terrorismo criado pelos EUA, tanto o Estado Islâmico, mas ainda pior, o Estado de “Israel”.

Nesse momento, já com 40 anos de história, o Hesbolá é uma fator de primeira importância na luta dos palestinos. É um aliado muito forte na fronteira com “Israel”, na prática já está na guerra e muito provavelmente é o fator de contenção que impediu a invasão da Faixa de Gaza. Com o desenvolvimento do confronto, o Hesbolá também tende a ser o principal aliado dos palestinos na luta de armas na mão, enquanto o Irã deve ser o aliado que atua a distância, com todo tipo de auxílio. Mas aqui é importante dizer: o Hesbolá não é um peão do Irã. O Hesbolá é a expressão da luta do povo libanês, que por 22 anos sofreu com a ocupação brutal do sionismo e por esse fator ele tende a ser o principal aliado do povo da Palestina. 

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