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Antônio Carlos Silva

Professor de Matemática. Fundador do PCO, integra a sua Executiva Nacional. Atuou na fundação do Coletivo de Negros João Cândido. Liderou a criação e coordenação dos Comitês de Luta contra o golpe e pela liberdade de Lula. Secretário Sindical Nacional do PCO, coordena a Corrente Sindical Nacional Causa Operária, da CUT.

40 anos da CUT

A história de luta da única central dos trabalhadores

Um dos principais produtos da juta política no maior ascenso das lutas operárias da nossa história, a Central foi uma das principais expressões da evolução da classe operária

No dia 28 de agosto, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) completa 40 anos de sua fundação, no histórico Congresso realizado no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, como resultado de um intenso e combativo processo de lutas e reorganização da classe operária brasileira, contra a ditadura militar, contra os patrões e os pelegos que dominavam quase toda a estrutura sindical brasileira.

Seu Congresso de fundação reuniu 5.059 delegados, de 912 entidades, Eram 335 entidades urbanas, 310 rurais, 134 associações pré-sindicais, 99 associações de funcionários públicos, 5 federações, 8 entidades nacionais e confederações.

Ao contrário da política de conciliação com setores patronais presentes, ontem e hoje, na maioria dos sindicatos, a CUT surgiu de um processo de luta política e de ruptura, diante do fracasso da tentativa de criar uma organização “única” com os sindicalistas aliados da burguesia, que não queriam qualquer tipo de representação efetiva dos trabalhadores no seu interior, que se opunham aos métodos de luta combativos das greves operárias (ocupações, piquetes etc.) e que buscavam, uma conciliação sem limites com a ditadura e até submissão total dos sindicatos aos interesses da burguesia.

Criada na “ilegalidade”, em um momento em que a reacionária legislação da ditadura proibia a existência de organizações nacionais dos trabalhadores, que não fossem as ultra pelegas Confederações e que enorme contingentes de trabalhadores, como todo o funcionalismo público, estatais etc. estavam proibidos até mesmo de se organizarem em sindicatos, a CUT – por sua luta nos primeiros anos de sua criação se tornou a principal referência para a luta dos trabalhadores. Em alguns casos de greves combativas, espontâneas, organizadas pelos trabalhadores à revelia das direções sindicais, a CUT chegou a ser convocada pelos operários para representá-los nas negociações com os patrões.

Mesmo antes de ter existência formal, os “cutistas” (então um movimento de milhares de ativistas, em sua maioria de base) chegaram a liderar importantes lutas como a combativa greve geral de julho de 1983.

Sua organização de base (onde os trabalhadores e ativistas tinha voz e vez) ao lado de um reduzido número de dirigentes sindicais, foram a sua grande força inicial, além da presença no seu interior de companheiros que foram organizadores reais de movimentos de enfrentamento com os patrões na cidade e no campo, e não mero detentores de cargos sindicais.

Nos primeiros anos de sua existência, em meio ao maior ascenso das lutas operárias de toda a história do Brasil, o País chegou a atingir, aproximadamente, 15 mil greves em um único ano. Impondo conquistas históricas da classe trabalhadora, como a redução da jornada de trabalho ou a reposição trimestral das perdas salariais diante da inflação em disparada.

Não demorou para que a CUT se fortalecesse no interior do movimento operário, a partir de um trabalho de base e diante da crise que se aprofundava. Também nos seus primeiros anos, a CUT organizou milhares de oposições sindicais contra o peleguismo, buscando retomar os sindicatos para os trabalhadores. E na maioria desses obtinha vitórias, apesar do apoio explícito dos patrões e dos seus partidos aos sindicalistas conciliadores. Chegando a ganhar mais de mil eleições sindicais em apenas um ano.

Seus primeiros congressos, em que predominavam as representações das bases e que reuniam milhares de trabalhadores da cidade e do campo, eram grandes fóruns de discussão dos problemas nacionais, das propostas dos trabalhadores diante da crise, em oposição à perspectiva conciliadora de “unidade nacional” (hoje frente ampla) com os grandes capitalistas e seus representantes políticos e infiltrados no movimento operário.

Essa luta da CUT, clara expressão da evolução política da classe trabalhadora não só foi decisiva na crise que levaria ao fim do regime ditatorial (que ao contrário da “história oficial” não chegou ao fim por um projeto da direita ou por discursos dos parlamentares e manobras institucionais) como vai impulsionar uma situação de completa desestabilização do regime de dominação da burguesia e de sua alternativa ao fim da ditadura que foi a “Nova República” conduzida por José Sarney, então no PMDB, mas que tinha sido o presidente do partido da ditadura militar, a Arena. Uma clara lição, que serve aos dias atuais, de que as greves e a organização dos trabalhadores tornam qualquer ditadura e controle da direita das instituições insustentáveis.

A CUT, que começou com cerca de algumas dezenas de sindicatos, reunindo milhares de ativistas, cresceu e se tornou a maior organização de trabalhadores da América Latina e uma cinco maiores do Mundo, com  mais de 4 mil entidades filiadas, cerca de 8 milhões de trabalhadores associados, de uma base uma base de mais de 26 milhões.

Ela impulsionou um desenvolvimento político de milhares de trabalhadores, alavancando o Partido dos Trabalhadores, de onde saiu a maior parte da esquerda hoje existente, e a maior liderança política do País, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nas últimas décadas, diante do agravamento da crise e , consequente, refluxo das lutas operárias, e do brutal retrocesso da esquerda pequeno burguesa e das direções sindicais, impôs-se um processo de burocratização da Central (afastamento das bases), retirando-se a representação majoritária das bases de seus fóruns e estabelecendo-se no seu interior uma política de conciliação com o peleguismo tradicional e com a própria burguesia.

Esses sindicalistas tradicionais (muitos dos quais figuravam entre os maiores inimigos da criação da CUT), com apoio da burguesia procuraram (e ainda o fazem) dividir os trabalhadores e destruir a CUT, estabelecendo uma organização de “várias centrais”, o que significaria não ter central nenhuma, capaz de unificar a luta dos trabalhadores em momentos decisivos, como na organização de uma luta unificada, nacional, como numa greve geral.

Mas em todas as lutas decisivas da história recente do País, pelos seus vínculos históricos com a classe trabalhadora, pela vinculação (ainda que com limitações) de seus principais sindicatos com os trabalhadores a partir dos locais de trabalho e de instâncias com alguma representação real (grande número de sindicalizados, assembléias expressivas, congressos etc.) a CUT acabou por se manter na condição de principal organização de luta dos trabalhadores do País.

Foi o que se viu, por exemplo, nas recentes lutas contra o golpe de Estado, que derrubou a presidenta Dilma Rousseff (2016) ou na luta pela liberdade de Lula (580 dias na prisão) e por sua terceira eleição.

Numa próxima coluna, trataremos da situação atual da CUT e das suas tarefas.

*A opinião desta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Diário Causa Operária

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