O massacre dos palestinos pelas Forças Armadas de Israel continua com contornos cada vez mais aberrantes e cruéis, sendo todo dia divulgados números horripilantes de mortos e feridos, inclusive as milhares de crianças. Para todo militante socialista torna-se visível a face horrenda do capitalismo e o fato de que a burguesia mundial considera agora viável e necessária a eliminação física e violenta daquelas populações consideradas “dispensáveis”. Os palestinos se tornaram não só um povo que não serve para ser explorado para gerar mais-valia, mas que deve ser eliminado pelo fato de ousar desafiar o poder internacional do capital, cuja representação maior hoje são o Estado de Israel e seu parceiro congênito, o Estado estadunidense.
Não é à toa que o governo israelense anunciou recentemente que, após o massacre, a população remanescente será desconectada da economia israelense, não se admitindo que sirva de mão de obra, mesmo barata, para a burguesia local. É um novo tipo de exército industrial de reserva, que nunca será chamado a se incorporar ao mercado de trabalho. É essa a função, aliás, já desempenhada pela população palestina há muito tempo, mas que chegou agora ao limite do paroxismo e da irracionalidade.
A população palestina tem sofrido uma situação em que não se reconhece nenhum direito básico, a começar pelo próprio direito à vida. A experiência por ela vivida mostra o que o capitalismo reserva para o conjunto da classe trabalhadora mundial como o novo limite para a dominação capitalista. A divisão da Cisjordânia em áreas diferentes para a população palestina: A área C, onde existem as terras mais férteis, é totalmente dominada pelo Estado judeu, enquanto a área A, menos fértil, pode ser administrada pela Autoridade Palestina. A área B, há um consórcio entre a autoridade palestina e o estado judeu. A população palestina não tem direito à nenhuma propriedade, sendo que suas casas podem ser expropriadas a qualquer momento pelos chamados “colonos” judeus. Qualquer providência mais trivial da vida diária deve ser devidamente autorizada. Essa situação permaneceu escondida da opinião pública mundial e só agora é revelada na imprensa alternativa e de esquerda. Na mídia oficial isso não existe: o Estado Judeu é um exemplo de democracia no Oriente Médio, onde só existem ditaduras bárbaras e ele tem o sagrado direito de se defender dos “animais humanos” que ousam atacar as suas “forças de defesa”.
Na verdade, a relação entre os estados imperialistas e a população dos países oprimidos é praticamente a mesma que a estabelecida pelo Estado de Israel com os palestinos. O exemplo é a construção do muro que separa os EUA da América Latina, que Trump queria que sua construção fosse paga pelo México. Em Israel há muros separando o estado judeu dos palestinos por toda parte e eles não só são de grande extensão para cima como também para baixo, em média 8 metros no subsolo.
A guerra no subsolo
Sendo a maior prisão a céu aberto do mundo, segundo declaração da ONU, a faixa de Gaza é um território onde o estado judeu controla, como se ficou sabendo agora, todos os recursos necessários à vida, como água, energia, combustíveis, alimentos, remédios. Não há como fugir, pois há muros impedindo o acesso a outros territórios de Israel e as fronteiras são permanentemente fechadas. A solução para a Resistência Palestina para poder fazer o combate a Israel foi a construção de túneis bem profundos no território. É talvez o aproveitamento da experiência vietnamita, mas com maior desenvolvimento tanto das estruturas físicas como humanas. É sabido que há um verdadeiro exército subterrâneo com estocagem de armas e equipamentos. Há hospitais e locais para alimentação, uma verdadeira cidade subterrânea.
O Hamas instalou uma infraestrutura de comunicações “à prova de Israel” em sua vasta rede de túneis sob a Faixa de Gaza. Ele colocou dezenas de quilômetros de cabos com forte blindagem eletromagnética para evitar a interceptação do sinal. Instalados nos túneis mais modernos e muito mais profundos, eles estão quase completamente protegidos da espionagem israelense. Os cabos emitem mínima radiação eletromagnética e sua grande profundidade praticamente impede a detecção do sinal.
Os túneis evoluíram de abrigos improvisados rudimentares a poucos metros de profundidade para estruturas sofisticadas, bem projetadas e revestidas de concreto que chegam a 20 metros de profundidade. Eles são também relativamente impermeáveis a bombardeios. As bombas não conseguem penetrar. Qualquer construção com mais de um metro de profundidade é relativamente segura. Destruir alvos escondidos abaixo desse limite requer munição especial.
Existem bombas especiais, destruidores de estruturas subterrâneas, projetados para atacar os alvos mais resistentes. Israel comprou uma série de bombas GBU-28 de 2.100 quilos especializadas em penetração profunda. Para usá-las, os israelitas em Gaza devem detectar com precisão a rota dos túneis. Eles não podem desperdiçar milhares de bombas lançadas aleatoriamente. Israel estuda usar gases tóxicos em seu interior, ou inundá-los com água do mar. Eles estão usando equipamentos especiais para captar sons mínimos no solo, mas parece que isso ainda não deu resultados práticos.
A resistência palestina relata destruição de muitos tanques israelenses e baixas de soldados judeus. Não há divulgação de grandes vitórias pelas Forças Armadas israelenses. O que se sabe é que o comprometimento de tropas estadunidenses na ofensiva por terra é evidente. Há relatos de pelos menos 5000 soldados de tropas estadunidenses envolvidos.
Os EUA negam oficialmente, mas é certo que há uma base secreta no deserto de Neguev, no topo do Monte Har Qeren, conhecida como Sítio 512. Trata-se de uma instalação de radar destinada a monitorar o céu em busca de ataques de mísseis contra Israel. O Pentágono assinou recentemente um contrato multimilionário para expandi-la. A instalação de US$ 35,8 milhões nunca foi anunciada publicamente, embora tenha havido uma inauguração em 2017, chamada de “histórica” pelo brigadeiro-general da Força Aérea israelense Tzvika Haimovitch. No entanto, um dia após a inauguração, os militares dos EUA negaram que se tratasse de uma base americana.
Resistência Palestina: a luta continua
As cinco forças de resistência palestina, a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), a Jihad Islâmica Palestiniana, a Frente Popular para a Libertação da Palestina e a Frente Popular para a Libertação da Palestina Comando Geral reuniram-se no dia 30 de outubro em Beirute para discutir o curso da Operação Al-Aqsa Flood contra Israel e o seu brutal ataque à Faixa de Gaza.
Na nota divulgada, a resistência palestina “saúda os mártires e todo o povo de Gaza, que enfrenta uma campanha organizada de extermínio, sublinhando que se orgulham da dignidade e da firmeza demonstradas na luta contra o inimigo sionista”. Declaram que “o povo palestino enfrenta um inimigo bárbaro que tem como alvo hospitais, mesquitas, igrejas, universidades e ambulâncias, e corta eletricidade, água, combustível, internet e comunicações móveis para nossas populações sitiadas.”
As organizações da resistência apelam à “unidade nacional como o principal pilar para enfrentar a guerra sionista de genocídio contra nosso povo, e rejeitar as tentativas do inimigo de dividir nosso povo”. “Pedimos às massas de nossa nação árabe e islâmica e aos povos livres do mundo que continuem seus movimentos para acabar com a agressão sionista-americana, abrir as travessias, fornecer ajuda humanitária e combustível e evacuar os feridos da Faixa de Gaza.”
A resistência palestina responsabiliza “os Estados Unidos da América pela guerra do genocídio contra o nosso povo, porque escolheram apoiar, escalar e participar na guerra do genocídio contra o nosso povo, o que exige uma resposta firme dos países árabes e islâmicos e dos povos amigos do nosso povo para pôr fim a este massacre contínuo do nosso povo palestino.”
Termina manifestando “confiança na vitória do nosso povo nesta guerra, enquanto travamos esta batalha para defender a nossa terra, o nosso povo e os nossos locais sagrados, e em nome da libertação, defendemos mais uma vez a autodeterminação e a criação de um Estado palestino com Jerusalém como capital.” A nota é assinada pelas “Brigadas de Resistência Nacional Palestina”.
Diante desse quadro dantesco do massacre dos palestinos, não podemos deixar de manifestar nosso apoio à resistência palestina que, ao que tudo indica, é a única esperança do povo palestino para a derrota dos agressores judeus e um futuro melhor para este povo heroico.