Um artigo publicado na Folha de S. Paulo no último dia 19 de agosto afirma que “Mulher e negro na política reduzem corrupção e aumentam projetos de inclusão, diz estudo”. O identitarismo promovido pela burguesia imperialista conduz o mundo a conclusões cada vez mais extravagantes.
Segundo os dados geniais apresentados pela pesquisa, “lideranças públicas femininas têm até 35% menos chances de se envolver em casos de corrupção do que as masculinas, enquanto líderes negros propõem três vezes mais leis e políticas públicas dedicadas à inclusão do que os não negros.”
O artigo é uma repetição dessa mesma ideia, de que mulheres e negros são muito mais benéficos para a política: “pessoas negras eleitas tendem a propor o triplo de leis e políticas públicas dedicadas à inclusão do que lideranças não negras” ou “Líderes do sexo feminino apresentam maior preocupação em promover propostas e ações relacionadas a saúde voltadas a mulheres e crianças quando estão em legislaturas estaduais.” Ou seja, segundo a pequisa citada pelo artigo, devemos crer que a cor da pele e o sexo são determinantes para mudar a política.
Não há nenhuma explicação ou interpretação minimamente aprofundada sobre os dados. O artigo limita-se a dizer que as “candidatas eleitas tendem a receber menos contribuições de campanha do que seus colegas homens, mas apresentam resultados semelhantes na implementação de políticas”.
Mas se é assim, o problema não está justamente nem na cor da pele, nem no sexo do político, mas na relação que o político tem com a burguesia, que é quem tem maiores condições de financiamento.
O artigo, no entanto, não vai a fundo desse problema por motivos óbvios. Quem encomendou a pesquisa foi a Fundação Lemann. Obviamente que Lemann, o homem mais rico do Brasil, não quer revelar que o problema não está na cor ou no sexo, mas na influência dos capitalistas sobre os políticos.
E aí, se fossemos levar ao pé da letra as colocações do artigo da Folha, temos que acreditar numa espécie de eugenismo moderno: o de que determinados seres humanos – no caso negros e mulheres – têm algum gene específico que os torna melhores políticos.
A ideia, colocada assim, é absurda, mas é o que os identitários defendem em última instância. O mais correto seria dizer que essa ideia é defendida mesmo por setores dos grandes capitalistas, como Jorge Paulo Lemann, que usam a demagogia identitária para seus próprios fins na política.
Antes que alguém se confunda, é bom lembrar: Lemann é um homem bastante branco. Mas, no caso dos capitalistas, isso parece não importar muito.
O que está por trás dessa ideia apresentada pela Folha, além do interesse do espertalhão Lemann de emplacar alguns candidatos negros e mulheres nas eleições, é a tese comum atualmente de que as classes sociais não existem mais.
Não importa se a pessoa é financiada pelo capitalista Jorge Paulo Lemann, desde que ela seja negra ou mulher. Basta votar nas mulheres e nos negros – se for uma mulher negra, melhor ainda.
Os brasileiros não deveriam ter dúvidas sobre a correção da teoria. Joaquim Barbosa, negro retinto, passou por cima da Constituição, prendeu dirigentes do PT e deu início ao golpe de Estado. Golpe este que derrubou a primeira e única mulher eleita presidente da República. Cada um desses casos, e podemos citar uma lista de outros, prova à sua maneira o absurdo da tese apresentada no artigo da Folha.