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Guerra na Ucrânia

A estranha “paz” da Esquerda Marxista

A “paz” defendida pela Esquerda Marxista é uma quimera, justamente porque sua política não enfrenta o imperialismo

O grupo Esquerda Marxista, corrente interna do PSOL, por meio de sua organização de juventude, Liberdade e Luta, lançou no dia 30 de junho um manifesto pelo imediato cessar fogo na Ucrânia. O manifesto intitula-se “Paz entre nós, Guerra aos senhores!” e o fundamento teórico e política de suas reivindicações pode ser resumido na seguinte passagem:

“Não há nenhum lado na guerra da Ucrânia que atenda aos interesses dos trabalhadores ou da juventude. Os regimes de Putin e Zelensky, a OTAN e o imperialismo norte-americano, são profundamente reacionários. Não apoiamos nenhum deles! A única posição que nos interessa é o cessar fogo imediato! Fim da OTAN e a luta para pôr abaixo o capitalismo. Viva o comunismo!”

A confusão é o traço essencial das colocações da Esquerda Marxista. O agrupamento afirma que, na Guerra da Ucrânia, os trabalhadores não devem escolher nenhum lado, pois tanto o “regimes” de Putin e Zelensky quanto a OTAN e o imperialismo norte-americana são “reacionários”. A confusão teórica e ideológica é flagrante. Esquerda Marxista compara “regimes” com nações. O “regime” de Putin é reacionário, assim como o imperialismo norte-americano.

Esquerda Marxista se reivindica uma organização trotskista. Vejamos, no entanto, as lições que o próprio Trótski ensinou a respeito da luta contra o imperialismo e do critério que as organizações políticas da classe operária deveriam adotar diante dela:

“Existe atualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto que, amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que lado do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil ‘fascista’ contra a Inglaterra ‘democrática’. Por que? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas.A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento revolucionário do proletariado inglês. É preciso não ter nada na cabeça para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. É preciso saber distinguir os exploradores, os escravagistas e os ladrões por trás de qualquer máscara que eles utilizem!” (Entrevista a Mateo Fossa, 1938) 

Por meio do exemplo do quadro político brasileiro dos anos de 1930, Trótski explica que o conflito entre nações não é “uma questão de democracia ou fascismo”, ou seja, de regimes políticos. Ele mesmo esclarece que no conflito entre o Brasil, dominado pelo “regime semi-fascista” do Estado Novo (um regime, podemos dizer, certamente mais reacionário do que o de Putin hoje), e a Inglaterra, dominada por um regime “democrático”, a classe operária não deveria hesitar: apoiaria sem pestanejar o Brasil “fascista” contra a Inglaterra “democrática”.

 A formulação confusa da Esquerda Marxista é típica das organizações da esquerda pequeno-burguesa que tremem, hesitantes, diante da magnitude dos acontecimentos da luta de classes mundial. Diferentemente do que fizeram em outras ocasiões, não se afirma no manifesto que a Rússia é um país imperialista. Fala-se simplesmente em “regime reacionário de Putin”, que se converte na verdade numa cobertura envergonhada para cobrir a tese do imperialismo russo.  

Este Diário vem pontuando desde o início da Guerra na Ucrânia o absurdo das posições que qualificam a Rússia como nação imperialista. Demonstrando já inúmeras matérias que a Rússia nem de longe possui os atributos essenciais de um país imperialista. As organizações políticas que se baseiam na tese do imperialismo russo não fazem mais do que favorecer o imperialismo norte-americano e seu braço armado, a OTAN, traindo de maneira inequívoca os interesses históricos dos trabalhadores.

A desorientação, a falta de bússola política e a confusão das formulações políticas se expressam na mais nova iniciativa da organização. Agora eles pedem a paz, um cessar fogo. Não podemos deixar de reconhecer que o empreendimento soa um pouco ridículo e bizarro.

O presidente Lula também defende a posição da paz na Guerra Ucrânia. Temos afirmado que a posição do dirigente máximo do PT contraria em alguma medida os interesses do imperialismo, cuja política consiste na continuação da guerra. O imperialismo pressiona para que o Brasil conceda o seu apoio à agressão da OTAN, mas Lula, pelos métodos que lhe são próprios, toma uma outra direção. Trata-se de uma posição relativamente progressista do presidente do PT.

Ocorre que com a Esquerda Marxista a situação não é a mesma. Não sendo chefe de Estado ou governo, nem tendo quaisquer funções diplomáticas, o pedido de paz expresso no cessar fogo imediato ganha ares de pura fantasia. As confusões na análise do conflito geram uma confusão ainda maior nas palavras de ordem, nas reivindicações. Esquerda Marxista poderia argumentar, porém, que seu chamado não é endereçado aos representantes dos Estados em conflito, a Putin, Biden ou Zelensky, mas aos trabalhadores do mundo. Os trabalhadores é que deveriam impor a paz.

E nesse ponto retornamos ao problema inicial. Como conseguir a paz sem lutar contra o imperialismo? Se a Rússia é imperialista e os EUA também, como fazer? Esquerda Marxista, na verdade, não encontra uma saída concreta para a situação e lança um fantástico pedido de cessar fogo. É preciso ter claro que o imperialismo é a principal mola para impulsionar a mobilização dos trabalhadores. Mas, então, é necessário ter claro onde está o imperialismo. “Nem Putin, nem Zelensky, nem OTAN” é uma palavra de ordem que justamente confunde, ao invés de esclarecer o problema.Seguindo as lições de Trótski, a classe operária não deve ter dúvida sobre qual lado ficar diante do conflito: deve ficar do lado da Rússia “reacionária” de Putin contra o imperialismo, sua polícia mundial (OTAN) e seus fantoches (Zelensky). Não há possibilidade de paz sem derrotar o imperialismo. A “paz” defendida pela Esquerda Marxista é uma quimera, justamente porque sua política não enfrenta o imperialismo.

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