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No Foro de São Paulo

A “esquerda que vive do dinheiro da USAID” no Peru

Presente no Foro de São Paulo, o ativista peruano Lionel Milton Falcón Guerra foi entrevistado pelo Diário Causa Operária. Na entrevista o ativista destacou a luta contra o golpe

Presente no Foro de São Paulo, o ativista peruano Lionel Milton Falcón Guerra foi entrevistado pelo Diário Causa Operária. Na entrevista o ativista destacou a luta contra o golpe no Peru e a necessidade de se lutar pela libertação de Julian Assange.

Lionel Milton Falcón Guerra: Meu nome é Lionel Milton Falcón Guerra. Sou ativista no Peru na luta contra a corrupção dos direitos humanos e pela restauração do direito democrático do Peru.

Diário Causa Operária: Você é jornalista, como é sua atividade após a entrada de Dina Boluarte?

Lionel Milton Falcón Guerra: Eu sou o diretor do jornal El Puka, que significa “vermelho” em castelhano. Fazemos parte do movimento da imprensa alternativa no Peru e nossa posição é clara. Defendemos a governabilidade democrática, o que implica o respeito aos direitos democráticos. Diante do golpe parlamentar ocorrido contra o presidente [Alberto] Castillo no Peru, que violou seus direitos constitucionais e o devido processo, e recordando a importância do direito à defesa, saímos em defesa desses princípios fundamentais da democracia.

Estamos organizados através do Sindicato Único Unitário de Trabalhadores de Imprensa e Comunicação Social do Peru, representado na Central de Trabajadores de la CGTP, que é uma central histórica fundada por José Carlos Mariátegui. No âmbito jornalístico, estamos vinculados à Felap, a Federação Latino-Americana de Jornalistas, com sede no México. Estamos engajados na luta social, acompanhando de perto os acontecimentos e cobrindo o que a imprensa corporativa e de direita não aborda, pois não estão interessadas nas demandas do movimento social. Seu interesse reside no controle do governo e na negociação dos recursos naturais do país. Nossa luta está focada nisso, é onde estamos posicionados.

Diário Causa Operária: Sobre a empresa corporativa, ela recebe apoio do governo, certo? De Dina Boluarte?

Lionel Milton Falcón Guerra: A questão é que a imprensa corporativa sempre existiu e sempre dependeu da publicidade estatal, que antes era enorme. No entanto, durante o governo Castillo, o investimento publicitário do Estado nos meios de comunicação foi limitado. Isso resultou em protestos naturais, já que esses meios enfrentaram dificuldades financeiras e não conseguiram cobrir os salários dos trabalhadores, por exemplo. Como resposta, eles começaram a coagir e pressionar o governo, buscando extorsão por meio de suas coberturas midiáticas, criando uma espécie de guerra de confronto direto.

No final, eles alcançaram seu objetivo, pois apoiaram o golpe parlamentar que destituiu o presidente Castillo. Como resultado, voltaram a receber apoio publicitário do Estado, pois Dina Boluarte distribuiu inicialmente 80 milhões de soles para quitar as dívidas pendentes que o governo tinha com eles. Agora, a imprensa pactuada está feliz e tranquila, não ousando criticar sequer um aspecto negativo do governo de Boluarte. Em outras palavras, essa imprensa serve aos interesses das grandes transnacionais e consórcios, são empresas comerciais no Peru.

A dívida publicitária, a parte do orçamento destinada a eles, é distribuída entre a grande mídia, que são entidades corporativas de famílias burguesas. Elas sobreviveram a todos os governos e sempre se mantiveram lá com uma imprensa chantagista. Ao longo dos governos, elas ameaçaram, chantagearam e pressionaram, sempre saindo com o que queriam. No governo Castillo, quando o investimento publicitário foi limitado, esses meios começaram a protestar e a se aliar à direita para contribuir com o golpe parlamentar. E até hoje, com Boluarte no poder, eles estão satisfeitos. Não há investigações nem notícias diárias contra o governo, mesmo que esteja conivente com a direita e com alguns setores da esquerda. Ou seja, como dizemos no Peru, eles estão financeiramente garantidos, e para eles, notícias significam manchetes de assassinatos, homicídios e sequestros, mas não têm interesse em atender às demandas sociais ou lidar com os grandes problemas nacionais.

Diário Causa Operária: Você falou sobre essa esquerda financiada…

Lionel Milton Falcón Guerra: No Peru, usamos o termo “esquerda Caviar” ou “esquerda USAID” para descrever um grupo que realiza trabalhos políticos e sociais financiados por organizações não-governamentais (ONGs). A USAID é uma fachada legal utilizada pelo império norte-americano como pretexto, operando sob a sombra da ajuda da CIA. Essas organizações se infiltram nos movimentos sociais, compram lideranças e limitam sua atuação, tirando o perfil de rebelião e luta consistente. A mesma USAID financiou as campanhas das guarimbas na Venezuela, gerenciou os protestos na Bolívia contra o governo Evo e apoiou os bloqueios de estradas na Nicarágua. Em resumo, essa é a esquerda que depende do dinheiro da USAID, apesar de, no passado, terem protestado em frente à Embaixada dos Estados Unidos contra as invasões no Oriente Médio.

Agora, eles vão à embaixada não para protestar, mas para buscar financiamento e esmolas, desviando e enfraquecendo o perfil da luta popular no Peru. Chamamos essa esquerda de “esquerda caviar” ou “esquerda da USAID”. É a esquerda que o império precisa para confundir o povo. Em certas circunstâncias, essa esquerda alcança cargos políticos, distrai e confunde a população. Dentro do movimento social, político e popular no Peru, lutamos contra essa “esquerda caviar” ou “esquerda da USAID”.

Precisamos enfrentar o principal inimigo, que é o imperialismo, mas também seus agentes nativos e clandestinos que estão presentes nos próprios movimentos sindicais, populares e sociais, como as ONGs. Embora afirmem ajudar os pobres e contribuir para o desenvolvimento, essas organizações trabalham clandestinamente para enfraquecer o espírito combativo das lutas populares e manter o status quo indefinidamente. Essa esquerda não busca a libertação, a luta e a mudança; ela busca conformar o povo e promover reformas superficiais, mantendo as coisas como estão. Esse é o lema principal desse grupo.

Diário Causa Operária: Qual é a relação do governo Boluarte com essas ONGs?

Lionel Milton Falcón Guerra: Eles controlam as ONGs que se dedicam a assessorar, assinam convênios com os ministérios e aí estão. Ou seja, sempre estiveram em quase todos os governos, estiveram com Ollanta Humala, estiveram com Toledo no partido, no governo Apra também estiveram. Quero dizer, é assim que eles se chamam de técnicos. Sim. Esses treinados para saberem de políticas públicas, logicamente eles conhecem, mas o que acontece? Eles servem a um modelo de conservadorismo. Eles servem a um modelo de status quo para mantê-lo indefinidamente. Então eles estão em todos os lugares. Em outras palavras, eles são os funcionários dos governos. Ou seja, não ganham eleições se conquistam cargos no aparato do Estado e a partir daí passam a dirigir e orientar os governos. Algumas vezes chegaram até a assessorar presidentes, ou seja, são co-responsáveis ​​pela crise que o país vive.

Diário Causa Operária: Você está vestindo uma camisa Assange. Qual a importância dessa campanha?

Lionel Milton Falcón Guerra: Fazemos parte do capítulo mundial no Peru da luta pela libertação de Assange. Acreditamos que Assange expôs de forma contundente o funcionamento do imperialismo, e seu caso representa uma perversa violação dos direitos humanos. Ele se tornou um ícone da liberdade de expressão. Todos os comunicadores e jornalistas do mundo devem se unir em busca de sua libertação, pois ele está enfrentando um processo ilegal, abusivo e arrogante, que visa entregá-lo à justiça dos Estados Unidos, onde ele enfrentaria uma sentença de morte. Precisamos evitar sua extradição e lutar por sua liberdade.

Acreditamos que uma corrente global de pressão, envolvendo governos progressistas e movimentos de libertação, juntamente com os movimentos sociais, pode alcançar resultados significativos, assim como fizemos no caso de Lula. A pressão e a força dos povos contribuíram para que o caso de Assange fosse internacionalmente reconhecido e a injustiça que ele está sofrendo fosse exposta. Tive a sorte de apertar a mão de Lula, livre e presidente do Brasil. Agora, é urgente libertar os jornalistas comprometidos com o povo, que desempenham um papel fundamental em suas atividades diárias. Temos a obrigação de lutar e também de condenar a traição de Lenín Moreno, que, traindo a revolução cidadã no Equador, colocou Jorge Glas na prisão e o entregou ao governo britânico, retirando o asilo político que lhe foi concedido durante o mandato do presidente Correa.

Essa é uma luta árdua que todos devemos travar, cada um em sua localização geográfica, mas com um objetivo comum: exigir a libertação de Assange. Se Julian Assange morrer na prisão, jornalistas e mídias sociais terão a corresponsabilidade de não terem se manifestado a tempo em defesa da causa libertadora de Julian. É por isso que estamos aqui e estamos promovendo essa luta. Precisamos conscientizar e fazer com que todos entendam que nossa luta não se limita apenas aos mais conhecidos, mas também se estende aos desconhecidos. Porém, Julian Assange não é um desconhecido. Ele possuía informações que expunham as ações dos Estados Unidos no mundo, violando todos os direitos fundamentais, principalmente o direito à vida. É aqui que estamos, lutando. Convocamos os comunicadores brasileiros a se unirem a nós, seja através de um tuíte, uma mensagem no Facebook ou outras redes sociais, uma carta pública de um sindicato, federação ou coletivo de jornalistas. Precisamos encaminhar essas ações para as Nações Unidas, para o governo do Reino Unido na Inglaterra, a OEA ou a ONU. Vamos fazer algo e, pelo menos, protestar e exigir sua liberdade.

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