O Estado de Israel tratou de pôr um ponto final na discussão a respeito do “terrorismo”. As barbaridades que o sionismo cometeu só nesta última semana transformaram qualquer ação do Hamas e das organizações de luta palestina em brincadeira de criança.
Nas redes sociais, as imagens de crianças palestinas mortas, numa quantidade industrial, são chocantes. O Ministéria da Saúde de Gaza aponta que, até a data em que esta coluna foi escrita (23/10), mais de 4.000 palestinos foram assassinados, sendo quase 2.000 crianças. Outros quase 14.000 palestinos estão feridos desde o dia 7 de outubro, data da ofensiva militar do Hamas. São os números oficiais, na maioria das vezes muito aquém do que de fato aconteceu.
O Estado de Israel oferece, diante dos olhos do mundo inteiro, uma prova de que consiste numa organização nazista. Quando falamos “organização nazista”, não recorremos a mera figura de linguagem. Não! Trata-se de caracterização científica, objetiva. O Estado de Israel promove, neste exato momento, uma chacina de proporções colossais, um massacre cujo objetivo (político) é exterminar, inclusive fisicamente, não só as direções políticas que conduzem a luta palestina ― o Hamas é a principal delas ― mas também a sua base social de sustentação, o próprio povo palestino. Não há outra qualificação senão a de Estado nazista.
O Hamas luta de armas na mão. Ao assim fazê-lo, adota uma posição que, sim, é revolucionária, mas que também é algo próprio do bom senso. Como não fazê-lo diante de 75 anos da política de extermínio sistemático do Estado de Israel?
A posição do governo Lula na questão foi, sem dúvida, a mais baixa, considerando todos os seus três mandatos. Absteve-se de apoiar a proposta russa de cessar-fogo na ONU e submeteu à organização uma proposta, cheia de concessões ao imperialismo, que foi rechaçada pelos EUA. Passou vergonha!
Ainda mais vergonhosa é a postura de organizações que se dizem revolucionárias e marxistas. O Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), um racha antigo do PSTU que há tempos tenta entrar no PSOL, declarou no seu sítio Esquerda Diário que “Estamos ao lado da resistência do povo palestino, sem que isso implique compartilhar da estratégia e dos métodos do Hamas, que visa estabelecer um Estado teocrático de caráter burguês”.
Qual a estratégia do Hamas? Criar um Estado palestino. Qual o método do Hamas? A luta armada. Pois bem: o MRT não compartilha de tal estratégia e tal método. Aguardamos então que o MRT ensine aos pobres e limitados palestinos, estes mesmos que, sob a liderança do Hamas e de outras organizações de luta, empreenderam uma ousada, inédita e histórica ação no dia 7 de outubro de 2023, qual a melhor estratégia e o melhor método.
Não precisamos aguardar, na verdade. Já sabemos qual será o ensinamento. “Os palestinos devem realizar já a revolução socialista e criar já a Palestina socialista”, professam os grandes “revolucionários” do MRT.
A primeira condição para transformar a realidade é reconhecê-la tal como ela é. E a realidade da luta palestina impõe reconhecer: quem dirige a luta dos palestinos contra o Estado nazista de Israel é o Hamas. O MRT quer simplesmente passar por cima da realidade. Na prática, ou seja, na realidade, tudo o que faz é, de maneira mascarada, criticar a luta dos palestinos. Tenhamos claro: apoiar a luta dos palestinos e criticar a “estratégia” e os “métodos” do Hamas é, ao fim e ao cabo, estar contra a luta dos palestinos. Essa é a posição do MRT e trata-se de uma posição absolutamente vergonhosa.
O MRT adotou semelhante posição por um motivo fácil de explicar. A organização capitulou diante da pressão do imperialismo. À ofensiva do Hamas o imperialismo respondeu com uma campanha contra o “terrorismo”. Uma campanha cínica, canalha, repleta de mentiras (como a dos 40 bebês decapitados). O MRT procurou se adaptar à pressão do imperialismo e formulou a equação segundo a qual apoiaria os palestinos sem apoiar o Hamas, algo simplesmente farsesco.
Acontecimentos como os que estamos presenciando exigem das organizações políticas de esquerda uma postura decidida e consequente, sem vacilações. O MRT, definitivamente, não passou na prova de fogo dos grandes acontecimentos da luta de classes.