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França

A “democracia” europeia se desmancha

Diante da necessidade do imperialismo francês de conter a revolta popular, Macron se desloca mais à direita.

Conforme vem sendo relatado por este Diário nas últimas semanas, nova mobilização de massas tomou conta das ruas francesas, em razão do assassinato, pela polícia, de um jovem proletário de 17 anos, de descendência marroquina e argelina. O assassinato, que se deu em Nanterre, foi alvo de protestos imediatos, os quais rapidamente se espalharam pelas principais cidades francesas.

Ao contrário do que ocorreu com as mobilizações contra a reforma da previdência, que foram convocadas pelas principais centrais sindicais da França, e duraram cerca de cinco meses, os presentes protestos eclodiram de forma espontânea. A morte de Nahel foi um estopim para que a revolta que estava contida no seio de uma juventude sem perspectivas, esmagada pela política neoliberal do imperialismo, viesse à tona de forma explosiva.

Com o protagonismo da juventude e a ausência das burocracias sindicais, as manifestações mostraram intensa radicalização desde o início. Por um lado, os jovens tendem a ser a parcela mais radicalizada da população, em especial se tratando da juventude operária. São, em geral, os que possuem a maior disposição para a luta, tendo pouco ou quase nada a perder. Por outro lado, sem a liderança dos sindicatos, o governo Macron não tinha espaço para negociar uma saída institucional para a crise.

Foi necessário, então, a Macron lançar mão de toda a medida repressiva que estava a seu alcance. Milhares de policiais e gendarmes foram comandados para reprimir os protestos. Por si só, não foi suficiente. Apesar da repressão, a juventude não se acovardou diante do aparato repressivo, enfrentando o mesmo. O representante dos banqueiros, então, teve de mobilizar mais tropas. Cerca de 45 mil agentes foram postos para reprimir os protestos.

A situação pré-revolucionária impôs a Macron a necessidade de se deslocar mais à direita, aprofundando o caráter reacionário de seu governo.

Para além da repressão por meio da violência policial, o Palácio do Eliseu planeja outras formas de repressão. Dentre elas, a imposição de multa às famílias dos jovens que participarem em protestos considerados violentos. A lógica anunciada seria forçar os pais a educarem seus filhos. Algo profundamente direitista e reacionário, fazendo cair a máscara de liberal do presidente francês, propagandeada pela imprensa burguesa.

Outra medida proposta pelo “democrata” seria restringir o uso de redes sociais, deletando mensagens convocando para protestos populares. Caso necessário, o bloqueio das redes também não estaria descartado. Em última instância, usuários das redes sociais seriam responsabilizados criminalmente pela convocação de protestos considerados ilegais (i.e, quaisquer protestos que possam produzir algum resultado).

Não satisfeito, o Estado francês se prepara para legalizar a espionagem de seus cidadãos, a fim de monitorá-los para aumentar a efetividade na conteção de novos protestos.

Na noite da última quarta-feira (5), parlamentares aprovaram projeto de lei para reformar o sistema judiciário, incluindo uma cláusula que permite à política ativar remotamente a câmera, o microfone e o GPS de dispositivos eletrônicos de suspeitos (ou seja, manifestantes, militantes políticos). Tudo bem, é verdade que esse tipo de espionagem já é realizado em grande extensão pelo aparato de repressão dos Estados imperialistas. Contudo, a legalização dessa conduta certamente aumentaria exponencialmente o escopo da vigilância sobre a população. Uma medida totalitária, à la 1984, ou seja, digna de um regime abertamente fascista. Nem um pouco condizente com a propaganda de maior democracia da Europa Ocidental, feita incessantemente pelo imperialismo.

Em paralelo a todas essas medidas repressivas do Estado francês, centenas de fascistas foram vistos marchando e agredindo manifestantes em inúmeras cidades da França. Em outras palavras, com a insuficiência das medidas repressivas tradicionais de um Estado burguês “democrático”, foi necessário à burguesia francesa aceitar e/ou recorrer à ação das hordas de extrema-direita nas ruas, que agiram, em várias ocasiões, com a conivência da polícia.

Quando um regime propagandeado como democrático vê-se diante da necessidade de recorrer à ação direta de milícias fascistas, estamos diante de um claro deslocamento à direita.

Levando em conta apenas os acontecimentos desse ano, o pseudo-democrata Emmanuel Macron já mostrara um deslocamento à direita quando das mobilizações contra a reforma da previdência. Para tal reforma ser aprovada, o presidente neoliberal, ao constatar que não tinha alcançado a votação mínima para sua aprovação, atropelou a vontade do parlamente e, o que é mais grave, a vontade de milhões de operários mobilizados nas ruas. Na ocasião, Macron agiu como um verdadeiro Bonaparte (no sentido pejorativo da palavra).

Agora, com os recentes protestos, seu deslocamento à direita é mais acentuado ainda. Está apostando todas as fichas na atuação do aparato de repressão, na aprovação de nova legislação repressiva e, até mesmo, na mobilização das hordas fascistas.

A farsa do presidente “democrata”, “liberal” mostra-se cristalina. Com o deslocamento de Macron e do regime político francês à direita, desmancha-se o principal pilar da tão propagandeada “democracia europeia”.

Esse deslocamento não parece ser pontual, mas sistemático e progressivo. Desde que Macron foi eleito para seu primeiro mandato, a extrema-direita só fez crescer. No que diz respeito à utilização do fascismo para a contenção da classe operária, trata-se de uma medida a ser utilizada apenas em último caso, pois a burguesia sabe que não consegue controlar os cachorros loucos da extrema-direita da forma que deseja. Assim, para evitar lançar mão de um regime abertamente fascista, é possível que a burguesia tente esgotar todas as possibilidades, o que incluí fazer com que um pseudo-democrata de sua confiança se torne mais repressivo do que já é, a fim de mostrar sua mão firme perante parte da população e, por conseguinte, se opor um político de sua confiança ao crescimento eleitoral da extrema-direita.

Quanto tempo irá demorar para que a burguesia dos países imperialistas da Europa Ocidental (França incluso) veja-se diante da necessidade de instituir um Estado burguês fascista? Ainda não é possível dizer. Mas parece seguro dizer que os caminho está sendo pavimentado, com o aumento progressivo da repressão. E assim, as tradicionais democracias europeias vão se desmanchando.

A única forma de lutar contra o aprofundamento da ditadura da burguesia é fazer avançar a luta de classes. Dada crise econômica e a situação política explosiva decorrente dela, novos protestos inevitavelmente surgirão. Quando isto ocorrer, será necessária a intervenção revolucionária da classe trabalhadora e de sua vanguarda. Caso suas direções não estejam à altura da situação, novas deverão ser formadas no decorrer da luta.

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