A filósofa Márcia Tiburi publicou uma coluna no portal Brasil 247 com o título “Auschwitz não cessa de se repetir”.
Tiburi se mostra indignada com o genocídio em Gaza, mas sua interpretação do que está acontecendo é um encobrimento do problema. Sua tese central é a de que o conflito seria movido pelo “ódio” e apela para a “paz e a conciliação”, concluindo que tudo é um produto do “patriarcado capitalista”.
“Devemos nos perguntar se serão livres os nossos sentimentos diante disso? Conseguimos pensar em conciliação e paz? Conseguimos sentir compaixão? Ou sentimos apenas ódio por um dos lados, quando os promotores da tragédia se igualam em capacidade de matança?
“Podemos separar a justa crítica aos Estados violentos – sua tirania, seu fascismo – e os extratos de ódios atávicos que muitas vezes encenamos se nem saber por quê?
“De fato, não há apenas ódio nessa guerra. No mundo palestino e israelense há inúmeras pessoas que se esforçam por um caminho de paz.”
Difícil saber se uma criança teria uma interpretação tão inocente de um problema da envergadura histórica como a do atual conflito. Tiburi roga pela “compaixão” e questiona: “por que há tanto ódio nessa guerra?” E elogia israelenses e palestinos que “se esforçam pela paz”.
Sem ironia, a paz seria algo muito maravilhoso no mundo, o problema é que ela não existe. O problema é que o imperialismo oprime os povos de uma tal maneira que sem que apareçam grupos revolucionários como o Hamas não adianta falar em paz.
Falar em paz num caso como o da Palestina é simplesmente apoiar o massacre que está ocorrendo em Gaza. Para conseguir qualquer coisa parecida com a paz, os palestinos precisam pegar em armas e se livrar do Estado de Israel. Sem essa violência legítima, falar em paz é defender o opressor.
E a conclusão de Tiburi é o que revela a sua confusão. Para ela, não existe imperialismo, o que existe é um tal “patriarcado capitalista”.
“Sabemos que todas as respostas passam pelo fim do patriarcado capitalista que goza com o extermínio de indivíduos e grupos. Não é possível viver em paz no patriarcado”.
O capitalismo é só um detalhe, importante mesmo é o “patriarcado”. Tiburi não explica o que seria esse patriarcado tão assassino. Uma interpretação provável, levando em conta as besteiras ditas pelos identitários, é a de que para Tiburi, o problema se resume a alguma coisa como uma espécie de mentalidade machista no mundo todo.
E esse é mais um encobrimento do problema. Se a questão se resume a um abstrato “patriarcado”, então realmente tudo deve estar perdido. O problema do Brasil é “patriarcal”, como dizem os identitários. A Rússia é “patriarcal”. A China, idem. Os países do Oriente-Médio nem se fala.
Será que Tiburi considera que Israel e os EUA também são “patriarcais”. Mas isso não importa, porque se o problema de todos é o “patriarcado”, então não deveríamos estar do lado de ninguém. O genocida Estado de Israel e o imperialismo ficam igualados aos massacrados e oprimidos palestinos.
Eis a função reacionária dessas ideologias identitárias.