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Teoria Marxista

A Classe Trabalhadora e sua Imprensa

Texto publicado por Lênin entre 13 e 14 de Junho de 1914

Não há nada mais importante para os trabalhadores com consciência de classe do que ter uma compreensão do significado de seu movimento e um conhecimento completo dele. A única – e invencível – fonte de força do movimento operário é a consciência de classe dos trabalhadores e o amplo escopo de sua luta, ou seja, a participação nela das massas dos trabalhadores assalariados.

A imprensa marxista de São Petersburgo, que já existe há anos, publica material exclusivo, excelente, indispensável e facilmente verificável sobre o escopo do movimento da classe trabalhadora e as várias tendências que nele predominam. Somente aqueles que desejam esconder a verdade podem ignorar este material, como o fazem os liberais e os liquidacionistas(1).

Números completos sobre as coletas feitas para os jornais pravdista (marxista) e liquidacionista em São Petersburgo, no período entre 1 de Janeiro e 13 de Maio de 1914, foram compilados pelo camarada V.A.T.(2) Publicamos sua tabela na íntegra abaixo, e vamos citar números arredondados no corpo deste artigo quando surgir a ocasião, para não sobrecarregar o leitor com estatísticas.

A seguir está a tabela do Camarada V.A.T. (ver pp. 364-65). Antes de tudo, trataremos dos números que mostram o número de grupos de trabalhadores. Esses números cobrem todo o período de existência dos jornais pravdista e liquidacionista.

Número de grupos de trabalhadores:

Apoiando o jornal
pravdista
Apoiando o jornal
liquidacionista
Para 1912………62089
Para 1913………2 181661
1914, de 1/JAN até 13/MAI2 873671
Total5 6741 421

Coletas dos jornais marxista (pravdista) e liquidacionista em São Petersburgo de 1 de Janeiro até 13 de Maio de 1914

COLETAS FEITAS PORSÃO PETERSBURGOMOSCOUPROVÍNCIASTOTAL
PravdistaLiquidacionistaPravdistaLiquidacionistaPravdistaLiquidacionistaPravdistaLiquidacionista
No(3)rublos(4)NorublosNorublosNorublosNorublosNorublosNorublosNorublos
Grupos de trabalhadores2 02413 943,243082 231,98130865,0025263,527194 125,863382 800,622,87318 934,106715 296,12
Total de não trabalhadores incluindo:3251 256,921651 799,4046260,51241 137,303321 082,792302 113,907132 650,014536 759,77
Grupos de estudantes e jovens26369,4919292,138119,30321,0020162,1323317,0954650,9245630,22
Grupos de “adeptos”, “amigos” etc8164,0014429,25642,105892,0028252,72351 129,3542458,82542 450,60
Outros grupos28,00672,6012,0030115,2924113,5233125,2930186,12
Indivíduos281650,96120966,722963,6114197,30221332,05132443,805311 046,622661 608,32
Não especificados864,47638,70233,50226,5033220,6016110,1443318,5724175,34
Do exterior1049,79341 709,17
Total2 34915 200,164734 103,381761 125,51491 400,821 0515 208,655684 914,523 58621 584,111 12412 055,89

O número total de grupos é 7 095. Claro, existem grupos que fizeram várias contribuições, mas não há dados disponíveis para estes casos.

Vemos que apenas um quinto do número total de grupos de trabalhadores simpatiza com os liquidacionistas. Em dois anos e meio, o pravdismo, as decisões pravdistas e as táticas pravdistas uniram quatro quintos dos trabalhadores com consciência de classe da Rússia. Este fato da unidade dos trabalhadores pode muito bem ser comparado com as frases sobre “unidade” proferidas por vários grupelhos de intelectuais, os vperyodists, plekhanovistas, trotskistas etc., etc.

Comparemos os números de 1913 e 1914 (os de 1912 não são comparáveis, porque o Pravda surgiu em abril, e o Luch cinco meses depois). Veremos que o número de grupos pravdistas cresceu para 692, i.e, 31,7%, enquanto que os grupos liquidacionistas cresceram para 10, i.e., 1,5%. Consequentemente, a prontidão dos trabalhadores para apoiar os jornais pravdistas cresceu 20 vezes mais que sua disposição para apoiar os jornais liquidacionistas.

Vejamos como os trabalhadores em diversas partes da Rússia estão divididos de acordo com a tendência:

% do total de grupos de trabalhadores
PravdistaLiquidacionista
São Petersburgo8614
Moscou8317
Províncias6832

A inferência é clara: quanto mais politicamente desenvolvidas são as massas dos trabalhadores, e quanto mais alto é seu nível de consciência de classe e atividade política, maior é o número de pravdistas entre eles. Em São Petersburgo, os liquidacionistas foram quase completamente deslocados (14 de 100); eles ainda possuem uma influência precária nas províncias (32 de 100), onde as massas são politicamente menos educadas.

É altamente instrutivo observar que os números de uma fonte totalmente diferente, a saber, aqueles que dão o número de delegados dos trabalhadores eleitos durante as eleições do Conselho de Seguros, correspondem em um grau notável aos dos grupos de trabalhadores. Durante a eleição do Conselho de Seguros Metropolitano, foram eleitos 37 delegados pravdistas e 7 liquidacionistas, isto é, 84% e 16% respectivamente. Do número total de delegados eleitos, os pravdistas constituíam 70% (37 de 53), e na eleição do Conselho de Seguros de Toda a Rússia eles obtiveram 47 de 57, i.e., 82% Os liquidacionistas, não-partidários e narodnistas formam uma minoria de trabalhadores, que ainda permanecem sob a influência burguesa.

Prosseguindo. Os seguintes são números interessantes sobre a quantidade média coletada por grupos de trabalhadores:

Quantidade média coletada por grupos de trabalhadores
Pravdista (rublos)Liquidacionista (rublos)
São Petersburgo6,887,24
Moscou6,6510,54
Províncias5,748,28
Toda a Rússia6,587,89

Os grupos pravdistas demonstram uma tendência natural, compreensível e, por assim dizer, normal: a contribuição média de grupos de trabalhadores aumenta com o aumento dos rendimentos médios das massas trabalhadoras.

No caso dos liquidacionistas, vemos, além do surto nos grupos de Moscou (os quais são apenas 25 ao todo!) que as contribuições médias dos grupos das províncias são superiores às dos grupos de São Petersburgo! Como explicar este fenômeno estranho?

Apenas uma análise mais detalhada dos números poderia prover uma resposta satisfatória para esta questão, mas esta seria uma tarefa trabalhosa. Nossa conjectura é de que os liquidacionistas unem a minoria dos trabalhadores melhor remunerados em certos setores da indústria. Foi observado por todo o mundo que tais trabalhadores se apegam a ideias liberais e oportunistas. Em São Petersburgo, os que mais aguentaram os liquidacionistas foram os tipógrafos, e foi somente durante as últimas eleições em seu sindicato, em 27 de abril de 1914, que os pravdistas conquistaram metade das cadeiras no Executivo e a maioria das cadeiras para suplentes. Em todos os países, os impressores são mais inclinados ao oportunismo, e alguns deles são trabalhadores bem pagos.

Se a nossa conclusão sobre a minoria dos trabalhadores, a aristocracia dos trabalhadores, estar em simpatia com os liquidacionistas é meramente conjectural, não pode haver nenhuma dúvida no que diz respeito aos indivíduos. Das contribuições feitas por não trabalhadores, mais da metade veio de indivíduos (531 de 713 no nosso caso, 266 de 453 no caso dos liquidacionistas). A contribuição média desta fonte em nosso caso é R. 1,97 enquanto entre os liquidacionistas é de R. 6,05!

No primeiro caso, as contribuições obviamente vieram de trabalhadores de escritório com baixas remunerações, funcionários públicos etc., e dos elementos pequeno-burgueses de caráter semiproletário. No caso dos liquidacionistas, porém, vemos que eles têm amigos ricos entre a burguesia.

Estes amigos ricos dentre a burguesa assumem uma forma ainda mais definida como “grupos de adeptos, amigos, etc”. Estes grupos coletaram R. 458,82 para nós, i.e., 2% do total arrecadado, a doação média por grupo sendo R.10.92, que é apenas a metade da doação média de grupos de trabalhadores. Para os liquidacionistas, entretanto, estes grupos coletaram R. 2 450,60, i.e, acima de 20% do total coletado, a doação média por grupo sendo R. 45,39, i.e, seis vezes a média coletada por grupos de trabalhadores!

A isto somamos as coletas que foram feitas no exterior, onde os estudantes burgueses são os principais contribuintes. Nós recebemos R. 49,79 desta fonte, i.e., menos de um quarto de 1%; os liquidacionistas receberam R. 1 709,17, i.e., 14%.

Se adicionarmos as contribuições individuais, “adeptos e amigos” e as contribuições feitas no exterior, o montante total arrecadado destas fontes é o seguinte:

Pravdistas – R. 1 555,23 i.e, 7% do total de contribuições.

Liquidacionistas – R. 5 768,09, i.e, 48% do total de contribuições.

Desta fonte nós recebemos menos de um décimo do que recebemos de grupos de trabalhadores (R. 18 934). Esta fonte deu aos liquidacionistas mais do que eles receberam dos grupos de trabalhadores (R. 5,296)!

A inferência é clara: o jornal liquidacionista não é um jornal operário, mas sim um jornal burguês. Ele se mantém principalmente com fundos contribuídos por amigos ricos dentre a burguesia.

De fato, os liquidacionistas são de longe muito mais dependentes da burguesia do que nossos números mostram. Os jornais pravdistas frequentemente publicam seus relatórios financeiros para informação pública. Estes relatórios financeiros mostraram que nosso jornal, ao adicionar contribuições à sua renda, está pagando suas contas. Com uma circulação de 40.000 exemplares (a média em maio de 1914), isso é compreensível, apesar dos confiscos e da escassez de anúncios. Os liquidacionistas, entretanto, publicaram seu relatório apenas uma vez (Luch No. 101), mostrando um déficit de 4.000 rublos. Após isso, eles adotaram o costume burguês usual de não publicar relatórios. Com uma circulação de 15 000 exemplares, seu jornal não pode evitar um déficit, e evidentemente isso é repetidamente coberto por seus amigos ricos dentre a burguesia.

Os políticos do trabalho liberais gostam de lançar insinuações sobre um “partido aberto dos trabalhadores”, mas eles não gostam de revelar para os verdadeiros trabalhadores sua real dependência para com a burguesia! É deixado a nós, trabalhadores “clandestinos”, ensinar aos liberais liquidacionistas o benefício de relatórios abertos.

A proporção geral de coletas de trabalhadores e não trabalhadores é a seguinte:

Coletado porDe cada rublo coletado por
Jornais PravdistasJornais Liquidacionistas
Trabalhadores87 copeques44 copeques
Não-trabalhadores13 copeques56 copeques
Total1,00 rublo1,00 rublo

Os pravdistas obtêm um sétimo de suas arrecadações de ajuda da burguesia e, como vimos, de seus setores mais democráticos e menos abastados. O empreendimento liquidacionista é em grande parte um empreendimento burguês, que é sustentado apenas por uma minoria dos trabalhadores.

Os números sobre as fontes de fundos também nos revelam o status de classe dos leitores e compradores dos jornais.

As contribuições voluntárias são feitas apenas por leitores regulares, que mais inteligentemente simpatizam com a tendência de determinado jornal. Por sua vez, a tendência de determinado jornal, quer queira quer não, “se adapta” espontaneamente ao segmento mais “influente” de seu público leitor.

As deduções que se seguem de nossos números são, primeiro, teóricas, i.e., tais que ajudem a classe trabalhadora a compreender as condições de seu movimento e, em segundo lugar, deduções práticas, que nos darão orientação direta em nossas atividades.

Por vezes é dito que não há uma imprensa da classe trabalhadora na Rússia, mas duas. Até mesmo Plekhanov repetiu esta afirmação não faz muito tempo. Mas isso não é verdade. Aqueles que dizem isto revelam pura ignorância, se não um desejo secreto de ajudar os liquidacionistas a espalhar a influência burguesa entre os trabalhadores. Há muito tempo e repetidamente (por exemplo, em 1908 e 1910), as decisões do Partido claramente, definitivamente e diretamente apontavam a natureza burguesa do liquidacionismo. Artigos na imprensa marxista explicaram esta verdade centenas de vezes.

A experiência de um jornal diário, que apela abertamente às massas, estava fadada a revelar o verdadeiro caráter de classe da tendência liquidacionista. E foi isto que aconteceu. O jornal liquidacionista provou, de fato, ser um empreendimento burguês, que é apoiado por uma minoria de trabalhadores.

Além disso, não nos esqueçamos que quase até a primavera de 1914 o jornal liquidacionista era o porta-voz do bloco de agosto. Só recentemente os letões retiraram-se dele, e Trotsky, Em-El, An, Buryanov e Yegorov deixaram, ou estão deixando, os liquidacionistas. A dissolução do bloco continua. O futuro próximo deverá revelar ainda mais claramente o caráter burguês da tendência liquidacionista e a esterilidade dos grupelhos intelectuais como os vperyodistas, plekhanovistas, trotskistas, etc.

As deduções práticas podem ser sumarizadas nos seguintes pontos:

  1. 5 674 grupos de trabalhadores unidos pelos pravdistas em menos de dois anos e meio é um número razoável, considerando as condições adversas encontradas na Rússia. Mas isto é apenas o começo. Nós precisamos não de milhares, mas de dezenas de milhares de grupos de trabalhadores. Nós precisamos intensificar nossas atividades dez vezes mais. Dez rublos coletados em copeques de centenas de trabalhadores são mais importantes e mais valiosos, tanto de um ponto de vista ideológico como organizativo, que centenas de rublos de amigos ricos dentre a burguesia. Mesmo do ponto de vista financeiro, a experiência prova que é possível dirigir um jornal operário bem estabelecido com a ajuda dos copeques dos trabalhadores, mas é impossível fazer o mesmo com a ajuda dos rublos burgueses. O empreendimento liquidacionista é uma bolha, que está fadada a estourar.
  2. Ficamos para trás nas províncias, onde 32% dos grupos de trabalhadores apoiam os liquidacionistas! Todo trabalhador com consciência de classe deve empreender todo esforço para pôr um fim a este lamentável e vergonhoso estado de coisas. Devemos colocar todo nosso peso para as províncias.
  3. Os trabalhadores rurais estão aparentemente ainda quase intocados pelo movimento. Por mais difícil que seja o trabalho neste campo, nós devemos avançar com ele da maneira mais vigorosa.
  4. Como uma mãe que cuidadosamente cuida de seu filho doente e lhe dá a melhor nutrição, os trabalhadores com consciência de classe devem cuidar mais dos bairros e fábricas onde os trabalhadores estão doentes com o liquidacionismo. Esta doença, que emana da burguesia, é inevitável em um movimento jovem de trabalhadores, mas com o cuidado adequado e tratamento persistente, passará sem quaisquer consequências graves. Fornecer aos trabalhadores doentes um alimento mais rico na forma de literatura marxista, explicar mais cuidadosamente e de forma mais popular a história e as táticas do Partido e o significado das decisões do Partido sobre a natureza burguesa do liquidacionismo, explicar mais detalhadamente a necessidade urgente da unidade proletária, i.e, a submissão da minoria dos trabalhadores à maioria, a submissão de um quinto aos quatro quintos dos trabalhadores com consciência de classe da Rússia – essas são algumas das tarefas mais importantes que enfrentamos.

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