O dirigente do PT, Alberto Cantalice, publicou um artigo no portal Brasil 247 chamado “O protofascismo naturalizou a barbárie” onde tenta analisar algumas causas para os recentes atos violentos ocorridos em escolas, em particular o caso de Blumenau. A tese central de sua coluna, como veremos adiante, não tem nada de nova e segue o que repetem os jornais burgueses: a culpa seria do armamento e do “discurso de ódio”.
“A recente tragédia ocorrida na creche de Blumenau (SC) chocou o país. A partir do mau exemplo vindo da disseminação de armas nas mãos da população, moda nos Estados Unidos, que vive uma verdadeira epidemia de chacinas, instalou-se aqui mais essa triste realidade, transportada para o Brasil, com a eleição de Jair Bolsonaro.”
Vejamos alguns pontos colocados pelo dirigente do PT. O primeiro é que ele atribui o caso em Blumenau à “disseminação” de armas. O problema é que o ataque sequer foi feito com armas de fogo. Assim como o caso recente na capital paulista, onde o estudante assassinou a professora a facadas. Cantalice tem o direito de ser contra as armas, mas não vai convencer ninguém ignorando o óbvio: nos casos levantados por ele as armas de fogo não foram o problema.
O argumento furado de Cantalice dá, inclusive, mais razão à ideia de que o problema é justamente armar a população para que se defenda. Seria exagerado dizer que o armamento dos professores na escola resolveria o problema, mas não é errado dizer que eles ao menos teriam condições de se defender.
O caso da creche em Blumenau comprova justamente o oposto do que dizem os desarmamentistas. Não é um problema de ter ou não armas de fogo, mas é um problema social. A causa de atos como esses não são as armas, mas uma sociedade totalmente doente que produz esse tipo de resultado horroroso.
O que Cantalice está fazendo é aproveitar o caso da creche para defender a sua política de desarmamento. É um argumento oportunista, além de totalmente furado.
Cantalice continua:
“O culto às armas com o discurso falso da autodefesa da população e a propalada facilitação da aquisição de armamentos pelos CACs- colecionadores, atiradores esportivos e caçadores, – transbordaram para o contrabando e a venda de armamento legal para as organizações criminosas pelo Brasil afora.”
Cantalice acredita que as organizações criminosas, que sempre estiveram armadas até os dentes, se beneficiaram com a legalização do armamento com os CACs. Acreditar nisso é crer que os criminosos de repente pensaram: “que tal deixarmos de ser criminosos e legalizarmos nossas armas, dando todos os nossos dados ao governo?” É uma ideia ridícula. Para defender a sua política, Cantalice é capaz dos mais absurdos raciocínios.
Não satisfeito em mostrar uma realidade que não existe para defender sua política de desarmamento, Cantalice muda sua trajetória de “pacifista desarmamentista” e vai para o outro extremo: quer punição exemplar.
“O estímulo que pode vir do submundo das mídias digitais exigirá das autoridades um aperfeiçoamento nos métodos investigativos e também uma atualização do Código Penal para punir as ações criminosas e estímulos aos atos preparatórios.”
O pacifista, num estalar de dedos, chega perto do fascismo. Quer medidas duras para punir os criminosos, no melhor estilo do “tolerância zero”. Ele quer aumentar a repressão a pretexto de frear os atos bárbaros como esses das escolas, alguém deveria perguntar ao colunista, que é dirigente do PT, um partido de esquerda, onde ele deixou os princípios tradicionais da esquerda de que o crime não se resolve com mais repressão, com mais violência contra o povo, mas com políticas públicas?
Parece que Cantalice se esqueceu disso tudo de tão convencido está pela propaganda ideológica da direita. É preciso dizer que se a solução é mais repressão, podemos deixar esse serviço para a direita, pois a polícia reprime o povo diariamente no País inteiro. E, pasmem!, essa repressão brutal não consegue conter a criminalidade.
Cantalice quer o povo desarmado, mas quer as polícias e o Judiciário o mais armado possível. O resultado disso: casos de violência como os da creche tendem a aumentar enquanto a repressão brutal contra o povo será cada vez maior.
Se o fascismo – ou, como quer Cantalice, “protofascismo” – é responsável pela barbárie, é certo também que sua solução para o problema mais ajuda o fascismo do que o inibe. A barbárie existe no Brasil há muito tempo, sempre existiu. Principalmente graças à política das instituições antidemocráticas que Cantalice quer fortalecer.