Gregório de Matos Guerra, nascido por volta de 1636 em Salvador, Bahia, e falecido em 1696 na mesma cidade, foi um dos mais destacados poetas do período barroco na literatura brasileira e é conhecido como “Boca do Inferno” devido à sua língua afiada e crítica. Sua vida foi marcada por uma mistura de talento literário, atividade política e uma personalidade irreverente.
Gregório de Matos pertencia a uma família abastada, sendo filho de Gregório de Matos e Maria da Guerra. Estudou no Colégio dos Jesuítas em Salvador e, posteriormente, na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde cursou Direito. Após completar seus estudos, retornou a Salvador em 1672 e começou a exercer a advocacia.
Além de sua carreira jurídica, Gregório de Matos era conhecido por sua participação ativa na vida política da Bahia. Ele esteve envolvido em diversos conflitos políticos e sociais da época, frequentemente expressando suas opiniões através de suas obras literárias.
Sua produção literária é marcada por uma linguagem rica e repleta de figuras de linguagem características do Barroco. Seus poemas abrangem temas diversos, desde críticas sociais e políticas até sátiras e poesia lírica. Gregório de Matos é especialmente reconhecido por suas sátiras mordazes que denunciam a hipocrisia e os costumes da sociedade colonial brasileira.
Em 1694, o acúmulo de acusações de difamação, em especial contra membros da igreja ou símbolos religiosos, resultou em uma deportação para Angola. A posição social do poeta e suas relações com figuras do poder ajudaram com isso a evitar o assassinato ou penas mais duras do que a deportação.
Em Angola, Gregório ajudou o governo português a combater uma conspiração militar e com isso foi autorizado a voltar ao Brasil. No entanto, proibido de voltar à Bahia. Acabou morrendo em Recife por conta de doença contraída ainda em Angola, aos 59 anos. Deixou uma vasta produção literária, onde conciliou rigor no estilo com um conteúdo livre das regras sociais da sua época. Mais um dos grandes escritores da língua portuguesa nascidos no Brasil.
Gregório de Matos deixou uma considerável produção poética, que abrange uma variedade de temas e estilos. Suas obras são geralmente classificadas em três categorias principais: lírica, satírica e religiosa. Alguns de seus poemas mais conhecidos incluem:
Lírica
- Soneto à Noite: este soneto expressa a beleza e o encanto da noite, utilizando imagens poéticas e elementos da natureza;
- A uma Dama que, vendo-se pintada: um poema lírico que reflete sobre a natureza efêmera da beleza e a vaidade da mulher que se pinta;
- Soneto à Morte: neste soneto, Gregório de Matos aborda a temática da morte, comum na poesia barroca, explorando aspectos filosóficos e existenciais.
Satírica
- Sátira aos Vícios: uma de suas sátiras mais conhecidas, onde critica os vícios da sociedade colonial brasileira, incluindo a corrupção, a hipocrisia e a moralidade duvidosa;
- Carta a Cotrim: uma sátira direcionada a um contemporâneo, na qual Gregório de Matos expressa suas opiniões de maneira contundente e irônica.
Religiosa
- Sermão da Sexagésima: embora seja mais conhecido por sua poesia, Gregório de Matos também escreveu sermões. “Sermão da Sexagésima” é um de seus mais famosos e trata da pregação eficaz;
- Sermão de Santo Antônio: outro exemplo de seu trabalho na forma de sermão, abordando temas religiosos e morais.
Gregório de Matos faleceu em 1696, deixando um legado literário que influenciou gerações posteriores de escritores e poetas. Sua obra continua sendo objeto de estudo e apreciação, destacando-se como uma representação importantíssima do Brasil colonial no século XVII.