O julgamento do Capitão Alfred Dreyfus, na França, em 1894, foi um episódio pioneiro de uma tática que vem sendo utilizada pela burguesia constantemente para abater seus inimigos políticos: o uso do judiciário como arma política.
Em 1894, a Terceira República da França, recém-organizada após o país ter sido derrotado na guerra Franco-Prussiana, assistia à Alemanha, já unificada, ascender como a mais nova potência militar e econômica do continente europeu.
Procurando fortalecer o seu exército e o sentimento nacionalista dos franceses, os militares decidiram criar um novo inimigo a ser combatido pelo nacionalismo: os judeus.
Alfred Dreyfus era um caso raro de judeu no exército francês, mas foi acusado de entregar documentos secretos para os alemães, após papéis dessa natureza serem encontrados por uma faxineira francesa no cesto de lixo da embaixada alemã na França. Condenado pelo judiciário militar à prisão perpétua por traição à pátria, o homem seria deportado para a Ilha do Diabo, na Guiana Francesa.
Inconformada com a condenação, que sabia ser fruto de uma fraude, a família de Dreyfus, em particular o seu irmão, Mathieu, iniciou uma investigação por conta própria a fim de provar a inocência do condenado.
Em março de 1896, o coronel George Picquart, chefe da contra-espionagem do exército francês, concluiu que o verdadeiro espião, na verdade, não era Dreyfus, mas o comandante Ferdinand Walsin Esterhazy.
Apesar das conclusões oferecidas por Picquart, o Estado-Maior se negou veementemente a reconsiderar o julgamento de Dreyfus e tentou se livrar de Picquart, enviando-o para o norte da África.
O irmão de Dreyfus, então após entrar em contato com políticos e jornalistas a fim de expandir a atenção pública para o caso, apresentou uma queixa contra Esterhazy no Ministério da Guerra.
O movimento em torno do caso Dreyfus foi ganhando um volume cada vez maior e as pessoas que participavam deles eram chamadas de “Dreyfusard”, dentre os quais havia diversos intelectuais.
Dentre esses intelectuais estavam o escritor libertário Émile Zola, que sobre o caso escreveu uma carta ao presidente francês que ficou conhecida pelo nome de “J’ accuse” ou “Eu acuso” onde o escritor acusa o judiciário francês de estar manipulando o caso Dreyfus para objetivos antissemitas e o sionista Theodor Herzl, que escreveria mais tarde o livro “O Estado Judeu”, obra que depois, serviria aos interesses escusos do movimento sionista na Palestina.
A atenção ao caso dividiu o país entre os apoiadores de Dreyfus e aqueles que o acusavam, dando lugar a gigantescas mobilizações em ambos os lados, os quais se dividiam não apenas a favor e contra Dreyfus, mas entre aqueles que defendiam os direitos humanos para todos e aqueles que defendiam o antissemitismo.
De fato, o exército francês havia sido bem-sucedido em seus objetivos e uma verdadeira onda de ódio aos judeus se perpetrou, principalmente pelas mãos dos setores de classe média, por toda a França.
Com os enormes protestos que passaram a incendiar o país, a justiça francesa foi obrigada a libertar Dreyfus da prisão, porém sem de fato inocentá-lo ou procurar reparar o dano que o havia causado.
Apenas em 1906, Alfred Dreyfus teve a sua inocência completamente reconhecida.
O caso Dreyfus é emblemático não apenas no que diz respeito ao uso do judiciário para perseguição política mas também do que realmente é o antissemitismo, a saber, a perseguição do Estado e seu aparato policial aos judeus, coisa que nos dias atuais é absolutamente inexistente.