Ailton Krenak é o mais novo membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele será o sétimo ocupante da cadeira 5, que já pertenceu a Bernardo Guimarães e Rachel de Queiroz.
A imprensa ligada à esquerda pequeno-burguesa fez questão de deixar expresso o seu entusiasmo. A psolista Mídia Ninja soltou rojões. “Histórico”, disse o órgão no Twitter. Mas a imprensa da direita não ficou atrás. Em praticamente todos os principais veículos da burguesia, comemorou-se a eleição do “primeiro indígena” para a Academia Brasileira de Letras. Merval Pereira, outro “imortal” e um dos principais porta-vozes da Globo, disse que “a academia está muito feliz de reconhecer, valorizar a cultura indígena da qual o Krenak é um representante importantíssimo. Então isso para a academia é a reafirmação da nossa vontade de termos a maior representatividade possível da cultura brasileira aqui dentro”.
Merval Pereira é conhecido por não dar ponto sem nó. Sua opinião revela que a eleição de Krenak não passa de uma manobra da burguesia. Uma manobra com doses cavalares de demagogia e artificialismo.
A burguesia se vale aqui de uma das suas ferramentas mais utilizadas no último período: o identitarismo. Na propaganda, o objetivo é colocar um “representante das minorias” nos espaços de poder ― é a propalada “representatividade”. Na prática, porém, o que se tem é a atribuição a um carreirista, sempre ligado aos poderosos e sem qualquer ligação com os movimentos reais dos oprimidos, de algum cargo ou ocupação. É o caso de Krenak na ABL.
O mais recente empreendimento artístico de Krenak foi a “correção” que operou em uma das maiores óperas do mundo, “O Guarani”, de Carlos Gomes. Homem de confiança dos tucanos que há décadas comandam o estado de São Paulo, Krenak foi contratado para parir uma nova “concepção” da obra clássica da ópera brasileira. O resultado pôde ser visto no Theatro Municipal de São Paulo em maio deste ano: sob o pretexto da “defesa do índio”, presenciou-se a destruição de uma das maiores obras da cultura nacional (e mundial).
Para completar o conjunto de feitos e façanhas do escolhido, lê-se portal no G1 que “Krenak não tem o hábito de escrever”. “A narrativa de Ailton Krenak segue a tradição indígena da oralidade”, continua a matéria. É por isso que todas as obras de Krenak são transcrições de entrevistas, conversas e discursos proferidos por ele. Sim, estamos diante de um escritor que não escreve!
Além da pouca prática com o ofício da escrita, Krenak também não se presta a representar os interesses dos índios brasileiros. A situação do índio real brasileiro é marcada, sobretudo, pela fome extrema, pela ausência qualquer direito, pela ausência de qualquer benefício concedido pelo Estado. Vivem em barracos de lona, sem água potável, sem energia elétrica, sem qualquer direito básico, como saúde e educação. Enquanto os índios reais do Brasil lutam pela terra, num enfrentamento sangrento contra os latifundiários, os pistoleiros e os órgãos de repressão do Estado, Krenak é galardoado com o título de “imortal”. O que isso de fato representa para a luta dos índios? A resposta é simples: absolutamente nada.
Com a escolha de Krenak, a ABL não ganha o seu primeiro representante indígena, mas, sim, o seu enésimo representante do PSDB.