Há exatos 108 anos, nascia, em Paris, Édith Piaf, a maior expressão da chanson francesa. Segundo reza a lenda, Edith, nome dado em homenagem a uma enfermeira que atuou na Primeira Guerra Mundial, nasceu no meio da calçada da rua Belleville 72. Entretanto, consta em sua certidão uma menção ao Hospital Tenon. De qualquer forma, fato é que ela nasceu em uma família extremamente pobre, vivendo boa parte de sua vida nas ruas.
Sua mãe era, inicialmente, cantora em um café. Todavia, depois de se casar, foi tirada à força de seu posto por seu marido, indo trabalhar, após seu divórcio, como prostituta em um bordel. Seu pai era acrobata de rua e, depois da separação, resolveu deixar sua filha sob os cuidados de sua avó materna. Entretanto, ela batia em Edith constantemente e, como se não bastasse, lhe deixava com fome em um quarto trancado. Ao ter ciência desta situação, 18 meses depois, seu pai, que estava partindo para lutar na Primeira Guerra, deixou-a com sua mãe.
Mais tarde, em 1922, seu pai, que já havia se recuperado financeiramente, levou-a para viver em sua casa, longe da companhia de sua mãe. Na época, ele estava trabalhando em pequenos circos itinerantes, aproximando sua filha destes ambientes. Foi sua convivência nestes locais que influenciou Edith a seguir uma carreira como cantora, se apaixonando completamente pelo mundo artístico, algo que, depois, com seus 15 anos, foi muito rechaçado por seu pai, que não queria que a filha seguisse o mesmo caminho de sua mãe.
Com isso, Edith fugiu de casa utilizando o dinheiro que havia conseguido com suas músicas e apresentações, indo morar num quarto alugado no Gran Hotel de Clêrmont. Posteriormente, morou com uma amiga, também artista.
Alguns anos depois, em 1935, Edith foi descoberta cantando na área de Pigalle por Louis Leplée, que a descobriu artisticamente e foi um dos principais responsáveis por lançar sua carreira enquanto cantora em Paris. Logo mais, começou a se apresentar em diversos locais, tornando-se cada vez mais famosa na França e no mundo. Em 1945, escreveu uma de suas primeiras canções, La Vie En Rose, uma das músicas francesas mais conhecidas da história.
Vale ressaltar que Edith, durante a ocupação nazista na época da Segunda Guerra Mundial, chegou a cantar para as tropas alemãs. Por isso, foi chamada de traidora do povo francês por diversos setores da sociedade. Entretanto, depois da Guerra, afirmou ser infiltrada da resistência, lutando ao lado dos inimigos do regime fascista de Hitler.
Édith Piaf faleceu em 10 de outubro de 1963, vítima de câncer no fígado por conta de seu alcoolismo, em Plascassier, na cidade de Grasse, Alpes Marítimos, aos 47 anos. O excesso de álcool, cigarros, barbitúricos e uma considerável dose de morfina para aliviar a intensa dor causada pelo lúpus eritematoso sistêmico teve repercussões severas em sua saúde.
Nos meses que antecederam sua morte, ela alugou uma grande mansão à beira-mar, onde passou dois meses de retiro na companhia de amigos e do marido. Segundo o acordeonista Marc Bonel, esse período foi marcado por festas constantes, com almoços e jantares para 30 a 40 pessoas todos os dias, regados a muito espumante, uísque e música.
Por questões financeiras, ela se mudou para uma casa em Plascassier, levando consigo sua enfermeira, o acordeonista, a secretária e o empresário. Apesar de seu marido estar ocupado com viagens profissionais, ele a acompanhou, trabalhando em um filme em Paris na época para “garantir o sustento do casal”, nas palavras de Piaf.
A cantora morreu devido a uma hemorragia interna no fígado, encontrando-se em coma por duas semanas. O transporte de seu corpo para Paris foi feito de maneira clandestina e ilegal, seu falecimento foi oficialmente anunciado no dia 11 de outubro. Coincidentemente, ela partiu no mesmo dia que seu amigo Jean Cocteau e foi sepultada no cemitério do Père-Lachaise (Divisão 97).