“De certa maneira, era como se a granja tivesse ficado rica sem que nenhum animal houvesse enriquecido – exceto, é claro, os porcos e os cachorros.”
Há 78 anos, foi lançado o icônico livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, romancista, ensaísta e jornalista britânico nascido na Índia, autor de grandes obras como “1984”.
A Revolução dos Bichos (ou Fazenda Animal) conta a história da revolta dos animais de uma fazenda contra o seu senhor, um humano conhecido como Sr. Jones. Os porcos são os cabeças da revolução, colocando todos os animais da fazenda contra o humano e seu corvo de estimação. Mas, afinal, qual é a importância de uma história sobre animais e um ser humano?
A figura do Sr. Jones representa o Czar e a nobreza russa, enquanto seu corvo simboliza o poder da Igreja Ortodoxa. A derrubada de ambos é uma alusão à revolução russa, afinal, ao contrário do que os stalinistas tentam emplacar, George Orwell não era um contra revolucionário, mas um crítico de todos os regimes totalitários – do stalinismo ao imperialismo britânico.
Voltando à obra, após a revolução liderada pelos porcos, o porco Major (Lênin) morre e ascende Napoleão (Stalin). No desenrolar da história, os animais olhavam para dentro da casa em que o Sr. Jones vivia, o que eles identificam é nada menos do que a burocracia stalinista, pois os porcos viviam do mais alto luxo, andando em duas patas como os humanos faziam e jogando carteado com humanos donos de granjas vizinhas – uma alusão às relações de Stalin com o imperialismo.
Ao fim, torna-se impossível distinguir quem são os humanos e quem são os porcos, denunciando a política adotada pela burocracia de Stálin e que nada tem a ver com o que foi conquistado com a revolução operária. Assim como os porcos, os burocratas traíram o povo soviético e firmaram uma série de acordos com os capitalistas, a fim de manter-se no poder como uma casta privilegiada.
Enquanto Sr. Jones é a representação do Czar e do regime czarista em completa decadência, o porco Major representa de Karl Marx ao Lenin, sendo o animal mais velho e sábio na fazenda, que inflama a revolta dos animais contra a exploração dos humanos a partir do “animalismo”, podemos interpretar como sendo o marxismo.
A fazenda representa a Rússia revolucionária, Bola-de-Neve (Snowball) é baseado em Leon Trótski, revolucionário Bolchevique que liderou a Revolução Russa de 1917 juntamente com Lenin, comandante do Exército Vermelho, defensor da Teoria da Revolução Permanente, expulso da Rússia pela burocracia stalinista e assassinado no México a mando de Stalin em 1940.
Napoleão, como dito anteriormente, é baseado em Joseph Stalin, e os cães leais criados por Stalin desde filhotes que reprimem os animais da fazenda representam a GPU, a polícia política, o órgão repressor da burocracia stalinista que criou o clima de terror na URSS, perseguindo, expurgando e executando milhares de pessoas na antiga União Soviética.
O cavalo Boxer representa um setor da classe operária: os trabalhadores que se dedicavam totalmente ao trabalho e lutavam pelo Estado Operário. Na história, Boxer é traído por Napoleão ao ser levado para o matadouro achando que estava sendo levado para ser cuidado por veterinários – uma alusão à traição de Stálin à classe operária, assumindo a postura de seus antigos algozes e tornando-se mais próximo a eles do que aos trabalhadores.
“Tornara-se comum dar a Napoleão crédito por todos os êxitos e todos os golpes de sorte”.
Tendo compreendido o livro, sua história e suas personagens, torna-se impossível, com seriedade, compartilhar a narrativa stalinista de que Orwell era um contrarrevolucionário. Pelo contrário! Por não ser contrarrevolucionário que denunciava a burocracia de Stálin, as perseguições políticas promovidas pelo regime e a traição da revolução feita pelo próprio, traindo dos ideias marxistas ao Lenin e até à classe trabalhadora em sua totalidade.
Assim como “1984”, “A Revolução dos Bichos” deve ser lida e discutida como uma obra de época, mas temporal, histórica e alinhada aos dias de hoje.
“Havia chegado uma época em que ninguém ousava dizer o que pensava”.