No dia 07 de março após a polêmica, que segue até os dias de hoje, sobre o livro Os Versos Satânicos de Salman Rushdie o Irã quebrou suas relações diplomáticas com a Inglaterra. O pretexto da questão religiosa é muito usado para atacar o regime político iraniano mas é claro que o ocorrido é na verdade uma das expressões da luta da nação persa contra o imperialismo britânico, que a dominou até por mais tempo que os próprios norte-americanos. A explicação para o ocorrido não está na fátua do Aiatolá Khomeini mas sim na Revolução de 1979 e a sua vitória militar após a guerra sangrenta contra o Iraque apoiado pelos EUA.
O livro de Salman Rushdie conta a vida do profeta Maomé de forma crítica e portanto pode ser muito ofensivo para muçulmanos. Não se pode defender nenhuma medida de censura contra autores, como fez o governo do Irã, mas também não se pode ignorar que os ataques ao islã fazem parte da política do imperialismo. Como foi o caso de Charlie Hebdo que fazia charges reacionárias contra a população oprimida da França, que é em grande parte muçulmana. Outro caso aconteceu em 2023 quando um protesto na Suécia queimou o Corão, o que gerou revolta em diversas nações do Oriente Médio, a luta se expressa de forma religosa mas ela faz parte da luta geral contra o imperialismo.
No Irá a revolução foi dirigida pelos clérigos xiitas que estão até hoje no governo. Isso faz com que o caráter do governo seja ao mesmo tempo progressista, por lutar contra o imperialismo, e reacionário, por se basear do fundamentalismo religioso, é um caso muito claro de governo nacionalista. A Inglaterra controlava a Anglo-Iranian Petroleum, que se transformou na British Petróleo, era um dos países que dominava economicamente o Irã e foi expulso por meio da revolução. O Irã portanto trava uma luta até os dias de hoje não só contra os EUA mas também contra a Inglaterra. Na Copa do Mundo isso ficou muito claro, a campanha anti Irã foi fortíssima no jogo Irã x Inglaterra.
Salman Rushdie é nascido na Índia mas há décadas se radicou na Inglaterra, sendo inclusive associado ao imperialismo britânico. O livro se tornou polêmico no Paquistão e nos demais países islâmicos e foi banido pelo Aiatolá do Irã que ainda pediu o assassinato do seu autor. Foi como se expressa a luta do Irã contra a Inglaterra, uma luta legítima mas que era travada por um setor muito religioso. O mais importante de tudo é que o atraso do Irã não pode ser jogado nas costas dos iranianos, que lutam para libertar o seu país, mas sim no imperialismo e na própria Inglaterra, que mantém o país na atual situação de pobreza por meio das guerras do Oriente Médio e das sanções econômicas, que eram as maiores do mundo até o início da guerra na Ucrânia. Na disputa do Irã contra o imperialismo é preciso ficar ao lado do Irã, que apenas se defende.