Nesta semana Jacques Wagner, senador e candidato ao governo da Bahia, afirmou que num futuro governo federal do PT, não haveria chance nenhuma para uma regulamentação da imprensa, chamada por ele de censura:
“A chance de censura no governo do PT é zero. Nascemos sob a bandeira da democracia. A imprensa, seguramente, sofreu muito mais ameaças do atual governo do que nos governos de Lula e Dilma”
Entretanto, a sua posição entra em contradição com a posição do ex-presidente Lula sobre a questão, o qual já expressou o desejo de criar uma regulamentação para a imprensa se referindo, mesmo que indiretamente, à participação da imprensa monopolista no golpe de 2016, na sua prisão, nas eleições de 2018, ou seja, no regime golpista.
As contradições entre os candidatos não são ideológicas, como afirma o próprio Wagner, mas sim pragmáticas. Embora, representem posições de setores diferentes dentro da burocracia do partido, o setor chamado Lulista, mais ligado às bases populares do partido e o setor direitista, ligado à esquerda pequeno burguesa (parlamentar, universitária) e a setores direitistas.
Lula anti-imperialista x direita do PT
A declaração de Wagner expõe essa que é uma das contradições internas mais importantes atualmente no PT. De um lado o ex-presidente Lula, que carrega consigo um saldo negativo com a direita que envolve o processo do mensalão, a operação lava-a-jato, a perseguição ao PT (em grande medida ao próprio Lula), o golpe de 2016, a sua prisão por mais de 1 ano e meio, o golpe da eleição de Bolsonaro, fatos que o levaram a um posicionamento mais à esquerda do que nunca esteve e claramente anti-imperialista – o que o leva a estar diretamente contra o monopólio da imprensa golpista que é um braço do imperialismo no país – tornando sua defesa da regulamentação algo até já esperado, dados os fatos citados.
De outro lado há Wagner que representa todo um setor do partido que defende regularmente, e executa quando possível – como no caso do governo da Bahia e suas medidas neoliberais, por exemplo – uma política direitista. Citando os mesmos fatos: defenderam a punição/expulsão de petistas atacados pela direita no mensalão e pela operação Lava a Jato, como Delúbio, Genuíno e Dirceu, pouco ou nada fez contra o golpe contra Dilma, alguns falando ainda em 2016 em “virar a página do golpe” e outros afirmando “é assim mesmo, vamos para 2018”. Aceitaram a prisão de Lula afirmando que este sairia em poucos dias, aceitaram retirar a candidatura de Lula e colocar Haddad, como a direita queria, aceitaram a fraude eleitoral de 2018 e parabenizaram o TSE e Bolsonaro, e agora defendem a união da esquerda com a direita golpista, supostamente para vencer o fascista Bolsonaro, e propõem um governo com medidas neoliberais como esta em defesa da imprensa golpista, em detrimento do direito da classe trabalhadora ter acesso às concessões públicas das telecomunicações, por exemplo.
Por mais que Wagner e o própria Lula digam o contrário ou tentem amenizar estas divergências, como colocado acima as posições têm raízes sociais dentro do PT. E para os militantes, para os setores populares, para os trabalhadores que estão na base dos sindicatos comandados pelo partido, pela CUT, o importante é como atuar e fazer valer o seus interesses.
Só há um caminho, pressionar nas ruas o setor mais à esquerda, do Lula, e por conseguinte toda a burocracia a se afastar de alianças com a direita e a defender, mesmo a contra gosto, um programa popular, que atenda os reais interesses dos trabalhadores, o que envolve: regulamentação da imprensa, criação de empregos e investimentos públicos nos setores essenciais da economia, fim das privatizações, reestatizar a Petrobrás e outras empresas privatizadas, garantir o ensino público de qualidade em todos os níveis, fim da especulação desenfreada nos mercados, causa da crescente inflação de alimentos, transporte e moradia, etc.