Nesta semana, o partido político separatista Sinn Féin foi o mais votado nas eleições da Irlanda do Norte, uma votação histórica. Divulgada no sábado, 7 de maio, a contagem final do pleito teve como resultado 29% dos votos para o Sinn Féin, que obteve ainda 27 assentos, no total de 90, na Assembleia de Belfast. O Partido Unionista Democrático (DUP), majoritário por duas décadas na política irlandesa, alcançou 25 assentos e recebeu 21,3% dos votos, ficando em segundo lugar. O Partido Alianza, de tendência política centro liberal, obteve 13,5%.
Antigo braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), o Sinn Féin tem como principal objetivo sua separação do Reino Unido e unificação com a Irlanda.
A líder do partido, Michelle O’Neill, vai tentar ser ministra-chefe da nação, um cargo que nunca foi ocupado por um político nacionalista desde que a Irlanda do Norte fora fundada em 1921. Para ocupar esse cargo, o DUP ainda tem que concordar em nomear um vice-ministro-chefe (que tem igual valor ao de ministro-chefe), obedecendo a regra do compartilhamento de poder no país, cujos ocupantes desses cargos são ligados a partidos sindicalistas pró-Reino Unido.
Embora o objetivo do partido seja a separação do país do Reino Unido e a unificação com a República da Irlanda, Michelle O’Neill prometeu trabalhar “por associação, não por divisão”, iniciando “uma nova era”.
A conjuntura política na Irlanda do Norte é de crise. Recentemente, o líder político do DUP, Jeffrey Donaldson, exonerou do cargo de ministro-chefe do país Paul Givan por causa do protocolo do Brexit encabeçado pelo Reino Unido. Por esse protocolo, acordado pelo Reino Unido e a União Europeia, fica proibido o retorno de fronteira física na ilha da Irlanda.
A vitória do Sinn Féin não significará facilidades à vista para fazer pelo menos um referendo sobre a tão sonhada separação do país e sua reunificação. Segundo uma lei de 1998, fruto da assinatura do Acordo da Sexta-feira Santa, a Irlanda do Norte permaneceria parte do Reino Unido e só deixaria de sê-lo com a aprovação da maioria do povo norte-irlandês.
Um conflito fruto da dominação do imperialismo britânico
Esse conflito tem suas origens na dominação britânica na ilha da Irlanda, com início em 1800, através do Act of Union (Ato de união ou unificação), posto em prática em 1801, unificando a Irlanda ao Reino Unido, dando origem ao Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.
Dominada pelos ingleses, o Reino Unido não trouxe melhoras significativas para a Irlanda, cujo povo passou por diversas crises alimentares que os levaram a emigrar para Austrália e Estados Unidos. Além da pobreza provocada pela exploração inglesa, a população irlandesa também sofria com a questão religiosa, pois ela professava a religião católica, enquanto os ingleses seguiam a corrente anglicana.
Durante o século XIX, a população irlandesa lutou pelo direito de ter seu parlamento e soberania sobre seus assuntos internos. Esses direitos seriam conquistados após a Grande Guerra de 1914. Em 1919, a Irlanda inicia um conflito armado para conquistar sua independência, que viria em 1922, com a criação do Estado Livre da Irlanda.
O Estado Livre da Irlanda previa que os 32 condados do país pudessem exercer o direito de permanecerem unidos à Grã-Bretanha. Com essa brecha, seis condados, cuja maioria da população professava o protestantismo, ficaram atrelados ao Reino Unido, dando origem à Irlanda do Norte(Ulster), no nordeste da ilha. Essa divisão perdura até hoje.
Uma das regiões mais pobres da Europa, a Irlanda do Norte segue dividida: de um lado, os católicos, o Sinn Féin e o IRA, os quais desejam se reunificar com a República da Irlanda; de outro, os unionistas, de religião protestante, que desejam permanecer no Reino Unido, sob domínio inglês.
Ao longo desses cem anos, houve muitas mortes e repressão por parte do imperialismo britânico e do choque entre os dois grupos políticos, sobretudo na década de 70 do século XX, quando a Inglaterra entrou em declínio econômico e social, intensificando ainda mais a crise.
Um dos episódios mais violentos na região foi o Domingo Sangrento, em 30 de janeiro de 1972, quando a polícia britânica assassinou 13 civis católicos que participavam de uma passeata em reivindicação a direitos iguais entre os católicos e protestantes.
A vitória do Sinn Féin revela a crise no Reino Unido, que pode se esfacelar e se enfraquecer ainda mais. Que a vontade popular do povo da Irlanda do Norte seja respeitada e o país possa se libertar da exploração inglesa e se tornar independente.