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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Flauta doce

Violência é se recusar a comemorar a independência do Brasil

Globo promove intelectuais para a esquerda consumir e se perder

A única garantia da paz é o movimento organizado e consciente da classe operária (LÊNIN, A Burguesia e a Paz; 1913)

A paz é a reprodução da violência por outros meios

A paz é a flauta doce da burguesia para manutenção do estado das coisas, ocultando o monopólio da violência real do Estado. A violência opera por intermédio das “forças de segurança pública” e distribuição desigual dos meios de produção e das forças produtivas.

As “forças de segurança pública” são privadas na realidade, pois pertencem, na prática, a um punhadinho de burgueses que gerenciam as atividades policiais e militares, em benefício da parte social que se apropria da produção e do trabalho. Essas forças garantem a segurança da burguesia, sempre ameaçada por mobilizações sociais da classe trabalhadora. 

Essa ameaça faz parte da natureza do capital, uma contradição. Os oprimidos precisam sobreviver, enquanto há uma distribuição desigual da produção das forças produtivas. Essa desigualdade se manifesta no aumento da fome, da miséria e do empobrecimento. Aqui está a violência! O Estado produz a violência, por ser a forma de administrar o regime político. O capital produz miséria por ser sua natureza predatória, ao mesmo tempo precisa usar a força bruta para conter possíveis insurgências.

A esquerda quer a paz. Por quê?

Entre as forças produtivas apropriadas, na forma de monopólios, está a imprensa. A possibilidade de comunicação é reservada a poucos indivíduos que reproduzem a própria ideologia do regime político. Sem compreender essa questão, a esquerda, a partir do sofá, se compromete em se comportar, em conformidade, com o que manda os donos das comunicações. O PT, por exemplo, durante 14 anos não quis (por mais que digam que sim) quebrar o monopólio dos meios de comunicação. Isso poderia ter sido feito? A resposta é sim! O correto era não ter renovando concessões e ter criado TVs estatais, distribuindo aos movimentos sociais, sindicatos, universidades e escolas técnicas. Fazer isso não é tolher a “liberdade de expressão”, mas significa fazer justiça à verdadeira liberdade de expressão com a voz do povo.

A Globo, como qualquer grande grupo de imprensa, é associada aos grandes capitalistas, não somente por ideologia, mas por participação acionária em grupos industriais, comerciais, de serviços, principalmente financeiros, os principais agentes filantrópicos. Na filantropia, a Globo é uma das maiores difusoras do Instituto Sou da Paz (tem o título de OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – concedido pelo Ministério da Justiça) e toda campanha pelo desarmamento. Veja quem financia o Instituto Sou da Paz:

A esquerda, além de não criar formas de romper o monopólio, em muitos casos se comporta como um acessório dos capitalistas. Já demonstramos neste Diário, as relações do NED com partidos de esquerda; como o Itaú compra a esquerda; como a Open Society controla o regime político e como Lehman apadrinha políticos eleitos.

Atualmente, em busca de cargos, a burocracia dos partidos de esquerda, se comporta tranquilamente, a partir dos ganhos dos fundos partidários e eleitorais. Com isso, se perpetuarão no regime, e quanto mais bom moço melhor, pois vão fazendo o jogo da paz para a burguesia. A “base” desses partidos, ficam a reboque das articulações e atendem ao desejo da burocracia, ou seja, conciliar.

Bicentenário da independência

O Brasil comemora 200 anos de independência, um fato que deveria ser também comemorado pela esquerda, afinal de contas, trata-se da independência de um país atrasado, porém gigante, pouco menor que a Europa em extensão territorial. Apesar das rédeas da independência terem sido tomadas pela burguesia desde 1822, não significa que a esquerda não possa organizar a luta para a tomada deste país, definitivamente.

A esquerda se comporta como menina mimada, não quer comemorar a independência, por achar que somente Simón Bolívar; San Martín; Toussaint Louverture e José Martí foram fundamentais na independência da América Latina. Aqui, no Brasil, Dom Pedro I é tratado como um parvo manobrado pelos interesses do Reino Unido.

Além de ser uma falsa interpretação da História do Brasil, a esquerda e a intelectualidade, incensadas pelos meios de comunicação brasileiros, associados ao imperialismo, mantêm o roteiro. A imprensa capitalista brasileira ganha, pois ela se mantém como ilha de concentração de riqueza e manipulação; a intelectualidade ganha, pois engorda o currículo Lattes – e os bolsos; os políticos de esquerda oportunistas ganham, pois eles reproduzem aquilo que se referendou como verdadeiro; enquanto a luta política da esquerda perde.

Hoje (7), quando escrevo esta coluna, dirigentes sindicais, de movimentos sociais e até de partidos políticos, querendo se contrapor ao bolsonarismo, deram a ordem para a esquerda não ir às ruas, no tradicional Grito dos Excluídos. Em grupos de Whatsapp circulam frases para tomar cuidado com os bolsonaristas, muitos deles pobres e parte do povo brasileiro, tratados como leprosos. Circulou a seguinte mensagem: “Orientações Gerais para o Grito dos excluídos”:

“1) Não andar sozinho, procure andar com as pessoas próximas a você, da entidade da qual faz parte.
2) Se for se afastar do bloco, procure não sair desacompanhado e avise sobre sua saída para alguém.
3) Coloque a camisa do seu partido/ coletivo/ candidato apenas no local da concentração, na hora de ir embora faça a troca novamente.
4) Opte por ir de calça e tênis para o caso de qualquer intercorrência.
5) Não responda a qualquer tipo de provocação que for feita, não coloque em risco sua segurança e a dos demais.
6) Leve protetor solar e água.
7)Qualquer dúvida ou problema procure a coordenação do ato.
8) Como a pandemia ainda não acabou e importante que se use máscara e álcool.”

Imagem retirada de grupo de Whatsapp

Trata-se de um grande equívoco, um erro tático gigantesco, em reta final de eleições, quando Lula está em primeiro lugar nas pesquisas, e o povo está mais simpático à esquerda. Poderia ser feita grande propaganda política, a partir desse ato. A independência precisa ser comemorada e trabalhada do modo correto, como luta de libertação nacional, afinal, não existe processo histórico que se concretize em curto espaço de tempo.

Pensar a data da independência como parte da luta contra o imperialismo

A luta de independência, por libertação, é sempre uma luta contraditória, onde o caótico se sobrepõe e os agentes se organizam de acordo como os fatos são desenrolados. Não existe luta política a priori, sem a devida prática, o que significa dizer, com base na questão da imprensa capitalista aqui apresentada, que a esquerda não está se organizando, de fato, para que a independência seja concretizada. Partem de um princípio abstrato, que a independência ocorre em um único dia (7 de setembro), e que nada mais precisa ser realizado.

Como mimados, tentam reinventar a História, negando fatos concretos, como a possibilidade de uma organização política independente. A partir da negação do fato histórico, não percebem que agora sim estão cumprindo um papel de linha auxiliar do imperialismo. Afinal, se o Brasil nunca foi independente, cria-se então uma mitologia de que o país é incapaz de organizar uma política de superação do atraso, uma política revolucionária. Deste modo, o Brasil precisaria se adaptar, a partir de suas limitações, a quem, na visão de grande parte da esquerda, detém a vanguarda pensante, ou seja, os Estados Unidos com a tal política decolonial (sim, Quijano a partir da maquinaria da ONU).

A questão posta aqui é que a política decolonial é uma política de não-violência, pacifista, que visa simplesmente reescrever a história, sempre contraditória e violenta. O decolonial como instrumento da ONU e, portanto, do próprio imperialismo, é um freio em favor da segurança do Estado, uma ideologia emanada por Ele.

Como o Estado é a forma em que os indivíduos de uma classe dominante fazem valer os seus interesses comuns e se condensa toda a sociedade civil de uma época, segue-se que todas as instituições comuns são mediadas pelo Estado, adquirem uma forma política. Daí a ilusão de que a lei assentaria na vontade, e para mais na vontade dissociada da sua base real, na vontade livre. Do mesmo modo, o direito é, por seu turno, reduzido à lei. (Feuerbach. Oposição das Concepções Materialista e Idealista. In: MARX; ENGELS. A Ideologia Alemã).

Alterar o comportamento humano, por instrumentos científicos, se tornou uma obsessão do regime político imperialista. É preciso monitorar o comportamento das pessoas e procurar a paz o mais rapidamente possível, a bem do capitalismo, que mexe suas peças, infiltra pessoas em movimentos e desorganiza a luta, a partir de indivíduos reacionários, com fachada de modernos, descolados e subversivos. 

Evidentemente que nesta coluna trato de uma generalização do pós-modernismo, do decolonial e derivados “pós-estruturalistas”, para acrescentar que houve, na prática, o abandono do marxismo, a fuga da História, o que permitiu o avanço do imperialismo por outros meios, especialmente a academia, que tem consumido autores como Laurentino Gomes que se encarrega de limitar a História do Brasil à questão da escravidão, como fato social sine qua non, de todos os problemas brasileiros, e D. Pedro I, condenado por ter sido ditador e responsável pela dívida externa para todo o sempre.

Gomes tenta impor uma história a partir tão somente da condenação moral da escravidão, que deve ser abominada, mas não é a razão central do atraso do país, pois o fato central do atraso brasileiro é o imperialismo. 

Falar da escravidão para não falar de imperialismo e como combatê-lo

A escravidão, a partir de intelectuais como Jessé Souza e Laurentino Gomes, é a isca para a esquerda cumprir seu papel no imperialismo. Com a escravidão, a esquerda incorpora o tema do poder, da violência e contra “as elites”, achando que estão lutando. Com a escravidão pode se utilizar o “racismo estrutural”, afirmar que não se pode utilizar violência contra ninguém, que os negros terão independência com uma conversa sobre as estruturas opressoras. Djamilla Ribeiro, Silvio Almeida entre outras figuras, são pagas por empresas do imperialismo, para falar em paz e amor na Rede Globo.

Até hoje, as grandes transformações políticas foram resolvidas com uso da violência, como é o caso da Revolução Francesa, que a esquerda insiste em afirmar que foi uma revolução feita pela burguesia. Confundem revolução burguesa com revolução feita pela burguesia, e não compreendem que o processo revolucionário é composto por pessoas de todas as classes, todos lutando pela própria sobrevivência.

Não se faz uma transformação social profunda com flores, é preciso demonstrar força. Por isso, a imprensa difunde que é necessário ter controle emocional durante as eleições, que existe polarização, que não se pode se armar, pois a burguesia, sabidamente, entendeu a luta política, enquanto os capachos da esquerda pequeno-burguesa, não (ou fingem, pelo menos aqueles que fazem parte da burocracia).

Nem a esquerda nacionalista tem dado conta de explicar a opressão do imperialismo e como combatê-lo na prática, dizem sempre que é preciso um parlamento forte, para tentar revogar algumas privatizações, o que serve apenas para se elegerem. Esses oportunistas não propõem a necessidade do povo tomar as empresas, o Estado para si, para fazer a transição para um governo dos trabalhadores.

Políticos oportunistas sabem que o povo anseia pela retomada das empresas, pela nacionalização definitiva da Amazônia, pelo nacionalismo de direito e de fato. Porém, se beneficiam de verbas e seduções feitas pela burguesia, e abandonam o povo.

Por isso, a tática correta é sempre a da revolução permanente:

Fazer a revolução permanente até que toda a classe mais ou menos proprietária tenha sido retirada de suas posições de comando, até que o proletariado tenha conquistado o poder estatal… e pelo menos as forças de produção decisivas estejam concentradas nas mãos dos trabalhadores… Mas eles mesmos devem contribuir o máximo para a sua vitória final… tomando sua posição política independente tão cedo quanto possível, não se deixando levar pelas frases hipócritas da pequena burguesia democrática a duvidar por um minuto sequer da necessidade de um partido do proletariado organizado independentemente. O seu grito de guerra deve ser: A Revolução Permanente. Address of the Central Commitee to the Communist League. In Karl Marx, The Revolutions of 1848.

Mesmo que militantes de partido de esquerda se autoproclamarem “não-revolucionários”, a tática correta para a conquista, para a tomada do poder, deve ser a política independente, compreender bem o papel da violência na História (assim como Engels e Lenin), e sobre a demagogia da paz (Lenin), que serve aos interesses do imperialismo.

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* As opiniões dos colunistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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