A postagem é intitulada “PCO: alguém sabe explicar como se produz esse tipo de análise?”. O Partido afirmou, através deste jornal, que a partida entre Argentina e França foi o símbolo de um “futebol feio e burocrático”. Não precisamos aqui entrar na polêmica se o jogo ou o futebol apresentado por essas seleções é bom ou ruim, afinal isso já foi feito. Cabe discutir a ideia de Valter Pomar, um dirigente e intelectual do PT, que recrimina o PCO não por suas posições políticas, particularmente, neste caso, sobre o futebol.
Os “argumentos” colhidos por Pomar são, em sua maioria, meras calúnias baratas, como chamar o Partido de “xarope” ou de ufanista. Mas tem quem se pretenda crítico e, contudo, acabe por revelar a ignorância dos caluniadores: “acho que, como eu, [os militantes do PCO] não assistiram ao jogo e resolveram desqualificar os times, porque afinal, incomum só o PCO.”
Ao contrário do comentarista, os militantes do PCO e os redatores deste jornal, em particular, assistiram ao jogo e não estão falando sobre algo que não sabem. O problema é que, assim como o autor do comentário mencionado por Pomar, nossos adversários que se pretendem especialistas não têm a menor ideia do que estão falando – em se tratando de futebol isso fica nítido, mas se isso se resumisse ao esporte a esquerda brasileira poderia até mesmo ser considerada sábia. Ela costuma desconhecer todos os assuntos sobre os quais discute.
O que lhe resta, então, é seguir a opinião dos outros – leia-se, da burguesia. A opinião oficial, aquela espalhada diariamente pelos jornais dos capitalistas. Não pensem Pomar e seus amigos anônimos que essa opinião é uma opinião individual, que eles, como seres iluminados, forjaram e que a eles pertence. Não. Suas opiniões são meramente a reprodução das opiniões difundidas pela burguesia. São essas as opiniões dos bem-pensantes.
Ao acusar o PCO de “estar na folha de pagamento” de Neymar, a opinião veiculada pelo nosso interlocutor indica que quem não se deixa levar por essa opinião fabricada pelos círculos burgueses só pode estar sendo pago por alguém para agir dessa forma, porque não é possível que alguém seja independente da burguesia. Os bolcheviques eram acusados, até mesmo pela esquerda, em 1917, de serem pagos pelo governo alemão para sabotar a Rússia. Por quê? Porque eles eram praticamente os únicos que defendiam o rompimento total com a burguesia e a tomada do poder pelos sovietes de operários e soldados. Nesse sentido, aquele “argumento” é idêntico ao que diz a extrema-direita bolsonarista contra o próprio partido de Pomar – de que os petistas compram os trabalhadores para que vão aos seus atos, dando dinheiro e pão com mortadela a eles.
Se não for um agente alemão (ou, neste caso, um agente de Neymar!), então quem tem uma opinião independente como o PCO só pode ser maluco da cabeça, ou uma “anomalia”, como afirma um outro pseudoargumento. Karl Marx escreveu e eternizou a frase “as ideias dominantes de uma sociedade são as ideias da classe dominante”. Portanto aqueles que têm ideias que não sejam as oficiais, as dominantes, ou seja, os transgressores e revolucionários nas diferentes áreas do pensamento como Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Charles Darwin, Sigmund Freud e o próprio Marx, sempre foram tachados de loucos, de criminosos e de hereges. Eles não apenas tinham ideias diferentes das ideias oficiais, como suas ideias eram opostas e críticas às ideias dominantes e por isso mesmo foram perseguidos.
Pedro Pomar, irmão de Valter, foi assassinado pela ditadura militar porque seu inconformismo com a opinião oficial o levou ao extremo de pegar em armas para derrubar a estrutura política e social que sustentava aquele conjunto de opiniões. Foi um mártir da revolução junto com inúmeros guerrilheiros que praticaram atividades de sabotagem e mesmo de terrorismo como forma de propaganda de suas ideias.
Porém, os amigos de Valter Pomar diriam depreciativamente que Pedro e os militantes contra a ditadura fariam isso “para que alguém ache estranho e fale” de sua posição política. “Aumenta o engajamento e sempre no meio do caminho acham uns poucos jovens ou velhos meio abilolados que pensam ser legal ser diferentão, dono de uma verdade ‘extraordinária’, que só eles percebem”, publica o petista em seu blog.
O mesmo comentário continua, chamando o PCO de “seita” e de “empresa de comunicação” e seus militantes de “mão de obra gratuita”. Uma calúnia baixíssima que, a seguir esse pensamento, poderia muito bem ser estendida a todos os revolucionários como Marx, Lênin e o próprio Pedro Pomar, por defenderem e lutarem por suas convicções.
Tudo o que vai contra a opinião da burguesia deve ser repudiado, bradam os bem-pensantes. O mesmo diziam, inclusive Pomar e membros do PT, quando o PCO denunciava o golpe contra Dilma Rousseff. O PCO era louco. Depois, veio a perseguição a Lula e o PCO dizia que se nada fosse feito ele seria preso. Mas o PCO era estranho. Quando Bolsonaro foi eleito de forma fraudulenta, após o golpe contra Dilma e a prisão de Lula, o PCO chamou a esquerda às ruas para derrubar Bolsonaro. Foi tachado de “diferentão”. No meio dos atos pelo Fora Bolsonaro, o PCO rechaçou a infiltração do PSDB para sabotar o movimento. Acusaram-no de querer aparecer.
Segundo o papagaio Valter Pomar, se Messi recebeu tantos prêmios da Fifa, de grandes jornais ou instituições, isso é uma prova inquestionável de que ele realmente é um gênio do futebol. Não importa que quem entregou o prêmio seja um órgão do imperialismo e que, portanto, atende aos interesses dele. Não importa que quem começou a falar isso foi um canal de televisão da burguesia que, portanto, veicula as opiniões dela. A palavra da burguesia, na opinião de Pomar, é intocável. Na opinião de Pomar, não. Desculpe-nos, caro leitor. Na opinião da burguesia. Pois Pomar não faz mais do que reproduzir o que diz a burguesia.