A concessão pública para as empresas privadas prestarem serviços aos usuários é um crime contra os trabalhadores. O direito à mobilidade do cidadão é uma garantia da própria Constituição em seu artigo 5º: o monopólio do governo sobre as linhas de transporte público rodoviário é a base da formação do Estado que dá duas alternativas aos agentes públicos, custear 100% do serviço ou fazer uma concessão. Aí que reside o problema, não há empresa privada que esteja investida no interesse público como o próprio Estado e, nessa prerrogativa, temos uma história de fracassos dessas concessões, pois a iniciativa privada lucra bilhões com os sacrifícios dos usuários. No Brasil todo se vivencia a triste realidade de ônibus lotados, linhas atrasadas devido a manutenções de frotas velhas, ônibus quebrando durante o percurso, goteiras dentro dos transportes coletivos, preços abusivos e superfaturados nas passagens, preços abusivos e criminosos nas licitações que roubam o orçamento público, precarização total do trabalho diante das irregularidades nos serviços, motoristas, cobradores e demais trabalhadores do ramo com salários atrasados, sendo assediados por patrões para cumprir jornadas desumanas, forçados a trabalhar sem os recursos mínimos como vale-transporte, vale-refeição e etc.
Muito do que foi dito acima caracteriza de forma geral o que é o transporte público rodoviário no Brasil. Ademais, as empresas de ônibus que prestam serviço no Goiás entorno sul do DF, como União Transporte Brasília – UTB, Central Expresso e Viação Catedral, são o terror na terra para os trabalhadores do entorno sul, que vivem a agonia extrema de um transporte público que tem tudo para dar errado. O trabalhador enfrenta, para além das faltas de compromisso das empresas de viação, o problema de alagamentos e enxurradas devido ao crescimento de obras de moradia e aterramentos nas regiões, causando desvio dos cursos das águas pluviais (água das chuvas) e consequentemente danos críticos nas pistas de transporte público e nas paradas de ônibus. Trabalhadores sendo arrastados pelas enxurradas após descida do transporte público, sendo lavados por lama e dejetos da rua, tendo que caminhar em alguns casos mais de 3 quilômetros em vias de chão ou vias destruídas pelas chuvas.
Essa realidade é a tensão do dia para o trabalhador na época de chuva, e soma-se às frequentes faltas de transporte dessas concessões públicas. As empresas UTB, CT Expresso e Catedral atendem mal e porcamente os usuários. Todas as linhas funcionam de forma precária, com ônibus altamente defasados, sujos, mal conservados, apodrecidos nas estruturas de madeira e enferrujados nas estruturas metálicas, com forte cheiro desagradável de mofo e combustível. O trabalhador que limpo adentra ao transporte, tem a certeza de que ao se sentar ou encostar no Baú sairá imundo de lá e malcheiroso devido à falta de ar condicionado e a superlotação que deixa todos transpirando em excesso devido ao calor absurdo.
No entanto, ainda assim a vida segue para o trabalhador nessa luta diária, de todo santo dia. Nas rodoviárias do Plano Piloto – DF, Taguatinga e demais rodoviárias é comum a falta de trabalhadores dessas empresas para prestar o MÍNIMO de informação aos usuários, pois sequer é possível contar com aquilo que é descrito nos sites, pois é apenas para inglês ver. Na realidade, os horários das linhas lá descritas são desatualizados e mentirosos, sem qualquer prudência ou transparência no serviço prestado. Qualquer um que chegar nas rodoviárias citadas do Plano ou do Goiás, se deparará com o desafio de encontrar algum dos responsáveis por essas empresas e constatará a realidade que é a ausência deles nesses locais.
O trabalhador não é atendido em sua plenitude principalmente aos finais de semana, que funcionam como se fosse Natal. Conduções a cada 2 horas num intervalo que aumenta ao passar do dia e, ao se aproximar das 19 horas nos finais, ele só terá o corujão das 2 da manhã. A sociedade vive em pleno vapor e precisa da condução funcionando para levar e trazer de volta aquele que constrói essa sociedade, no entanto, à bem do lucro e não do interesse público e em respeito às garantias fundamentais, o trabalhador é massacrado pela iniciativa privada.
O direito à mobilidade é uma garantia para que a sociedade funcione bem e ela não pode estar regulada para garantir os monopólios dessas empresas em prestar essa porcaria de serviço. O transporte público deve ser 100% estatal para que as demandas dos trabalhadores sejam atendidas e a regulação na forma de lei para penalizar quem por ventura faz o transporte “pirata” tem que acabar, pois a ação dos “loteiros” é o principal escoamento dos trabalhadores nas zonas periféricas e o projeto de um transporte 100% estatal pode muito bem funcionar em comunhão com loteiros e transportes piratas, pois é preciso dizer: fora os monopólios e fora a ação policial em fulminar nos trabalhadores as penas legais e os condenar a pagar pesadas multas para se fazer cumprir um monopólio que não atende as necessidades do trabalhador.