No Brasil, a tendência política de uma ebulição social tem se tornado cada dia mais evidente com o advento do agravamento da crise econômica e política que vive o país nos últimos anos. Essa tendência ficou mais nítida com a elevação da inflação. Porém, essa questão tem sido manobrada pela burguesia, que por um lado tem despejado dinheiro do Estado na economia com a PEC da Compra de Votos para não perder o controle da situação e, por outro, tem se valido de todo o clima narcotizante e artificial, característico dos processos eleitorais e de todo o aparato de propaganda.
Mesmo com toda essa máquina colocada em operação para dar sustentabilidade ao processo de manutenção do golpe de Estado, e da política econômica neoliberal, existem elementos que escapam ao controle da própria burguesia.
No dia 08 de setembro de 2022, os operários reunidos em uma volumosa assembleia na porta da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo – SP, decidiram paralisar a produção até o dia 12 em respostas às 3.600 demissões anunciadas pela direção da empresa.
Em 16 de agosto, o próprio início da campanha do Presidente Lula na porta da Volks, com milhares de operários, revelava essa tendência à luta política e pela melhoria das condições de sobrevivência da classe operária.
No ano de 2021, no Balanço das Greves feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e divulgado na publicação “Estudos e Pesquisas” de nº 84, apontava que, mesmo que tímida, havia uma retomada do crescimento do movimento grevista em todo o País e que distintamente dos períodos anteriores, verificava-se uma predominância dessa tendência de luta no setor privado da economia.
Isso demonstra que, mesmo que de forma moderada, as direções sindicais tiveram de dar uma resposta à essa situação. Quando passar o período eleitoral, e de compra de votos, a situação artificial de alívio econômico vai desmoronar e as organizações proletárias e camponesas terão de movimentar-se, caso não queiram ser atropeladas pelas próprias massas.
No campo, há uma disposição das direções dos camponeses de realizarem o enfrentamento necessário ao processo de titulação, que tem como objetivo expropriar as terras dos assentados e entregá-las ao capital financeiro. Esse processo visa atrair os camponeses atingidos com a crise econômica, permitindo a venda da terra após a titulação. Os camponeses receberão uma migalha, gastarão tudo o que receberem com itens fundamentais para sua sobrevivência no curto prazo e ficam depois arrasados sem sua terra.
No imediato, esse processo de contraposição à titulação, leva a um determinado atrito com segmentos mais debilitados e desesperados da base camponesa. Porém, em um médio e longo prazos, a própria experiência histórica e política demonstrarão o acerto político de se contrapor de maneira contundente a esse processo, bem como será capaz de aglomerar os camponeses entorno da pauta da reforma agrária, que foi completamente destruída pelo golpe.
Soma-se a isso, a questão dos despejos forçados, onde as ameaças no campo e na cidade dispararam, chegando a um aumento em 655% nos últimos dois anos. Após o dia 31 de outubro de 2022, mais de meio milhão de pessoas poderão ser jogadas nas ruas com o fim dos efeitos do ADPF 828, que proíbe determinados despejos. As organizações populares, do campo e da cidade, já demonstraram no último período uma enorme disposição em tomar as ruas contra essa arbitrariedade, conquistando assim sucessivas prorrogações dos efeitos dessa medida, e a tendência é manter essa disposição pela retomada da política habitacional do País.
É necessário canalizar todo esse descontentamento para viabilizar uma política audaciosa que procure dar respostas concretas para os problemas que afligem todo o conjunto da classe trabalhadora!