O caos está se instalando rapidamente na Europa. Na última semana, vimos a passagem meteórica de Liz Truss no cargo de primeira-ministra do Reino Unido, 44 dias, um belo fiasco para quem pretendia ser a nova dama de ferro (referência a Margareth Thatcher).
Na Itália, onde venceu a extrema direita, Giorgia Meloni foi autorizada a formar o governo, mas a vida não é assim tão simples. Deixaram vazar um áudio de Silvio Berlusconi dizendo que toda essa agitação na Europa é culpa do conflito na Ucrânia, o que é verdade; e, ainda, se reaproximou de Putin. Meloni declarou que “Quem não estiver de acordo não poderá fazer parte do governo”, e disse que estará fora do governo aqueles que não estiverem alinhados com o “atlanticismo”.
A contradição se apresenta antes mesmo de o governo estar formado. A extrema direita, que se apoia sobre ideais, ainda que confusos, nacionalistas, já se declara pró-Otan, o que significa que entrará muito brevemente em choque com a classe trabalhadora, que está sendo penalizada com o brutal aumento do custo de vida. Resultado das provocações dos EUA contra a Rússia.
Na França, o governo Macron enfrenta greves e manifestações gigantescas. A extrema direita tem avançado a ponto de quase ter vencido as eleições, o que deixou o governo sem a maioria no parlamento. Por conta disso, Macron teve que usar um dispositivo constitucional (artigo 49.3) para aprovar parte do orçamento de 2023 sem passar pelos votos dos parlamentares.
Vale lembrar que a inflação na França, de 6.2%, é ainda menor que a média na União Europeia, em 9,9%. Se esse é um valor médio, países que estão na ponta superior do gráfico apresentam inflações na casa dos 20%. Se a inflação continuar subindo, o governo Macron corre seríssimos riscos.
Na Alemanha, a principal economia europeia, ocorreram manifestações neste sábado (22) em Berlim, Dresden, Dusseldorf, Frankfurt, Hannover e Stuttgart. O motivo é a crise energética provocada pelas sanções impostas à Rússia.
As manifestações foram chamadas pela esquerda, sindicatos, organizações sociais. O ponto negativo é a presença de ambientalistas nos protestos fazendo apelo à sustentabilidade. Como sempre, esses grupos tentam diluir o caráter político das manifestações e causar confusão nas reivindicações. Apesar disso, o Partido Verde é o mais belicista na Alemanha, o que mais pressiona para o que governo alemão mande mais armamentos para a Ucrânia.
O governo alemão está na corda bamba, apesar de ter anunciado um pacote de € 200 bi, pois sofre pressão da população, por um lado, e pelos EUA do outro, incomodados com o fato de Schlz resistir em apoiar o teto no preço do gás russo.
Capacho dos EUA
O Reino Unido é o maior parceiro dos Estados Unidos dentro do bloco imperialista. A crise está sacudindo os britânicos. A saída de Theresa May, Boris Johnson e Liz Truss, com a movimentação de Boris Johnson querendo assumir um segundo mandato, é como alguém tentando apagar um incêndio com gasolina.
O caos está instalado, podemos dizer. Boris Johnson, que chegou ao cargo de uma maneira muito estranha, um verdadeiro golpe de Estado contra Tereza May, não encontrará um ambiente melhor do que aquele que deixou ao renunciar. Johnson está muito alinhado com os interesses dos EUA/Otan, que foi provavelmente quem o colocou no poder. Resta saber qual será o estrago que provocará a repetição dessa manobra, caso haja sua reeleição
Outro golpe brando?
Portais, como o Sputink, estão noticiando que Liz Truss teria sofrido um golpe brando. Medidas econômicas tomadas por seu governo afundaram a libra esterlina e corroeram o apoio do ‘mercado’ à sua gestão. Logo de cara, caiu seu ministro da economia. Houve uma debandada de seu gabinete, com pedidos de demissão em massa. Com isso, a primeira-ministra ficou sem apoio e teve de renunciar. A eleição para o novo ministro deve ocorrer já nesta semana. Até o dia 28.
O plano de fundo desta crise é o custo de vida que vem subindo assustadoramente no Reino Unido. 60% das famílias não conseguem pagar suas contas básicas. Isso tem motivado as pessoas a saírem às ruas.
A classe trabalhadora britânica esteve muito tempo recuada, pois durante o governo Thatcher a perseguição a sindicatos, grevistas, foi brutal. Porém, tudo indica que o medo está ficando para trás. Com o inverno chegando, os trabalhadores terão escolher em lutar contra o governo, ou morrer congelado no sofá, pois o inverno está chegando, tornando a vida insustentável sem aquecimento.
A quem interessa?
O único interessado nessa crise, ao que tudo indica, é o imperialismo norte-americano. O mercado armamentista está se reaquecendo e as vendas para o exterior aumentaram. Os EUA também se apresentam para vender gás para a Europa.
Não podemos descartar que um dos alvos dos americanos seja mesmo debilitar a economia europeia, notadamente a Alemanha, que é o maior exportador do continente. A indústria alemã depende enormemente do gás russo, e energia barata é fundamental para se ter competitividade no mercado.
Recentemente, o imperialismo estava pressionando a Volkswagen, montadora alemã, a interromper o funcionamento de uma planta muito lucrativa em Xi Jiang, na China. Fazendo um exercício um tanto especulativo, poderíamos concluir que, com essa manobra, os EUA poderiam atingir simultaneamente Alemanha e China, abrindo mercado para produtos seus.
O que há de paradoxal nisso tudo é que com a chegada do inverno a temperatura na Europa vai se elevando. A temperatura política, queremos dizer. A classe trabalhadora está se levantando e inevitavelmente entrará em choque com a burguesia.




