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Patrícia Hakkak

Política da direita

Um pretexto para a censura generalizada

A censura na cultura só interessa à direita

“Como se tornar a pior Democracia da História

Talvez esse texto deva começar assim, pois num mundo democrático onde a arte não deveria ser censurada, presa e nem impedida de verbalizar, quem é aprisionada é justamente a arte.

Sim, esse é o caso do (agora) polêmico filme “Como se tornar o pior Aluno da Escola”, escrito por Danilo Gentili e lançado (ainda como livro), em 2009. Um ano depois, em abril de 2010, foi denunciado no Ministério Público Federal. A denúncia foi feita por um pai de um leitor menor de idade que, após ler trechos do livro enviou, uma carta ao órgão para criticar a obra que, segundo ele, ensina maneiras ruins aos estudantes.

Note: “ensina maneiras ruins aos estudantes”, não fala nada de “pedofilia, nem nada parecido.

Ainda nessa época, o então apresentador Roberto Justus perguntou em entrevista a Gentili, se ele não tinha pensado que o livro não poderia gerar má repercussão. Danilo respondeu em seguida: “Pensei; ao pensar, falei: ‘É, precisa virar livro”

Passa-se o tempo e chegamos em 2017, e um filme é lançado, um filme escrito por Danilo Gentili e estrelado por Fábio Porchat. O nome do filme “Como se tornar a pior Aluno da Escola”, ganhou uma faixa indicativa de 14 anos, e “nada novo sob o sol” aconteceu até agora, 2022, quando parecem ter redescoberto o filme.

O longa foi acusado de mostrar apologia à pedofilia a partir de recorte do filme que circulou nas redes sociais nos últimos dias, em 2022.

Na sinopse oficial, a história trata de quando dois adolescentes, interpretados pelos atores Bruno Munhoz e Daniel Pimentel, encontram um diário com “dicas” de como se tornar “o pior aluno da escola”.

A cena que gerou as críticas mostra quando o inspetor, vivido por Porchat, sugere um ato sexual por parte dos garotos.

Como as plataformas se pronunciaram

“O Globoplay e o Telecine estão atentos às críticas de indivíduos e famílias que consideraram inadequados ou de mau gosto trechos do filme Como Se Tornar O Pior Aluno Da Escola mas entendem que a decisão administrativa do ministério da Justiça de mandar suspender a sua disponibilização é censura. A decisão ofende o princípio da liberdade de expressão, é inconstitucional e, portanto, não pode ser cumprida.

As plataformas respeitam todos os pontos de vista mas destacam que o consumo de conteúdo em um serviço de streaming é, sobretudo, uma decisão do assinante – e cabe a cada família decidir o que deve ou não assistir. O filme em questão foi classificado, em 2017, como apropriado para adultos e adolescentes a partir de 14 anos pelo mesmo ministério da Justiça que hoje manda suspender a veiculação da obra.”

Atualmente disponível no catálogo da Netflix, o Ministério da Justiça decretou uma multa diária de R$50 mil reais caso o filme não seja retirado de circulação, “tendo em vista a necessária proteção à criança e ao adolescente consumerista”. A decisão também indicam que, além da Netflix, a pasta impediu outras plataformas on-line, como o Globoplay, o Telecine, o YouTube, a Apple e o Prime Video, de exibirem o título.

O Ministério da Justiça mudou a classificação indicativa da comédia “Como se tornar o pior aluno da escola”, de 2017. Citando “tendências de indicação como coação sexual; estupro, ato de pedofilia e situação sexual complexa”, a recomendação etária passou de 14 para 18 anos. O despacho, assinado pelo secretário José Vicente Santini, foi publicado no “Diário Oficial da União” desta quarta-feira (16). O texto também recomendou que o filme seja exibido após as 23h em televisão aberta.

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública para suspender a remoção do filme “Como se tornar o pior aluno da escola” das plataformas de streaming.

A decisão pela retirada do longa foi tomada pelo Ministério da Justiça no dia 15 de março

De acordo com o MPF, o ato da pasta configura “censura ao impedir a coletividade de consumidores de exercer sua autonomia de escolha, para consumo próprio, de obra artística cinematográfica sem interferência do Poder Público”.

Aqui não estão pautadas criticas à qualidade do filme, se é bem roteirizado, se tem uma boa fotografia, ou se a direção é boa, a discussão é sobre censura e porque não se deve aceitá-la seja da forma que ela vier.

E a estranheza aqui é saber que o filme não é novo, e antes disso, livro.

O livro foi lançado em 2009, 8 anos depois lançam o filme, em 2017, e 5 anos após isso decidem que o filme tem que ser retirado do catálogo de filmes de canais fechados. A pergunta é: não foi visto toda essa questão quando foi lançado? ou como filme em 2017?

Até um conhecido pastor parabenizou Gentili “por fazê-lo rir, como há muito tempo não ria”, o filme antes não tinha cenas polêmicas?

Por outro lado, a cena em questão pode, inclusive, abrir os olhos para as crianças que hoje sofrem com abusos nas escolas, nas igrejas, em suas casas. E quando um assunto deste nível é mais amplamente discutido? Quando, de alguma forma, ele passa pela arte, seja qualquer uma.

Mesmo assim, precisou-se de 13 anos (contando desde a publicação do livro), para que a burguesia pudesse aferir que uma obra de comédia retrava uma questão importante. E mais, a discussão da pedofilia, ao contrário do que diz a lógica identitária, não significa normalizá-lo. É, antes disso, uma forma de, pela arte, levantar a discussão.

O que dizem Gentili e Porchat

Danilo Gentili mostrou um trecho do livro que escreveu e serviu de inspiração para o filme, para se defender: “O âmago desse filme e desse livro tá nesse trecho: ‘O pior aluno da escola é aquele que não repete o que todo mundo faz só porque é modinha nem acredita em qualquer caga regra só porque ele é uma autoridade, líder ou professor’. Então, o que permeia o livro é ‘Por que devo obedecer?’. Então essa cena (sobre a pedofilia) é exatamente sobre isso, uma pessoa que se apresenta como uma autoridade, pedindo coisas abjetas e absurdas para os alunos que não obedecem. Então, em momento algum, o filme faz uma apologia à pedofilia, o filme vilaniza a pedofilia.”

Fábio Porchat, o ator da cena, explica porque é importante ter isso num filme:

“Eu interpreto um vilão. É um personagem mau, que faz coisas horríveis. Um vilão pode ser racista, nazista, machista, pedófilo, matar ou torturar pessoas. Quando isso aparece em um filme, não quer dizer que estamos fazendo apologia. Não é um incentivo ao que o vilão está praticando, mas sim um mundo perverso sendo revelado ao público. Existem momentos em que é duro assistir. Quanto mais bárbaro o ato, mais repugnante é”, completou.

Quando assistimos ou lemos atos terrívieis dos personagens, isso existe para denunciar e levar à discussão de como deve ser tratados assuntos espinhosos que infelizmente existem. Quando se fala em “apologia” significa exatamente o contrário disso, está no dicionário:

Apologia – “Discurso através do qual defende; justifica uma ideologia, um adoutrina, uma religião, uma obra literária ou artística: (Por Extensão): Ação de defender algo ou alguém apaixonadamente” (Dicio. Dicionário On-line Portugûes)

Fica claro que simplesmente não é esse o caso. Os jovens não aceitam, fogem, e é pelos meninos que se entende, ou deveria se entender, que aquilo que o referido personagem faz, é no mínimo, horrível.

Vale notar que Danilo Gentili chegou a apoiar o governo de Bolsonaro. Mais tarde, romperia com o golpista, chegando até mesmo a criticá-lo, utilizando, mais uma vez, o seu humor. Desde então, Gentili não foi mais tratado tão “gentilmente” como antes, sendo, inclusive, criticado pelo bolsonarismo.

Aqui, cabe uma pergunta: por que só agora? Por que só depois de tanto tempo é que o filme está gerando essa polêmica?

Fica claro que a burguesia não está realmente preocupada com a pedofilia. A censura em questão serve, acima de qualquer coisa, para criar um clima antes visto no caso Monark, o da “censura do bem”. Entretanto, tal coisa simplesmente não existe. Todo e qualquer tipo de censura, dentro do capitalismo, se volta, no final, contra a classe operária. Não é atoa que uma das principais características de ditaduras fascistas – expressões polarizadas do capitalismo – é, justamente, a censura.

É preciso muita atenção. Quando se entendo o mundo como uma luta entre “mocinhos” e “vilões”, já não se sabe mais quem é quem quando o vilão se veste de mocinho.

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