─ Eduardo Vasco, de Rostov do Don
A Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, assinada em Paris por ocasião da III Seção da Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 1948, determina que genocídio é “qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:
- matar membros do grupo;
- causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
- submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;
- adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
- efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo.”
Podemos dizer que os militares e paramilitares ucranianos, com total apoio do governo daquele país, fizeram tudo isso contra a população do Donbass.
A guerra promovida pelo regime golpista de Kiev desde 2014 contra a região a leste da Ucrânia se enquadra, portanto, na categoria de genocídio. Foram cerca de 14 mil pessoas mortas devido à agressão ucraniana, que tem contado com a participação essencial de grupos declaradamente nazistas em sua linha de frente. E a ideia espalhada pelo regime ucraniano sempre foi a de “desrussificar” o Donbass e a Ucrânia.
A maior parte dos habitantes do Donbass é de etnia russa e os russos são a principal minoria no país. Conforme me contaram diversas pessoas com que conversei na Rússia, os cidadãos russos consideram os ucranianos como irmãos e praticamente como um só povo, russos e ucranianos. Entretanto, há oito anos a ditadura ucraniana vem realizando uma verdadeira limpeza étnico-cultural contra os russos.
O ensino do idioma russo foi banido nas escolas ucranianas, qualquer cidadão que for pego pela polícia conversando em russo na rua pode ser multado, propaganda governamental e de grupos de extrema-direita altamente influentes trata os russos como seres inferiores e que devem ser exterminados, monumentos russos e soviéticos têm sido demolidos. Homens, mulheres e idosos têm sido humilhados, presos, torturados e assassinados apenas pelas suas ligações raciais e culturais com a Rússia.
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Fala-se muito, nas últimas décadas, a respeito de genocídios. As próprias Nações Unidas, no entanto, que caracterizaram o genocídio como um crime contra a humanidade, e que reconhecem o número de mortos no Donbass desde 2014, permanecem em um silêncio sepulcral a respeito do genocídio da Ucrânia contra os russos do Donbass.
Mas é ainda pior: a ONU é inteiramente cúmplice desse mesmo genocídio. Na semana passada, a equipe da Causa Operária na Rússia entrevistou representantes da prefeitura de Rostov do Don, a maior cidade russa próxima à fronteira com a Ucrânia e o Donbass, a três horas de carro. Sergey Zarevsky, secretário de Economia e responsável pelo acolhimento governamental aos refugiados do Donbass que chegam a essa região fronteiriça, denunciou que a ONU, Cruz Vermelha Internacional e as outras organizações internacionais, que posam de “humanitárias”, estão atuando apenas a favor do lado ucraniano e não prestam nenhum tipo de ajuda às vítimas do genocídio no Donbass, sem dar nenhuma explicação.
─ Também pensávamos que a Organização das Nações Unidas atuasse pensando em todos, mas parece que também pensam apenas em um lado ─ completou Maria Krylosova, secretária de Relações Internacionais de Rostov. Ela nos disse que os refugiados não têm apoio de nenhuma organização internacional, apenas do governo russo.
─ Então a ONU e a Cruz Vermelha estão sendo usadas como instrumento da guerra contra a Rússia? ─ questionei.
─ Sim ─ respondeu Zarevsky, com ar de lamentação, assim como sua colega.
Tanto os russos que vivem em regiões fronteiriças, como os que vivem em praticamente qualquer parte do país, têm algum parente ucraniano. Os laços são muito fortes. Por isso houve uma enorme comoção nacional quando Kiev iniciou a agressão contra o leste do país. Por isso houve um apoio do povo russo à declaração de independência das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. E por isso há um apoio colossal e nítido por parte da população russa à operação militar especial de libertação, desnazificação e desmilitarização da Ucrânia.
─ As organizações internacionais atuam somente do lado ucraniano. Por exemplo, quando essas organizações sabem que os militares da Ucrânia irão atacar alguma cidade, elas não fazem nada para alertar e ajudar a população e a abandona à própria sorte ─ nos disse também Ludmila Korsakova, uma liderança de refugiados de Lugansk que conversou conosco durante um programa no canal Don 24.
Não existe nenhuma entidade tão santificada pelos meios de comunicação, governos e poderosos de todo o mundo como a ONU (nem mesmo o próprio Vaticano!). Ela seria a materialização da luta comum de toda a humanidade pelos direitos humanos e a defesa da vida das pessoas no mundo inteiro. Mas, assim como foi no Iraque, no Afeganistão ou na Líbia, ela prova novamente que é uma organização partidária dos interesses das grandes potências imperialistas. O mesmo vale para a Cruz Vermelha. Vocês se lembram dos Capacetes Brancos na Síria? Não eram retratados como anjos que salvavam crianças das armas químicas do ditador sanguinário Assad? Pois depois se descobriu que eles próprios fabricavam os supostos ataques e trabalhavam como verdadeiros atores de cinema em meras peças publicitárias contra o governo sírio e os russos e a favor da intervenção americana.
─ Ainda naquele ano de 2014, nós pedimos a organizações internacionais que ajudassem a parar a agressão da Ucrânia contra o Donbass, mas elas nos ignoraram. Desde que criamos a nossa organização, temos pedido a organizações da Europa e do mundo todo para nos ajudar, mas não nos respondem. Também enviamos documentos oficiais assinados por nós e por pessoas de mais de 40 países e sabemos que até mesmo a OTAN recebeu esses documentos, mas todas as nossas petições foram ignoradas ─ denunciou ainda Ludmila.
A Cruz Vermelha fornece remédios vencidos quando os pobres-coitados do Donbass clamam por ajuda humanitária. Está errado quem pensa que o tratamento VIP às “vítimas” ucranianas é dado somente porque são branquinhos de olhos claros. As verdadeiras vítimas, as do Donbass, são exatamente iguais. E onde está a ONU, a Cruz Vermelha, a OMS, a Anistia Internacional, os Médicos Sem Fronteiras, a Human Rights Watch e todos os heróis da humanidade?
Resposta: apoiando intencionalmente o genocídio no Donbass.