Conforme as eleições norte-americanas de meio de mandato se aproximam da sua conclusão, a imprensa imperialista, que antes das eleições demonstrava uma grande preocupação perante ao crescimento e uma possível vitória avassaladora do trumpismo, tomam os resultados, em particular o fato de o partido democrata ter mantido controle do Senado, como sendo um indicativo do exato oposto, ou seja, Trump seria o grande derrotado das eleições. Nada mais longe da verdade.
Para compreender verdadeiramente a situação, é preciso, antes de tudo, traçar as coordenadas reais destas eleições, que não foram as suas “típicas” eleições norte-americanas envolvendo dois partidos para todos os efeitos práticos idênticos, que representam o setor mais poderoso do imperialismo norte-americano. Tradicionalmente, a política dos EUA gira em torno de uma dança de cadeiras entre o Partido Democrata e o Partido Republicano, em que um assume o governo quando o outro se apresenta como uma alternativa esgotada para a população norte-americana, mas sempre mantendo os interesses do grande capital intocados. Isso já não é mais possível desde que o trumpismo, que representa setores da burguesia norte-americana mais ligados ao mercado interno e que, em geral, sofreram bastante com a política neoliberal estabelecida nos últimos 40 anos, engoliu o partido Republicano e que boa parte dos republicanos “tradicionais” foram escanteados.
Sob o pretexto de lutar contra a barbárie, o trumpismo foi intensamente reprimido desde a vitória eleitoral de Biden em 2020, que abusou dos votos por correio para garanti-la, mas como se trata de um movimento da classe dominante, ainda que não do seu setor mais poderoso, não é possível derrotá-lo dessa forma. Não fosse só isso, como todo partido da direita tradicional, os democratas levam adiante uma política profundamente antipopular e como o grosso da esquerda norte-americana segue a política do setor mais poderoso do imperialismo, a retórica “nacionalista” do trumpismo ressoa com vastos setores da classe operária norte-americana e contribui para seu crescimento. O fato de o trumpismo, muito provavelmente, conquistar a maioria na House of Representatives, o análogo da Câmara de Deputados brasileira, nestas condições adversas reforça a tese de seu fortalecimento. Caso contrário, por que continuar este ataque tão intenso ao trumpismo se este foi cabalmente derrotado nas eleições?
Outro fato interessante é a campanha levada adiante pela imprensa imperialista que busca elencar Ron DeSantis, um neoliberal feroz típico, à posição de líder do partido Republicano. A realidade mostra que o governo Democrata se esgota rapidamente frente aos norte-americanos, mas não há mais a possibilidade de substituí-lo por um governo do partido Republicano, pelo menos por enquanto. Neste cenário, se coloca para a já insignificante esquerda norte-americana duas opções: se desvencilhar do partido Democrata e levar adiante uma política de combate contra o imperialismo democrata e a demagogia trumpista, ou desaparecer.