Há vários meses, a cidade haitiana de Cabaret, ao norte de Porto Príncipe (capital), vem sofrendo com vários ataques promovidos por gangues locais. Um dos ataques ceifou a vida de 12 pessoas, além de incendiar várias casas. Segundo o prefeito da cidade, Joseph Guillaume, “os bandidos voltaram à região após terem sido perseguidos há alguns dias pela polícia e por membros da comunidade. Esta manhã descobrimos vários cadáveres carbonizados”. Além desse episódio relatado pelo prefeito, no dia 11 de novembro alguns membros dessas gangues já haviam incendiado um carro blindado da polícia em Porto Príncipe.
“Um dos pontos mais importantes do país, que fica na região, não pode funcionar há vários dias. Nossos cidadãos vivem com medo de ser atacados”, disse Joseph Guilaume.
Essa violência pela qual passa o Haiti é mais uma de um longo processo de crise social, política e econômica, intensificado sobretudo após o assassinato do presidente Jovenel Moisse, ocorrido em julho de 2021. O Ministro das Relações Exteriores do Haiti, Jean Victor Geneus, na Assembleia Geral das Nações Unidas, ocorrida em 24 de setembro deste ano, disse que o país, para resolver esse caos político, precisaria do “apoio efetivo de nossos parceiros”, o que se somou como um pedido de intervenção militar estrangeira a outros realizados por representantes do governo do primeiro-ministro Ariel Henry.
Corriqueiramente atingido por problemas ambientais como terremotos e furacões, o Haiti foi um dos primeiros países a conquistar sua independência da França, em 1804, mas atualmente deve continuar resolvendo seus problemas com a gerência de seu próprio povo, pois as intervenções imperialistas dos americanos foram nefastas para o desenvolvimento e soberania do país. Os americanos ocuparam o Haiti de 1915 a 1934; depois apoiaram uma ditadura de 1957 a 1986; apoiaram dois golpes contra o presidente Jean-Bertrand Aristide, um progressista, em 1991 e 2004, além de o país ter passado também por uma intervenção da Organização das Nações Unidas (ONU) entre os anos de 2004 a 2017, mostrando que essas intervenções só aprofundaram a crise social, política e econômica que hoje assola a nação, cuja maior parte da população não tem acesso à água potável, à saúde, à educação e moradia dignas. Com cerca de 11,4 milhões de habitantes, mais de 4 milhões sofrem com a fome e cerca de 70% com desemprego.
Se o país tiver que receber algum apoio terá que ser de forma muito equilibrada e sem qualquer ingerência com relação à vontade de seus governantes e do seu próprio povo, pois o saldo dessas intervenções externas não trouxe prosperidade e nem condições adequadas para a efetivação da soberania haitiana.