No ano de 1975 a Assembleia Geral da ONU determinou por uma votação de 72 a 35 que o “sionismo é uma forma de racismo e descriminação racial”. A ocupação genocida da Palestina pelos israelenses naquele momento não tinha nem 30 anos, a terceira guerra árabe-israelense, que levou a ocupação militar do que ainda restava da Palestina, a faixa de Gaza e a Cisjordânia, havia completado 8 anos. Mas já estava claro para qualquer um que não fosse um reptil pró-imperialista que o regime criado pelos Israelenses era uma brutal ditadura fascista que oprimia principalmente os palestinos e também outros povos árabes. Passados quase 50 anos, é difícil encontrar palavras para descrever a baixeza dos que ainda batem no peito e se afirmam sionistas.
O sionismo surgiu no final do século XIX na Europa como um tipo de movimento nacionalista, seu objetivo era encontrar uma terra para os judeus. A ideologia inicial já era estranha por si só, a política marxista é de defender todas as minorias oprimidas, lutar para que todos os seus direitos sejam garantidos. Sendo assim os marxistas sempre se colocaram em defesa das minorias judaicas nos países europeus, onde a perseguição era muito forte. Basta parar para pensar, se você viveu toda a sua vida na Polônia, na Alemanha, Na Rússia, na Áustria, etc. você prefere que seu povo deixe de ser oprimido em seu país para que você possa viver em paz, ou prefere se tornar um imigrante há mais de 3mil quilômetros de distância em uma terra desértica?
Essa ideia fez com que muitos antissemitas se colocassem ao lado dos sionistas visto que do ponto de vista deles o problema seria resolvido, os judeus todos sairiam de seu país. E após a criação do Estado de Israel o inverso também aconteceu, do ponto de vista de Israel a existência do antissemitismo em diversos países, principalmente árabes, foi até estimulada pois assim os judeus imigrariam para a Israel assim aumentado sua população. Fica claro que a política dos sionistas, sejam em sua nascença, seja da forma brutal que ela assumiu depois da criação de Israel, em nenhum momento combateu o racismo, ela na realidade defende uma forma de segregação, um racismo.
Passando para 1948 quando aconteceu a Naqba, como chamam os palestinos, a catástrofe da ocupação de seu território por um povo europeu apoiada pelo imperialismo. Foi criado o Estado de Israel que tem como base tanto a questão racial quanto a questão religiosa, algo completamente reacionário por si só. Já em 1967 a Palestina foi ocupada militarmente por completo, e assim se formou o apartheid que existe até os dias de hoje. A analogia com a África do Sul, possivelmente o país mais racista do planeta durante esse periodo, não para por ai, Israel se tornou uma de suas grandes aliadas durante o Apartheid, apoiando até militarmente.
Por isso em 1975 os países árabes pressionaram para a votação na ONU. Em defesa de Israel votaram quase que só os países imperialistas, Inglaterra, França, Itália, EUA, Alemanha Ocidental etc. Em defesa dos palestinos votaram a URSS e os países socialistas, os países árabes, Índia, China e o próprio Brasil. Só por ver a configuração, mesmo para os que nunca ouviram falar de sionismo, já é fácil saber qual é a posição correta. Isso porque grande parte dos países oprimidos não teve a coragem de se colocar abertamente contra o imperialismo, sendo o Brasil um dos poucos países, que possuía um governo subordinado aos EUA, que teve a capacidade de se posicionar.
A votação incomodou tanto o imperialismo que 16 anos depois, em 1991, foi realizada uma manobra para reverter o quadro. Com a queda da URSS e a vitória do neoliberalismo internacionalmente foi aproveitado o clima ultrarreacionário para revogar a votação. Israel impôs que a decisão fosse revertida para participar Conferência de Paz de Madri, o resultado? O sionismo não é mais considerado racismo pela assembleia da ONU, já a opressão dos palestinos piorou exponencialmente nos últimos 30 anos. O apartheid chegou a tal ponto que muros gigantesco se espalharam por todo o país e mais de meio milhão de israelenses foram tomar as terras oficialmente dos palestinos, mas sob o controle militar de Israel.
O caráter ideológico do sionismo é importante mas é o mais relevante é denunciar a questão material, a brutal opressão de milhões de palestinos em um dos regimes mais violentos de toda a história da humanidade. Mais importante que definir se o sionismo é racista ou não é apoiar a luta do povo palestino por sua libertação, defender o fim imediato do Estado de Israel e a criação de um Estado da Palestina em que a maioria árabe tenha todos os seus direitos, e também a minoria judaica que lá quiser continuar.
Mas há ainda um último aspecto que vale ser comentado, como o sinonismo nos dias de hoje é principal baluarte do antissemitismo internacionalmente. Mas esse ponto ficará para a coluna da próxima semana.