─ CUT ─ A dura realidade dos trabalhadores e das trabalhadoras nas redes de fast food, em especial do McDonalds, será tema de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado, nesta segunda-feira (8), às 10h. O objetivo é denunciar as condições degradantes de trabalho imposta aos funcionários, principalmente após a reforma Trabalhista, e cobrar de autoridades medidas drásticas contra a rede para proteger os trabalhadores.
Além dos baixos salários, os trabalhadores do McDonalds sofrem, na maior parte das vezes, com jornadas abusivas, acúmulo de funções e, não raro, humilhações e assédio moral e sexual por parte de seus superiores.
Na audiência, dez ex-funcionários darão depoimentos sobre o período em que trabalharam para a rede e que explicitam a cruel forma de tratamento a que são submetidos esses trabalhadores que, enquanto contratados pela empresa, têm suas vozes silenciadas pela opressão de seus superiores.
”A rede quando implica com o trabalhador que se sente lesado, que faz denúncia, que procura o sindicato, passa a perseguir esse trabalhador ainda mais. Quando o sindicato vai até alguma unidade para dialogar com os trabalhadores, é comum ver os gerentes, de canto, gesticulando para que o trabalhador não aceite nenhum material”, diz Julimar Roberto, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Comércio e Serviços da CUT (Contracs-CUT), uma das entidades que participam de uma campanha em nível mundial de acolhimento às vítimas, que vem sendo realizada pelo Sindicato Internacional dos Trabalhadores em Serviços (Service Employees International Union – SEIU, em inglês) junto com outras entidades brasileiras que incentivaram os trabalhadores a exporem a situação.
De acordo com Julimar, o trabalho em redes de fast food é, em muitos casos, o primeiro emprego de um jovem que, por não ter experiência nem conhecimento sobre seus direitos, fica acuado com a pressão dos chefes e gerentes.
“O assédio moral [no Mc Donalds] é muito comum e há relatos, inclusive, de assédio sexual contra trabalhadores trabalhadoras”, diz o dirigente.
Desde o ano passado, o Ministério Público do Trabalho (MPT) vem apurando esses casos, além de outros que envolvem racismo e LGBTQIA+fobia no McDonalds. No final de junho, o MPT determinou a abertura de inquérito civil para apurar denúncias contra a empresa no Brasil.
“Esperamos que as autoridades tomem uma atitude drástica contra a rede no Brasil. A audiência pública tem o propósito de alertar sobre isso assim como os parlamentares para que elaborem leis que protejam esses trabalhadores”, afirma Julimar Roberto.
Redes de assédio
Na página do Facebook da Campanha Sem Direitos Não é Legal, são relatados vários casos, como formas de punição e castigo aos trabalhadores que não cumprem metas e até mesmo por motivos não relacionados ao ambiente profissional como debates pessoais entre trabalhadores e supervisores.
Outros são divulgados na mídia após decisões judiciais contra as empresas do setor, como foi o caso do trabalhador do Burger King que teria discutido sobre futebol com o chefe e, por isso, foi colocado ‘de castigo’ em uma câmara fria em uma das unidades.
“Nossa campanha se refere especificamente ao McDonalds, mas sabemos que é uma realidade comum a trabalhadores de outras redes. Eles não respeitam acordos coletivos de trabalho, não negociam e toda essa realidade piorou muito após a reforma Trabalhista, que tentou limitar a ação sindical”, diz Julimar.
Audiência e protestos
O requerimento para a realização da audiência pública foi feito pelo Senador Humberto Costa (PT-PE). Outros senadores que também defendem direitos de trabalhadores participarão do evento, como os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Paulo Rocha (PT-PA).
“Os casos de violações sistemáticas de direitos humanos nessas redes de fast-food são assombrosos e se repetem em todo o país, demonstrando a precariedade do vínculo trabalhista e das relações de trabalho nessas empresas”, afirma o senador Humberto Costa.
Por isso, ele reforça, “é preciso combater e punir para não criarmos um novo sistema escravista em pleno Século XXI.” O senador é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal, onde será realizada a audiência.
Na parte da tarde, também em Brasília, às 15h, haverá um protesto em frente ao Eixão, com vista para a Torre de TV.
Além da Contracs, participam das atividades centrais sindicais internacionais como SEIU, IUF, UITA, IUL (Food, Farm, Hotels and More) e Fight for $15. Outras centrais brasileiras como a UGT e a Força Sindical também estão engajadas na campanha
A campanha
Diversas ações não só no Brasil, mas também em outros países vêm sendo realizadas. Uma delas aconteceu em maio deste ano, em Washington, nos Estados Unidos. O “Unions for All” foi um evento organizado pelo SEIU que reuniu centenas de trabalhadores do setor para tratar de questões trabalhistas.
No Brasil, sindicatos que representam esses trabalhadores também têm feito protestos em unidades do McDonalds espalhadas pelo país.
No Facebook, Twitter e Instagram, trabalhadores dessas redes têm acesso a um canal de denúncias no WhatsApp para reportar casos de abusos. “As denúncias são anônimas para proteger esses funcionários de represálias de seus chefes”, diz o dirigente da Contracs.
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