Política identitária

“Representatividade de mulheres negras”, George Soros e os bancos

Em coluna no Globo, Rachel Maia, ex-CEO da Lacoste e da Pandora no Brasil, defende o identitarismo por meio de iniciativa financiada pela Febraban e Open Society

Na quarta-feira da semana passada (19), o jornal O Globo publicou um artigo de autoria de Rachel Maia intitulada Representatividade em espaços de poder no qual a colunista discorre acerca da importância que a presença de – especificamente – mulheres negras tem para a luta do povo negro no Brasil.

No texto, a autora apresenta diversos dados acerca da presença de mulheres negras em “espaços de poder”, como na liderança de empresas, em profissões liberais como a advocacia e, com especial destaque, em cargos públicos, utilizando como fonte os números apresentados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições deste ano.

De maneira implícita, Rachel argumenta que a “representatividade”, ou seja, que a presença de mulheres negras nos locais citados resultaria, necessariamente, em uma diminuição na desigualdade social à nível nacional. Tese que é ocultada por meio de seu jargão identitário que, no final, não explica, de maneira concreta, como se daria tal processo.

Por fim, Maia explica que, para solucionar problemas como a “discrminação racial”, seria preciso lutar por políticas de inclusão social que garantissem uma cota mínima de mulheres negras em cargos importantes. Um verdadeiro improviso teórico que mostra bem qual o verdadeiro caráter de toda a política identitária.

“Representatividade”, “empoderamento”… armadilhas que travam a luta dos povos oprimidos

Em primeiro lugar, é preciso explicar claramente quão vazio é o identitarismo. Já que Rachel não forneceu nenhuma explicação do porquê seu raciocínio deveria ser levado a sério, do porquê um aumento na quantidade de mulheres negras em cargos importantes necessariamente resultaria em uma melhora na vida dessas pessoas, cabe conjecturar.

Vamos nos limitar, à título de análise, à questão eleitoral. Digamos que uma mulher negra tenha sido eleita para algum cargo legislativo, como para o Senado. Poderia argumentar-se que, com isso, as reivindicações das mulheres negras seriam, portanto, atendidas. Ponto que parece ser um dos centrais das colocações de Rachel.

Em primeiro lugar, seria preciso garantir que tal candidata fosse de esquerda, ou seja, que se preocupasse minimamente com a situação do povo brasileiro. Vejamos o caso de Tebet, por exemplo: é uma mulher que, uma vez no Senado, não só não ajudou a melhorar a situação da mulher brasileira, como fez questão de piorá-la votando à favor de coisas como o impeachment de Dilma – contra, diga-se de passagem, uma mulher – e a reforma trabalhista de Temer.

Isso sem contar na atual Vice-Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris que, apesar de ser uma mulher negra, atuou de maneira absolutamente brutal contra o povo negro americano durante a crise de 2008, encarcerando uma parcela muito expressiva da população sem piedade alguma.

Digamos, então, que fosse eleita uma mulher negra que defendesse os interesses da classe operária. Por si só, isso não significa absolutamente nada. Afinal, ela teria que passar por cima de todo o aparato do Estado burguês que, por definição, serve para que a burguesia imponha as suas vontades apesar das necessidades dos trabalhadores.

Seria uma vitória? Decerto que sim, mas uma vitória, acima de qualquer coisa, do movimento operário, e não das “mulheres negras” em abstrato. Da mesma forma que a vitória de Lula, o maior representante dos trabalhadores neste momento, não seria uma vitória dos homens brancos nordestinos, mas sim de todo o povo pobre no Brasil. Trata-se, no fim, de uma questão puramente de classe, algo que é completamente ignorado por pessoas como Rachel Maia.

O “preconceito” também é uma questão de classe, e não de raça

Uma das constatações mais anti-marxistas do identitarismo é a de que o problema do povo negro é um problema unicamente de raça, assim como o da mulher seria um problema unicamente de sexo. Se fosse assim, poderíamos afirmar que a Rihanna, a 1729° pessoa mais rica do mundo segundo a Forbes, é oprimida por ser uma mulher negra quando, na realidade, é mais uma figura capitalista que fez a maior parte da sua fortuna não pela música, mas sim por meio de 3 das 10 empresas mais lucrativas do mundo.

Finalmente, a pessoa negra é vista como inferior porque o povo negro é, salvo exceções, a parte mais pobre da sociedade. A mesma coisa para a mulher que, normalmente, é obrigada a assumir tarefas domésticas e, portanto, não consegue conquistar a sua independência financeira.

Nesse sentido, a política identitária, desviando o problema central do materialismo histórico para uma concepção completamente aquém da realidade, ataca a mobilização dos povos oprimidos confundindo qual o verdadeiro inimigo a ser combatido, a burguesia. É uma doutrina que, justamente por isso, tem sido desenvolvida e propagandeada pelo imperialismo e por suas instituições, algo reforçado pelo artigo em questão quando analisado de onde vem a sua autora.

Rachel Maia, uma fiel representante do imperialismo no Brasil

O currículo de Rachel Maia prova de maneira cabal que a política que ela defende, o identitarismo, não é só apoiada pelo imperialismo, como financiada pelo mesmo. Ao final do artigo, ela afirma que faz parte de um grupo denominado “Pacto das Pretas” que, ao ser colocado no Google, retorna, em primeiro lugar, uma propaganda em prol do “pacto” por parte da Fundação Roberto Marinho, pertencente ao Grupo Globo.

Adiante, Maia coloca que o tal “Pacto das Pretas” é uma iniciativa do “Pacto de Promoção da Equidade Racial” que, em seu sítio online, recebe apoio institucional da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da B3 e do Pacto Global das Nações Unidas. Mais abaixo, consta que um dos seus parceiros institucionais é, nada mais, nada menos, que a Open Society Foundations, do bilionário George Soros, uma das principais organizações de intervenção do imperialismo que já organizou e financiou uma série de golpes de Estado em todo o planeta.

Como se não bastasse, segundo sua página no Linkedin, Rachel Maia já ocupou cargos importantíssimos em empresas multimilionárias: foi Diretora Executiva (CEO) da Pandora e da Lacoste no Brasil e Diretora Financeira da Tiffany & Co. Além disso, em 2017, foi nomeada pelo presidente golpista Michel Temer para o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Fica mais do que evidente, portanto, que o identitarismo serve ao imperialismo. A coluna de Rachel no Globo apenas escancara isso ao atrelar, diretamente, a política identitária com tubarões imperialistas como é o caso da Febraban e de George Soros, sem contar em sua própria relação não só pessoal, como profissional com gigantescas empresas.

E que não tenha engano: o imperialismo financia aquilo que lhe interessa. Uma ideologia que verdadeiramente representa um perigo ao capitalismo não recebe qualquer tipo de ajuda, muito menos material, por parte dele. Veja o caso do marxismo, a maior arma da classe operária para derrubar o sistema vigente e implantar a ditadura do proletariado. É o principal alvo dos ataques da burguesia justamente porque, diferente do identitarismo, representa uma forma de libertação dos povos oprimidos.

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