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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Carta da burguesia

Raposas e galinhas festejam a democracia

Tribunais eleitorais e a mais alta corte judicial unem-se para controlar o cacarejo nas redes e punir quem quiser cantar de galo no terreiro da burguesia.

Democracia é uma daquelas palavras que, como paz, amor, solidariedade ou sensatez, são sempre tidas como a expressão de valores indiscutivelmente positivos. A paz seria sempre melhor que a guerra, como o amor é melhor que o ódio, a solidariedade é superior ao egoísmo, a sensatez é superior à falta de juízo e a democracia é superior à ditadura. Basta acionar qualquer uma dessas palavras para obtermos o imediato consenso entre galinhas e raposas de toda a “sociedade civil”.

Galinhas e raposas, em nome da sensatez e do amor ao próximo, esquecem suas pequenas diferenças e se propõem a um congraçamento público em torno da leitura e do endosso coletivo de uma carta de apoio às instituições democráticas. Afinal, essas instituições é que garantem “a democracia”. As raposas, como são mais intelectualizadas que a maioria das galinhas e, além de terem um vocabulário mais sofisticado que o cocoricó delas, gozam de iniciativa e espírito empreendedor, tomaram para si a tarefa de redigir a carta. Nada mais justo.

As galinhas, muito assustadas com o perigo de um golpe de Estado que as raposas, por meio de sua imprensa, vêm vaticinando, correram à internet para dar sua assinatura digital de apoio à carta, afinal sempre ouviram dizer que a união faz a força. As raposas conseguiram convencer todo o galinheiro de que o sistema de urnas eletrônicas do Brasil é tão seguro que nem precisa de comprovante auditável.

Algumas galinhas, porém, vêm cacarejando às escondidas porque ainda não estão totalmente convencidas disso – afinal, se o Brasil é ruim em tudo, por que seria tão bom só nessa tecnologia?

Galinhas universitárias, por sua vez, antenadas com a mais moderna bibliografia importada de Harvard e especializadas em análise do discurso, asseguram que levantar essa discussão é uma estratégia discursiva do espantalho para questionar o resultado das eleições e justificar um golpe de Estado. Assim, pôr em dúvida a qualidade do sistema brasileiro de urnas eletrônicas é uma atitude “negacionista”, enquanto defendê-la, isto sim, é defender a democracia, que, como se vê, se define apenas na oposição à ditadura.

Para garantir que as galinhas desconfiadas mantenham o bico fechado, as redes sociais estão monitorando todo e qualquer cocoricó que se assemelhe a “teorias da conspiração” contra as urnas. Raposas, em suas agências de checagem, aliam-se aos tribunais eleitorais e à mais alta instância judicial do país para controlar o cacarejo nas redes e punir exemplarmente quem quiser cantar de galo no terreiro da burguesia.

Quem não tiver a memória curta vai lembrar que certa raposa do PSDB, conhecida pelo nome de Aécio Neves, diante da derrota nas urnas para Dilma Rousseff, pediu recontagem de votos. Os técnicos não chegaram a uma conclusão porque, em suma, não há como auditar o sistema, mas a imprensa vulpina deu pouca atenção a esse pormenor. Apenas revelou, com insistência, que o resultado estava correto. Será que a imprensa das raposas fez isso para defender a eleição da representante das galinhas? Só uma galinha identitária com pós-doutorado em universidade dos Estados Unidos e leitora da Folha de São Paulo poderia considerar essa hipótese.

Basta lembrar o que se seguiu a esse episódio, rapidamente abafado: o plano B entrou em ação. A imprensa das raposas fez uma intensa campanha contra o PT, e as raposas escolheram um pato amarelo de banheira como símbolo de sua campanha anticorrupção, acionando a expressão popular “pagar o pato”. O que veio depois foi a ação conjunta de todas as raposas a conduzir uma boa parte das galinhas, pois era preciso fazer parecer que as próprias galinhas queriam tirar do poder a sua representante eleita. Com sua proverbial astúcia, as raposas conseguiram seu intento.

De lá para cá, a imprensa não fala mais em corrupção, essa coisa de pobre quando chega ao poder. As leis trabalhistas, que garantiam alguns direitos conquistados com muita luta por galinhas de gerações passadas, sofreram grande “modernização” sob o governo de uma ave de rapina que fez o trabalho para as raposas. Galinhas folgadas que processarem as raposas que não cumprem os poucos direitos que lhes sobraram correrão o risco de perder a causa e, mesmo desempregadas, terem de arcar com as custas do processo.

As galinhas, muito sensatas, preferem não processar as raposas, que têm ótimos escritórios de advocacia, capazes de defendê-las de qualquer coisa. As raposas, aliás, não têm vergonha nenhuma de morar em palácio e pagar salário mínimo para a galinha que faz a faxina.

No mais, galinhas que não estiverem plenamente satisfeitas com as regras do jogo poderão ser empreendedoras nas favelas onde moram, montando uma barraquinha para vender bolo com café, ou comprar uma bolsa do iFood e entrar numa justa e meritória competição entre si para conseguir fazer entrega de comida na casa das raposas. Se a raposa estiver com muita fome e papar o entregador, paciência. Ossinhos do ofício. Ainda assim, as galinhas são convocadas a defender as “regras do jogo”.

Em suma, não existe união possível entre raposas e galinhas sem que estas estejam a reboque daquelas. Infelizmente, não será com discurso de paz, amor e sensatez que a esquerda vai conseguir algum avanço. Emular o discurso da burguesia não sendo burguesia é a maior das tolices, tipica da esquerda pequeno-burguesa. O povo tem de saber reconhecer seu inimigo – e, com toda a certeza, nem por hipótese estará na mesma trincheira da burguesia.

Os analistas de discurso deveriam saber que não existe uma “terceira” via. Esse sim é um artifício discursivo. Existem dois lados, trabalho e capital. O capital pode inventar quantos subtipos e “vias” desejar, mas o trabalhador é sempre a parte explorada.

É lamentável que a esquerda pequeno-burguesa esteja tornando o Lula um refém das políticas de contenção que o imperialismo tão bem ensina nas suas universidades, sequiosas de receber em suas luxuosas instalações os estudantes da periferia do mundo. Estes, orgulhosos de seus diplomas estrangeiros, voltam a seus países propalando a mensagem do Tio Sam, embalada em discursos identitários e ambientalistas. Lula tem de ser o representante do povo brasileiro, não um embaixador das políticas imperialistas.

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