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Quem pode mentir?

Quem decide quem pode dizer o quê?

Parece claro que as “fake news” têm a ver antes com o seu autor que com o seu teor

O Judiciário brasileiro, aparentemente, está empenhado na cruzada contra as “notícias falsas” que possam interferir no resultado das próximas eleições. O jornal Folha de São Paulo informou seus leitores de que o ministro Alexandre de Moraes, o macho alfa do STF, que presidirá o TSE no período eleitoral, determinou a remoção de notícias falsas que relacionam o PT à facção criminosa PCC e ao assassinato de Celso Daniel, ocorrido em 2002, quando ele era prefeito de Santo André. Diante disso, a campanha do amor respira aliviada: estamos protegidos.

O jornal dá tom elogioso à rapidez da medida tomada pelo xerife do Judiciário e reproduz as palavras dele na decisão: “Há nítida percepção de que as mentiras divulgadas objetivam, de maneira fraudulenta, persuadir o eleitorado a acreditar que um dos pré-candidatos e seu partido, além de terem participado da morte do ex-prefeito Celso Daniel, possuem ligação com o crime organizado, com o fascismo e com o nazismo, tendo, ainda igualado a população mais desafortunada ao papel higiênico” [sic].

Dessa matéria, no entanto, sai um link, que remete a outro texto da própria Folha, publicado no mês de janeiro deste ano, o qual, a propósito de noticiar que “adversários de Lula” estão desenterrando velhas acusações ligadas à morte de Celso Daniel, apresenta, com invejável didatismo e riqueza de detalhes, toda a cronologia dos fatos de vinte anos atrás e todos os pontos que suscitam as desconfianças dos tais “adversários de Lula”.

A reportagem procurou a deputada Carla Zambelli, que, afetada pela decisão de Moraes, alegou que “a delação de Marcos Valério sobre as ligações de um partido político com uma facção criminosa foi amplamente divulgada na revista Veja”, o que é um argumento interessante pelo que traz nas entrelinhas. Resta saber do ministro se, na opinião dele, a revista Veja, que dispensa maiores considerações, também mente.

O que parece claro, a esta altura, é que as “fake news” têm a ver antes com o seu autor que com o seu teor. O jornalismo da burguesia não só diz como repete, no seu estilo coxinha, as mesmas coisas que acabaram de ser removidas das redes sociais da extrema direita por ordem judicial. Pode a Folha manter em suas páginas textos que suscitem dúvidas quanto à participação do PT na morte de Celso Daniel?

Em outras palavras, quem determina o momento e o jeito de esculhambar o Lula é a burguesia da “terceira via”, que vai manobrar para transferir votos dele para o seu candidato ou candidata, não para Bolsonaro. E, quem sabe, talvez o faça com uma mãozinha do todo-poderoso Alexandre, que, ao que tudo indica, é quem decide quem pode dizer o que e quando.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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